O Legado das Chamas- Jacaerys Velaryon

Laços Forjados no Campo de Treinamento

Os primeiros raios de sol mal tocavam as muralhas negras de Pedra do Dragão quando eu cheguei ao campo de treinamento. O ar da manhã estava fresco, e a brisa marinha trazia um toque salgado que parecia revigorar a alma. Havia uma quietude no ar, quebrada apenas pelo som ocasional de espadas se chocando e ordens abafadas dos treinadores.

Hoje seria um dia importante. Jacaerys Velaryon havia me convidado para um treino, algo que inicialmente me surpreendeu, mas que aceitei com uma mistura de curiosidade e determinação. Sabia que, em tempos de guerra, forjar laços através do aço poderia ser tão importante quanto qualquer aliança política.

Eu vesti minhas roupas de treino, uma armadura leve que permitia liberdade de movimento, e prendi meus cabelos para evitar distrações. Minha mente estava focada, preparada para enfrentar o jovem príncipe que, aos olhos da corte, era um símbolo de poder e promessa. Mas, para mim, ele era um enigma que eu estava determinada a desvendar.

Quando cheguei ao campo, Jacaerys já estava lá, praticando com uma espada que brilhava ao sol nascente. Ele era ágil, seus movimentos fluidos e precisos, como se estivesse dançando com a lâmina. Havia uma graça quase predatória em seus gestos, uma habilidade que eu não esperava de um jovem nobre.

"Bom dia, Lady Alyssa," ele me cumprimentou, parando seu treino e oferecendo um sorriso que não parecia deslocado, apesar da espada em sua mão.

"Bom dia, príncipe Jacaerys," respondi, fazendo uma reverência leve, mais por hábito do que por necessidade. "Pronta para ver o que você tem?"

Ele riu, um som caloroso que parecia aliviar a tensão que pairava no ar. "Vamos ver se você consegue me acompanhar, então."

Nós nos posicionamos, e eu empunhei minha própria espada, sentindo o peso familiar em minha mão. Tínhamos uma área isolada para nós, cercada por alguns guardas e observadores curiosos. O treino começou devagar, com movimentos de avaliação, cada um de nós testando os limites do outro.

Jacaerys avançou primeiro, um golpe direto que bloqueei facilmente. Ele era forte, mas eu também era. Nosso treino era um balé de aço e estratégia, cada movimento uma conversa silenciosa sobre força, habilidade e respeito mútuo. À medida que nos movíamos, eu podia sentir a admiração dele crescendo, assim como a minha própria curiosidade.

"Você é melhor do que eu esperava," ele disse entre ataques, seu sorriso nunca desaparecendo totalmente.

"Eu poderia dizer o mesmo de você," retruquei, desviando de um golpe e contra-atacando com um movimento rápido que o pegou desprevenido.

A luta continuou por algum tempo, ambos nos empurrando para além de nossos limites. Eu podia ver a determinação em seus olhos, um reflexo do meu próprio desejo de provar a mim mesma. Ele não estava apenas testando minha habilidade; estava tentando entender quem eu era e o que eu representava.

Finalmente, quando ambos estávamos ofegantes e suados, ele abaixou a espada e sorriu. "Acho que já treinamos o suficiente por hoje. Você é uma adversária formidável, Lady Alyssa."

"Obrigada, príncipe Jacaerys. Você também não é nada mal," respondi, tentando não demonstrar o cansaço que sentia.

Nós nos sentamos à sombra de uma árvore próxima, bebendo água e recuperando o fôlego. Enquanto descansávamos, o silêncio entre nós parecia carregado de algo não dito, uma conexão que se formava lentamente.

"Por que está aqui, de verdade?" ele perguntou, olhando para mim com uma intensidade que eu não esperava.

Eu considerei minhas palavras cuidadosamente antes de responder. "Estou aqui porque acredito que ainda há esperança de resolver nossos conflitos sem mais derramamento de sangue. E talvez porque, no fundo, quero entender melhor quem são as pessoas que estamos prestes a enfrentar."

Ele assentiu lentamente, como se ponderasse minhas palavras. "Você é corajosa, Alyssa. Mais corajosa do que muitos aqui, inclusive eu. Espero que possamos encontrar uma maneira de evitar mais mortes. Mas não será fácil."

"Eu sei," respondi, olhando para o horizonte onde o sol começava a se levantar completamente. "Mas mesmo em tempos sombrios, precisamos acreditar que a luz pode prevalecer."

Enquanto nos levantávamos para voltar ao castelo, senti que algo havia mudado entre nós. Não éramos mais apenas adversários políticos; éramos aliados relutantes em uma batalha que estava prestes a mudar o destino de todos nós. E naquele momento, entre a espada e o sol, uma amizade improvável começou a florescer, forjada no calor do treino e na esperança de um futuro mais brilhante.