Sombra do passado

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Yamaguchi

- Suga - chamo sua atenção. Era final da tarde, e já estávamos organizando as coisas para irmos embora.

- Sim? - diz ele, se virando para mim. - Como posso te ajudar?

- Na verdade... - suspiro, hesitante. - Eu ia te oferecer ajuda... sabe, com Daichi.

Sua expressão fica surpresa, mas isso não impede que ele sorria levemente.

- As coisas não deram certo entre mim e Tsuki naquela vez, mas seus conselhos foram muito úteis. Por que não tentou com Daichi?

Sugawara pausa por um momento, olhando para o horizonte onde o sol começava a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa.

- Eu pensei nisso, Yamaguchi - ele finalmente responde. - Mas, às vezes, o que precisamos é de tempo para nós mesmos, para entender nossos próprios sentimentos antes de tentar algo com outra pessoa.

- Você acha que Daichi precisa desse tempo? - pergunto, curioso.

- Acho que meu tempo com ele já passou - ele respira profundamente antes de continuar. - Ontem ele me disse que estava saindo com a Michimiya. Lembra dela, não é?

Sinto um aperto no peito ao ouvir isso. Michimiya, a capitã do time de vôlei feminino, sempre foi uma presença vibrante e alegre ao redor de Daichi.

- Sim, eu lembro - respondo, tentando manter a voz neutra. - Eles sempre foram próximos, não é?

- Sim, e parece que essa proximidade evoluiu para algo mais - Sugawara diz, olhando para o chão. - Eu estou feliz por ele, de verdade. Só que... - Ele hesitou, buscando as palavras certas.

- Só que dói um pouco, não é? - completo por ele, conhecendo bem a sensação.

- Exatamente - ele confirma com um aceno. - Mas é a vida, não é? As pessoas seguem em frente, encontram novos caminhos, novos amores. E nós também devemos fazer o mesmo.

- Você está certo - digo, sentindo uma determinação crescente. - E quanto a você, Suga? Vai seguir em frente também?

- Vou tentar - ele diz com um sorriso triste. - Afinal, não podemos nos prender ao passado para sempre.

Ouço a última frase com um pesar no coração. Tsuki e eu estivemos separados por tanto tempo... Será que aquele selinho ainda o prendia de alguma forma ao nosso passado, ou ele só lembrava de toda a nossa amizade? Aquele selinho do passado e um simples beijo na bochecha até chegar na porta de casa onde morava com meus pais.

Enquanto caminho pelas ruas tranquilas, as lembranças daquele dia voltam à tona. O céu estava tingido de laranja e rosa, um pouco mais escuro, e o ar estava frio.

Agora, parado diante da porta de minha antiga casa, sinto a necessidade de confrontar essas memórias. Com um suspiro, tomo uma decisão. Não vou deixar que o medo do desconhecido me impeça de buscar respostas. Afinal, como Suga disse, não podemos nos prender ao passado para sempre. E talvez, apenas talvez, Tsuki e eu possamos nos tornar amigos novamente. Aceitaria isso se pudesse ter-lo ao meu lado.

Recomeço - TsukiyamaOnde histórias criam vida. Descubra agora