Querido diário, hoje eu olhei para o céu e quase pude ver as estrelas em plena luz do dia — e é assim que se começa um filme de adolescentes virjões que não pegam ninguém.
Enfim, nem dormi direito hoje. Acordei no meio da noite sem nenhum motivo aparente, e daí para frente eu somente consegui dar uns cochilos, porque eu sonhava com umas paradas cabulosas. Então apenas decidi não dormir mais e fiquei acordada quase a madrugada inteira, ouvindo os mínimos ruídos noturnos ensurdecedores.
Além disso, eu estava morrendo de sede, mas não havia mais água na garrafa. Minha garganta seca ardia que nem o inferno, e por um momento cogitei evitar engolir a saliva. Dentro da barraca estava me sufocando, e com certeza eu ansiava pelo oxigênio de fora. Calcei minhas botas, pus um casaco e minhas calças, e saí, deitei na grama úmida e apreciei o verdadeiro céu noturno, sem poluições para impossibilitar ver os brilhos encantadores das estrelas.
O breu e a quietude no interior da casa e dos trailers não me seduziam tanto como do mundo fora destes. Meus olhos ardiam, e eu só queria o almejado descanso, mas eu não conseguia alcançá-lo por nada. Minha mente se negava a repousar-se, e uma guerra se originava ali.
"Pô, se for pra ficar acordada, vou fazer alguma coisa que preste", foi o que eu pensei. Ergui meu corpo pesado e executei uma tentativa falha de subir naquela árvore; entretanto não desisti, mas à medida que eu tentava, eu me lembrava do Daeg se esforçando em fazer a mesma coisa. Eu admito que ri um bocado com essa lembrança, mas ninguém pode saber.
Enfim, eu já me encontrava sentada em seu galho (lá ele). Eu ainda estava com muita sede, mas não tinha nada que eu pudesse fazer, a não ser aceitar. Essa é a resposta para tudo, mas por muitas vezes eu esqueço, regressando para onde tudo começou, esquecendo da minha verdadeira essência. Sabe, o caminho de volta é sempre prazeroso, mas é uma pena que eu tenha que me deslocar tanto.
De repente eu escutei uma voz desconhecida ao longe, extremamente apaziguada, e então eu acordei. Ainda em cima da árvore, vi os pássaros voando de volta para seus ninhos; e o sol, em mais uma de inúmeras manhãs, me deu bom dia.
Olhei para o lado, e alguém estava vindo em minha direção. Era só a Laura. Ainda um pouco adormecida, tentava entender como eu consegui dormir em cima de uma árvore, ao mesmo tempo que eu tirava o casaco. A noite foi fria, mas o dia é o contrário. Dou uma respirada profunda, e uma das minhas narinas estava entupida. Ô porra.
— O que você tá fazendo aí, menina? Procurando sarna pra se coçar uma hora dessas? — Ela parou à frente, com as mãos na cintura, parecendo a Mulher Maravilha.
— Eu acho que eu dormi aqui — eu expliquei a ela, mas por conta da sonolência, a mesma não entendeu o que eu havia dito, me fazendo repetir.
— Você é doida... Não vou nem discutir mais. — Desci da árvore, me desequilibrando e quase caindo. Ao me espreguiçar, me lembrei de uma parada quase que urgente que eu precisava falar pro pessoal.
— Véi, preciso falar com os caras. — E parti em disparada, deixando minha amiga para trás, que também corre às minhas costas, querendo saber o porquê de toda aquela correria. Limpando sua pistola, Jack ficou assustado ao me ver também alarmada, e se levantou em um pulo.
— O que aconteceu?
— Preciso te falar uma coisa — eu dizia na entrada do trailer.
— E o que é?
— É sobre essas pessoas.
— Você também tá tendo um pressentimento fodido?
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☣ 𝐃𝐢𝐚́𝐫𝐢𝐨 𝐝𝐞 𝐮𝐦 𝐀𝐩𝐨𝐜𝐚𝐥𝐢𝐩𝐬𝐞 ✍
Horror☣ Saindo de seu país natal, três amigas deixam tudo para trás em busca de uma nova vida em terras distantes. Mas mal sabiam elas do azar quase fatal que aguardavam-nas à espreita. O que deveria ser um recomeço, se transforma em u...