𝐗𝐈𝐈𝐈.

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          Bom, tive que dar uma pausa na escrita por um momento para ajudar o povo aqui, mas o importante é que eu estou de volta.

          Enfim, eu já estava com dor de cabeça por causa da puta do Daeg, então o melhor que eu pude fazer foi ficar calada e entrar em casa. No seu interior residia um ar humilde, que me acolhia carinhosamente. Os detalhes e bibelôs me levaram para casa novamente, me fazendo quase ouvir a voz da minha mãe gritando comigo porque não limpei meu quarto.

          Estava tudo organizado: a mesa de jantar estava impecável, na sala não havia poeira; os pratos estavam lavados, apenas secando naturalmente no escorredor. A vontade de chorar logo veio, mas o máximo que consegui foi dar uma leve lubrificada nos olhos.

          Seja lá quem estiver morando aqui... que se foda. A porra da casa é nossa agora. Bem, pelo menos foi o que eu pensei na hora.

          Subi as escadas, a procura de um quarto. Me acomodei no maior, o mais aconchegante, com uma cama de casal e decorações dignas de aplausos, ainda que singelas. Me sentei na cama, tirei meus sapatos e taquei o verdadeiro foda-se pra tudo. Eu havia acabado de acordar, mas ainda estava cansada, e simplesmente dormi... dormi até acordar naturalmente.

          O sol já estava se pondo, e novamente me deu vontade de tirar uma soneca junto com ele, mas não consegui. Um monte de coisa se passava na minha mente, enquanto meu corpo repousava naquele colchão que outrora pertencia a algum casal. Que merda. Eu sentia toda a energia impregnada ali naquele aposento. Uma energia esquisita... Mas tanto faz. Quando estamos necessitando de algo, não reclamamos.

          Eu mirava o teto hipnotizante, iluminado pela pouquíssima luz que o sol deixou para trás, imaginando fazer parte do mesmo. Ele começou a derreter, ondulando como se tivesse se dissolvendo. Aquilo estava acontecendo de novo. Era esquisito, mas ao mesmo tempo cativante. Olhei para as paredes, e elas estavam igualmente o teto, derretendo como cera.

          Fechei os olhos fortemente, na esperança de voltar tudo ao normal, mas aquilo estava longe de dar certo. Lutar contra sua própria sina pode ser frustrante...

          A dor de cabeça não havia ido embora, mas eu também já esperava. Talvez o fato de eu estar esperando que determinada parada aconteça, faça acontecer. Tudo acontece conforme projetamos dentro da nossa mente, e esperar algo que pode ou não acontecer, tem grandes chances de acontecer; por mais que você não saiba o que acontecerá no futuro, mas sabe que há uma probabilidade, então você sabe sim, justamente por você ter criado uma hipótese... enfim...

          Tenho que parar com isso... essa parada tá fodendo minha mente de novo... Deve ser por isso que eu sinto tanta dor de cabeça. É, a faculdade não era tão ruim, afinal de contas. Pelo menos eu estava focada no físico, e não em qualquer outra merda que se passava na minha mente perturbada. Eram cordas que me prendiam, mas me mantinham segura. Todos aqueles tons de cinza me faziam bem, mesmo eu não sabendo... Mas é aquilo: você só descobre o tesouro escondido quando não é mais você quem está procurando.

          Pensar demais faz mal... É tão difícil parar a chuva.

          Minha cabeça latejava, mas tudo voltava ao habitual. O quarto ficou sólido novamente, e com calma eu me pus de pé, calcei minhas botas e me juntei aos faladores na sala.

          — Finalmente você acordou. Pensei que já tinha morrido — Stefany disse.

          — Shhh... fala baixo — avisei. — Tô com dor de cabeça.

          — Ué, mas você dorme pra passar a dor — Rotten me dizia, como se não fosse óbvio.

          — Eu tenho um tumor cerebral — respondi.

☣ 𝐃𝐢𝐚́𝐫𝐢𝐨 𝐝𝐞 𝐮𝐦 𝐀𝐩𝐨𝐜𝐚𝐥𝐢𝐩𝐬𝐞 ✍Onde histórias criam vida. Descubra agora