Time Bomb - THIAM | hiatus.

0.4

Theo parou de amar seus pais desde pequeno.

Laura sempre é um assunto delicado, quase a mesma sensação de dizer o nome de alguém importante que faleceu. Já Jonathan é um assunto... Irritante. Tudo que Theo acaba lembrando dele é contra sua vontade, pois ele vomitou o nome do seu pai em uma caçamba de lixo e, desde então, nunca mais falou sobre.
Jonathan está com o coração batendo, o sangue circulando pelas veias em algum lugar de Nova York, mas para Theo ele está morto. Enterrado em um cemitério indigente, abandonado para sempre, sem sequer deixar uma rosa ou uma flor murcha que ele pegou do chão para trás. Jonathan merece ser esquecido até por Deus ou Lúcifer, se eles existirem.

"Não lembrar do papai" é um tipo de mecanismo de defesa que Theo enfiou na própria cabeça com nove anos. Ele se lembra de estar naquela posição estranha, sentado sem realmente estar com a bunda no chão e usando toda a força das pernas para aguentar o próprio peso e encarar as formigas subindo por suas sandálias surradas e imundas enquanto se convencia de esquecer ele, o excluir de sua memória. Sempre que seu nome era citado, Theo se encolhia e cobria os ouvidos porque ele não poderia se lembrar. Ele não merecia e ainda não merece lembrar-se do cara que persistiu em seus pesadelos, que fez de sua infância um verdadeiro filme de terror.

Essa "configuração de fábrica" de Theo ainda existe, mas esquecida. Theo não pode ouvir o nome de Jonathan, ele ainda se encolhe e cobre os ouvidos, ainda se recusa a escutar mas...
Mas ele não se lembra disso. Ele não repete "esqueça ele" igual o pequeno Theodore fazia, ele conseguiu o que tanto queria e o que tanto lutou para fazer: esquecer Jonathan.

Mas agora ali estava ele, apanhando porque ele está permitindo e lembrando.

— Liam, Liam! — Scott repetia, dando sua vida e toda a sua força de capitão do time de lacrosse para o segurar, o que não parecia adiantar de nada. Liam só aparentava ficar mais irritado e descontrolado e, de alguma forma mágica, conseguia se soltar do irmão e de Stiles.

— Liam! — Érica foi a próxima a tentar, agarrando diretamente o pescoço dele e tentando arranhar e apertar com suas enormes unhas bem feitas em um vermelho tão escuro que parecia preto. Liam mordeu o braço dela e, então, deu um empurrão nela com os cotovelos. — Porra, seu merdinha!

— Não xinga meu irmão!

— Então controle-o, oras!

Theo é forte, o tamanho dos seus braços honestamente não é brincadeira e mesmo que isso seja um benefício, ainda é uma lembrança do papai que Theo enfiou no fundo do seu consciente, na esperança de nunca lembrar das palavras maldosas que ouvia todo dia. Jonathan sentia prazer em deixar explícito que Theo aparentemente era um viadinho inútil e fraco que não consegue proteger a própria irmã. Theo começou a treinar depois disso, pra provar que ele estava errado e, principalmente, proteger Tara das suas garrafas de álcool que sempre acabavam vazias e quebradas.

Theo deveria conseguir derrubar Liam, deveria conseguir inverter as posições, subir por cima dele e revidar as porradas, mas ele simplesmente não consegue. Ele não sabe se Liam só é assustadoramente forte ou se ele simplesmente está deixando.

As lembranças que Theo lutou tanto para esquecer surgiram no instante em que Liam lhe empurrou naquele dia, um hábito que seu pai tinha. Theo ficou tão... E depois, Liam lhe mostrou a câmera nova, a figurinha de borboleta tão pequena e tão "Tara vibes" que o incomodou. Ele deveria ter aceitado, agradecido e esquecido esse assunto para lá, mas ele não podia.
Era como se uma força maior tivesse sussurrado todas as palavras maldosas do seu pai em seu ouvido e, instantaneamente, Theo repetiu-as.

"Quem você pensa que é?" Ele gritou, apontando um dedo na cara de Liam, alguns fios do seu cabelo loiro escuro roçando em seus dedos. "Você quebrou a porra da coisa mais importante pra mim, você sabia que era importante e pensa que pode comprar uma nova pra substituir isso? Pra me pedir desculpas?" Ele gritou mais e mais, mas Liam não parecia ouvir nada e isso o deixava mais irritado. Ele se lembrou de quando seu pai costumava gritar com ele e com Tara, mas Theo se esforçava para não escutar e apenas definir os cachos da irmã. A lembrança o irritou. "Você não passa de um muleque egoísta pra caralho, porra! Tudo que eu fiz foi jogar um pouco de tinta na sua pintura estúpida e-" e antes que pudesse terminar, ele estava no chão, deixando-se apanhar porque ele merecia.