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Essas coisas de “pessoas têm cheiros específicos” é tudo mentira.

Com o nariz enterrado no pescoço de Theo, sem nem conseguir respirar direito, Theo tem cheiro de… pele. Não é nem sequer um cheiro específico, é um cheiro comum que todos nós estamos familiarizados, apenas um resquício do sabonete de frutas cítricas de Theo sumindo conforme a madrugada passa.

Ele não tem cheiro de baunilha ou de alguma fruta específica tipo maracujá, mas Theo ainda cheira bem. É viciante de certa forma, algo que Liam nunca sentiu, exceto na pele de Theo, algo que ele poderia ansiar pelo resto da vida. Ele respirou fundo, exalando seu perfume natural outra vez sem abrir os olhos, mantendo a fantasia de estar dormindo, suas unhas ainda cravadas nos braços de Theo—porque Liam se mexe muito enquanto dorme, sabe.

Mas ele parou qualquer coisa (no caso, ficar cheirando Theo) que estava fazendo quando Theo decidiu se mover. O silêncio absoluto, exceto por grilos em volta deles deixava qualquer barulho muito mais alto, então Liam pôde se concentrar melhor: Theo arrastou duas coisas no telhado que Liam não abriu os olhos para identificar, depois um som baixo de uma espécie de caixa se mexendo que Liam não conseguia reconhecer exatamente o que era, até o barulho do isqueiro sendo usado e de algo queimando, junto com um sopro respondeu suas perguntas.

Não demorou muito para o cheiro desconfortável do cigarro invadir o cheiro natural de Theo, mas honestamente, Liam poderia se acostumar com o cheiro do Marlboro se ele continuasse agarrado nele.

Ele podia ouvir o cigarro queimar sempre que Theo tragava, e também conseguia ouvir sempre que ele engolia em seco e sua perna arrastava no telhado. Quando Liam decidiu se desconcentrar dos sons, ele sentiu o carinho de Theo em suas costas, a ponta dos seus dedos desenhando espirais como se estivesse brincando na areia—um cuidado e lentidão absurdos, com medo da areia se desmanchar em mãos.

“Meu deus.”

— Você sabia que… — Theo iniciou e Liam suspirou, vendo que seu teatro para fingir que estava dormindo não funcionou. Como ele sequer sabia que Liam havia acordado? Ele era um ninja ou algo assim? — Éramos gêmeos?

Bem, não adiantaria de nada continuar fingindo estar dormindo, então Liam se afastou do pescoço de Theo e descansou a cabeça no braço que havia em volta de si, finalmente abrindo os olhos. Sua visão borrada e sonolenta deixou tudo em sua volta mais confuso, mas Liam conseguia ver Theo olhando para o céu escuro da madrugada, tragando mais uma vez. Até com a visão de um bêbado, Liam conseguia ver como o filho da puta era lindo.

— Ela era idêntica a mim, só que os olhos eram mais abertos, consequentemente pareciam maiores.

Liam bocejou, coçando um dos olhos. O carinho em suas costas fez o sono voltar de repente, justo no momento que ele não deveria dormir. Incrível.

— Quando ela ficava doente, o nariz dela ficava vermelho — Theo piscou, dando um último trago no cigarro. O aperto em suas costas e ombros ficou mais fraco, então Liam aproveitou o momento para sentar no telhado, vendo Theo seguir seus passos enquanto soprava a fumaça. Ele olhou com seu tom de hazel profundo e brilhante com a luz da lua, inchados por aparentemente também ter acordado pouco tempo antes para Liam, um sorriso cansado descansando em seus lábios. Liam suspirou, porque era inacreditável que alguém conseguisse ser tão lindo assim. — E ela era muito teimosa, sabe? — ele disse, seu sorriso tímido mas maior, os olhos cheios de lágrimas ameaçando cair. Liam sabia como era essa sensação: sorrir e/ou chorar com uma lembrança boa mas ao mesmo tempo triste.

Então Theo piscou, uma função comum do ser humano, mas que fez duas lágrimas deslizarem. Seus lábios tremiam, provavelmente tentando manter o sorriso intacto enquanto olhava para Liam.

Time Bomb - THIAM | hiatus.Onde histórias criam vida. Descubra agora