Chuva

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Tsukishima

Olho a chuva lá fora enquanto encaro o papel. A água desliza pela janela, cada gota uma lembrança, um eco do passado. Não me sentia pronto para encarar o Yamaguchi, não depois de tudo o que aconteceu.

A carta de Daichi, com o convite para o reencontro, pesa em minhas mãos como chumbo. Eu deveria estar ansioso, empolgado até, mas tudo o que sinto é uma hesitação que me consome. Yamaguchi... ele sempre foi capaz de ler através de mim, de ver as camadas que eu escondia do mundo.

"Tsukki, você vem, certo?" A voz de Daichi no telefone ainda ressoa em minha mente. Eu tinha dado uma resposta evasiva, algo sobre verificar minha agenda, mas a verdade é que eu estava evitando a decisão.

Yamaguchi, com seu sorriso gentil e sua paciência infinita, tinha sido mais do que um amigo para mim. Ele tinha sido meu porto seguro em um mundo que muitas vezes parecia demasiado caótico. E eu? Eu tinha sido o mesmo para ele?

A última vez que nos vimos, as palavras ficaram presas em minha garganta, e eu parti sem olhar para trás. Agora, o reencontro se aproximava, e com ele, a possibilidade de redenção.

"Yamaguchi, estou chegando," penso, tentando direcionar meus pensamentos para outro lugar.
As luzes, os sons, tudo parece distante. Minha mente está focada em uma coisa: o reencontro. O que direi a Yamaguchi? Como ele vai reagir ao me ver?

Sei que preciso dormir, mas a possibilidade de me deitar agora parece distante. A ansiedade pelo reencontro é como uma corrente elétrica, pulsando através de mim, mantendo-me acordado. O relógio marca as horas, mas cada tic-tac só reforça a expectativa do que está por vir.

Levanto-me e caminho até a janela, observando a cidade adormecida. A chuva parou, mas as gotas ainda brilham nas ruas, refletindo as luzes dos postes. É uma cena tranquila, mas meu coração está longe de estar calmo.

"É só um reencontro," repito para mim mesmo, mas as palavras soam vazias. Não é "só" um reencontro. É um mergulho nas águas da memória, um confronto com sentimentos há muito guardados.
Talvez uma caminhada ajude, penso. O ar fresco da noite pode ser o bálsamo que preciso para acalmar os pensamentos e preparar-me para o sono. Coloco um casaco e saio, deixando que a quietude da noite me envolva.

A cidade à noite tem um ritmo diferente, e enquanto caminho, sinto a tensão começar a se dissipar. Quando retorno, finalmente, sinto que posso enfrentar o reencontro - e o que quer que ele traga.
Deito-me, e desta vez, o sono vem, levando-me para um mundo de sonhos onde o passado e o presente se encontram, onde velhos amigos esperam com sorrisos abertos e corações aquecidos pela passagem do tempo.

Recomeço - TsukiyamaOnde histórias criam vida. Descubra agora