A Aliança Forjada no Fogo

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Amanheceu um dia cinzento em Pedra do Dragão. O vento soprava frio sobre as torres, trazendo consigo o cheiro salgado do mar e um presságio de tempos difíceis. A primeira luz do dia iluminava os salões de pedra da fortaleza, refletindo nas bandeiras desbotadas que flutuavam tristemente no ar. Eu, ainda envolta nos lençóis de linho fino da noite anterior, não imaginava o peso que o novo dia traria.

Jacaerys e eu nos dirigimos ao salão de refeições, onde um banquete matinal nos esperava. Frutas frescas, pães quentes e carnes defumadas enchiam a mesa de madeira escura. Jacaerys parecia perturbado, seus olhos castanhos, geralmente tão vivos e cheios de determinação, estavam sombrios, carregando o peso de uma revelação que parecia lhe corroer por dentro.

Ele se sentou diante de mim, seu olhar fixo na xícara de chá fumegante que segurava entre as mãos. A atmosfera estava carregada de uma tensão que eu não podia entender totalmente, mas podia sentir no ar. Algo terrível estava prestes a ser dito.

"Jacaerys, o que está te perturbando tanto?" perguntei, minha voz mal conseguindo esconder a preocupação.

Ele levantou os olhos para me encarar, e por um momento, a dor e a fúria em sua expressão foram quase palpáveis. "Alyssa, preciso te contar algo... algo que mudará tudo entre nós e nossa posição neste conflito."

Segurei sua mão sobre a mesa, tentando transmitir alguma forma de conforto e força. "O que quer que seja, enfrentaremos juntos. Você sabe disso."

Ele respirou fundo, como se estivesse se preparando para um mergulho em águas geladas. "Alyssa, meu irmão Lucerys foi morto por Aemond."

O impacto de suas palavras atingiu-me como um soco no estômago. A morte de Lucerys, seu irmão mais novo, era uma perda profunda e dolorosa. Mas o que mais me abalou foi saber que Aemond, meu próprio sobrinho-neto, estava envolvido. "Meu Deus, Jacaerys, sinto muito. Não sabia..."

"Isso não é tudo," continuou ele, seus olhos agora ardendo com uma fúria contida. "Foi por isso que Daemon, meu padrasto, ordenou a morte de Visenya. O ataque à Fortaleza Vermelha foi apenas um disfarce. Eles queriam vingança, e Visenya foi o alvo escolhido."

A revelação fez meu coração parar por um instante. Visenya, a mulher que havia se tornado uma amiga e confidente, morta em um jogo cruel de vingança. Sentia uma raiva surda crescer dentro de mim, não só pela perda de Visenya, mas pela manipulação vil e cruel que nos envolvia a todos. "Não posso acreditar que Aemond tenha feito isso. E pensar que minha própria família está envolvida nesta carnificina..."

Nos dias que se seguiram, Jacaerys e eu começamos a trabalhar juntos em questões políticas e militares. Nosso vínculo, já fortalecido pela intimidade recém-descoberta, agora era temperado pela necessidade urgente de justiça e pela dor da perda.

Cada manhã, nos encontrávamos na sala de guerra, uma câmara austera adornada com mapas e bandeiras, onde os comandantes de Pedra do Dragão planejavam suas estratégias. Sentados ao redor de uma grande mesa de carvalho, discutíamos as movimentações dos exércitos, as alianças a serem feitas e as medidas de defesa necessárias para proteger nosso território.

"Precisamos fortalecer nossas fronteiras ao norte," sugeriu Jacaerys, apontando para o mapa com uma firmeza que traía sua determinação. "Os Verdes podem tentar outro ataque, e precisamos estar prontos."

"Concordo," respondi, minha mente já trabalhando nas possíveis medidas de segurança. "Mas também precisamos garantir que nossas alianças estejam firmes. Se perdermos o apoio de um só aliado, poderemos estar em perigo."

A pressão do conflito nos unia, forjando um laço que se fortalecia a cada dia. Jacaerys e eu nos tornávamos não apenas parceiros de casamento, mas também aliados de guerra, lutando lado a lado por um futuro que parecia cada vez mais incerto.

As noites eram um momento de reflexão e renovação. Deitados juntos, após os dias exaustivos de planejamento e discussão, compartilhávamos nossos medos e esperanças, tentando encontrar algum consolo no fato de que, ao menos, tínhamos um ao outro.

"Jacaerys, eu temo pelo que está por vir," admiti uma noite, minha voz quebrando o silêncio do quarto. "A guerra, a traição... parece que estamos lutando contra sombras que se movem nas trevas."

Ele apertou minha mão com firmeza, seus olhos fixos nos meus. "Eu também temo, Alyssa. Mas sei que, enquanto estivermos juntos, poderemos enfrentar qualquer coisa. Você me dá força, e é essa força que nos manterá firmes."

Seu toque, sua presença, eram um farol de esperança em meio à escuridão que nos cercava. E naquele momento, soube que, independentemente do que o futuro nos reservasse, estaríamos prontos para lutar. Juntos.

O Legado das Chamas- Jacaerys VelaryonOnde histórias criam vida. Descubra agora