O Legado das Chamas- Jacaerys Velaryon

O Jantar na Corte

Era a terceira noite desde minha chegada a Pedra do Dragão, e eu ainda sentia um frio persistente no fundo da alma. As chamas das tochas lançavam sombras trêmulas nas paredes antigas, como se os espíritos dos Targaryen do passado estivessem dançando em um balé sombrio. Os corredores ecoavam com o murmúrio de conversas discretas e a agitação da corte se preparando para mais um jantar formal. Eu sabia que essa noite seria diferente. Estava claro que minha presença ali era uma curiosidade, um jogo de poder e, talvez, um risco calculado.

As portas do grande salão foram abertas com uma cerimônia silenciosa, revelando uma visão que não deixava dúvidas sobre a grandiosidade da Casa Targaryen. Uma mesa suntuosamente adornada ocupava o centro do salão, ladeada por cadeiras esculpidas em madeira escura e decoradas com símbolos dracônicos. Rhaenyra Targaryen, a rainha autoproclamada, estava no centro de tudo, irradiando uma presença que combinava majestade e uma força indomável.

Foi nesse cenário impressionante que avistei Jacaerys Velaryon, o filho mais velho de Rhaenyra. Ele estava ao lado de sua mãe, sua figura alta e esguia destacando-se entre os demais cortesãos. Seus olhos castanhos, tão diferentes dos típicos olhos violeta dos Targaryen, estavam fixos em mim com uma intensidade que me deixou ligeiramente desconfortável. Mas eu sabia que esse desconforto era um preço pequeno a pagar pela informação e pela conexão que eu poderia ganhar naquela noite.

Enquanto nos sentávamos à mesa, a conversa era leve, quase superficial. Discussões sobre a última colheita, os rumores de novas alianças no Norte, e o eterno debate sobre a supremacia dos dragões. Eu participava, sorrindo e acenando, mas minha mente estava focada em um único objetivo: compreender o homem que estava sentado a poucos lugares de mim, o herdeiro de Rhaenyra, Jacaerys.

Quando os pratos principais foram servidos, uma oportunidade surgiu. Rhaenyra, envolta em uma conversa animada com um de seus conselheiros, deixou um espaço de silêncio entre nós. Jacaerys, aproveitando a pausa, inclinou-se em minha direção, suas feições suaves iluminadas pela luz das velas.

"Lady Alyssa, acredito que ainda não tivemos a chance de conversar de verdade," ele disse, sua voz era uma mistura de curiosidade e formalidade.

Eu sorri, acenando com a cabeça. "De fato, príncipe Jacaerys. Estou ansiosa para saber mais sobre sua vida aqui em Pedra do Dragão."

Ele sorriu, um gesto que parecia quebrar um pouco da formalidade que pairava entre nós. "A vida aqui é... intensa, para dizer o mínimo. Cada dia traz novos desafios, especialmente agora, com a guerra se aproximando cada vez mais."

"Compreendo," respondi, tomando um gole de vinho para dar-me um momento para pensar. "As responsabilidades de uma família tão poderosa devem ser esmagadoras às vezes."

Jacaerys assentiu, e por um momento, seus olhos brilharam com uma emoção que parecia estar sempre escondida sob a superfície. "Sim, a pressão é enorme. Há sempre expectativas, sempre a necessidade de ser forte, de liderar. Às vezes, sinto que estou vivendo a vida para outros, e não para mim mesmo."

Suas palavras ressoaram em mim de uma maneira que não esperava. "Eu entendo o que quer dizer. Viver para as expectativas dos outros pode ser uma carga pesada. Mas acredito que é nessas responsabilidades que encontramos nosso verdadeiro propósito."

"Você fala como alguém que também carrega um grande fardo," ele disse, seu olhar fixo no meu, como se estivesse tentando decifrar um segredo escondido.

"Minha família tem suas próprias expectativas e pressões," confessei, deixando minha voz baixar. "Estar aqui, em território inimigo, é uma responsabilidade e um risco que assumo em nome daqueles que amo e desejo proteger."

Jacaerys pareceu absorver minhas palavras com uma atenção intensa. "É corajoso de sua parte estar aqui, Lady Alyssa. E um tanto... intrigante. O que espera alcançar com essa visita?"

"Esperança," respondi, sem hesitar. "Espero que possamos encontrar uma maneira de resolver nossas diferenças sem mais derramamento de sangue. Espero que possamos descobrir que, apesar de estarmos em lados opostos, ainda somos capazes de ver a humanidade uns nos outros."

"Isso seria algo," ele disse, sua voz carregada de um peso que me fez perceber o quão difícil isso seria. "Mas em tempos de guerra, a esperança pode ser uma moeda difícil de gastar."

A conversa continuou, fluindo entre os temas de responsabilidades familiares e as pressões de liderar em tempos de guerra. Cada palavra trocada parecia construir uma ponte frágil entre nós, uma conexão que, mesmo em meio à desconfiança e à guerra, prometia algo mais profundo e significativo.

Quando o jantar terminou, deixei o grande salão com um misto de emoções. Jacaerys Velaryon era mais do que apenas um herdeiro Targaryen; ele era um jovem que, como eu, buscava encontrar seu lugar em um mundo que parecia estar desmoronando. E talvez, apenas talvez, nossa aliança pudesse ser a chave para um futuro mais brilhante e menos sangrento.