Súbita proximidade

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Tsukishima

- Ótimo, estou atrasado - murmuro para mim mesmo, uma pontada de irritação misturada com ansiedade.

O elevador parece se mover em câmera lenta, cada andar que passa aumenta a tensão em meus ombros. "Como vou reagir ao encarar aqueles olhos?" A pergunta ecoa em minha mente, um mantra involuntário.

A mensagem de Hinata ainda está fresca na minha memória, suas palavras digitadas com a mesma empolgação que ele sempre teve. "Ele está aqui, Tsukki! E ele está incrível!" A descrição de Yamaguchi, com sua calça jeans e blusa polo verde, faz meu coração bater mais rápido. "Combinando perfeitamente com seus cabelos," Hinata tinha escrito, e eu posso visualizar perfeitamente, mesmo sem querer.

O ding suave do elevador chega como um sinal, e as portas se abrem. Respiro fundo, dou um passo para fora, e me dirijo ao apartamento de Daichi. "É agora," penso, enquanto minha mão se levanta para bater na porta.

Ao entrar no apartamento de Daichi, percebo que sou o último a chegar. O lugar está repleto de risadas e conversas animadas, uma cacofonia familiar que me faz hesitar na soleira da porta. Não é surpresa ver Asahi e Nishinoya juntos; algo sobre eles sempre sugeriu uma conexão mais profunda do que a amizade.

Cumprimento cada um dos meus antigos companheiros de equipe, sentindo uma mistura de nostalgia e conforto ao trocar apertos de mão e abraços. Sugawara com seu sorriso acolhedor, Tanaka com sua energia inabalável, Kageyama e Hinata com sua rivalidade amigável que nunca pareceu diminuir.

E então, lá está ele. Yamaguchi. Ele não mudou muito - ainda tem aquele mesmo ar de tranquilidade, a mesma postura calma. Mas há algo diferente também, uma confiança recém-descoberta que o envolve como uma nova pele.

Me aproximo, e nossos olhares se encontram.

- Yamaguchi - digo, e meu uso de seu sobrenome parece ressoar mais do que pretendia.

- Tsukishima - ele responde, e há um calor em sua voz que me faz questionar por que demorei tanto para estar aqui.

O reencontro, agora completo com minha chegada, se transforma em uma celebração não apenas do que fomos, mas do que nos tornamos. E enquanto a noite avança, sei que esses laços, forjados em quadras de vôlei e solidificados através do tempo, permanecerão inquebráveis.

- É bom te ver - diz ele, olhando para o chão.

- Igualmente - respondo, sentindo uma pontada de constrangimento.

Enquanto os outros retomam suas conversas, percebo que a varanda está agora desocupada, oferecendo um refúgio tranquilo do burburinho do reencontro.

- Vamos conversar lá fora? - sugiro, indicando a varanda com um aceno de cabeça.

Yamaguchi concorda com um aceno, e nos afastamos do grupo, buscando a quietude da noite. A porta de vidro desliza com um sussurro, e o ar fresco da noite nos saúda. A cidade está iluminada abaixo de nós, um mar de luzes que parece distante e indiferente aos dramas humanos.

Encostamos no parapeito, e por um momento, apenas o som da cidade preenche o espaço entre nós.

- Como você está? - ele pergunta, finalmente levantando os olhos para me encontrar.

- Estou... bem - respondo, e é a verdade, mais ou menos. - E você?

Ele sorri, um sorriso que sempre pareceu iluminar as sombras.

- Melhor agora - diz, e há algo na simplicidade de sua resposta que faz meu coração bater mais rápido.
A conversa flui, hesitante no início, mas ganhando confiança à medida que as palavras começam a preencher os anos de silêncio. Falamos sobre o passado, sobre o presente, e talvez, apenas talvez, sobre um futuro que ainda podemos construir juntos.

- Acho que deveríamos marcar algo, só nós dois - sugiro, captando a hesitação em seu olhar. - Depois de anos, acho que uma noite não será suficiente para colocar a conversa em dia.

Ele me olha, e há uma batalha visível em seus olhos, o conflito entre o desejo de reconectar e o medo do que isso pode significar.

- Cl-claro - ele gagueja, e um rubor se espalha por seu rosto, revelando mais do que suas palavras poderiam dizer.

- Ótimo - digo, tentando manter minha voz estável. - Vamos fazer isso então.

Ele assente, e há um brilho de algo que parece muito com esperança em seus olhos.

- Sim, vamos fazer isso.

E com esse pequeno acordo, sentimos que um novo capítulo está começando a se desenrolar, um capítulo que talvez possa curar as feridas do passado e abrir caminho para um futuro compartilhado.

A noite avança com uma facilidade que só a familiaridade pode trazer. Conversamos sobre os velhos tempos, aqueles dias de ensino médio que parecem tão distantes quanto incrivelmente próximos. Trocamos contatos, prometendo não deixar que o tempo e a distância nos separem novamente.

Tanaka, com um brilho de orgulho nos olhos, compartilha a notícia de que será pai. A alegria é imediata, todos celebramos com ele, imaginando o tipo de pai enérgico e amoroso que ele será.
E quando a noite começa a se despedir, faço uma sugestão impulsiva, mas sincera.

- Posso te acompanhar até a sua estação, Yamaguchi? - Sei que isso me atrasará, mas a verdade é que não quero que essa conexão recém-restabelecida termine com o fim da festa.

Ele parece surpreso, mas um sorriso grato aparece em seu rosto.

- Claro - ele diz, e há um calor em sua voz que me faz pensar que talvez, só talvez, estejamos no caminho certo.
____

A caminhada até a estação é tranquila, com a cidade noturna servindo de pano de fundo para o nosso silêncio confortável. De vez em quando, trocamos comentários sobre pequenas coisas: uma loja nova que abriu, uma mudança na paisagem urbana, um restaurante que gostaríamos de experimentar.

Chegando à estação, Yamaguchi vira para mim, uma sombra de relutância em seus olhos.

- Obrigado por me acompanhar - ele diz, e há uma sinceridade em sua voz que me toca.

- Não foi nada - respondo, e quero dizer mais, quero dizer que faria isso mil vezes só para ter a chance de conversar com ele novamente, mas as palavras ficam presas na garganta.

Ele assente, e por um momento, estamos lá, apenas Tsukishima e Yamaguchi, dois amigos que compartilharam tantos altos e baixos, agora parados na encruzilhada do que foi e do que pode ser.

- Até logo, Tsukishima - ele diz, dando um passo para trás em direção à plataforma.

- Até logo, Yamaguchi - respondo, e enquanto ele se afasta, sinto uma pontada de algo que não consigo identificar. É saudade? Antecipação? Não tenho certeza, mas sei que este não é o fim. É apenas um novo começo.

Quando ele se vira para ir embora, a impulsividade toma conta de mim. Estendo a mão e seguro seu pulso, puxando-o levemente de volta. Antes que ele possa reagir, deixo um beijo demorado em sua bochecha, um gesto de carinho e talvez algo mais.

Yamaguchi congela por um segundo, surpreso com a súbita proximidade. Um rubor instantâneo colore suas bochechas, um vermelho vivo que contrasta com a noite ao redor. Ele me olha, os olhos arregalados, e por um momento, o mundo parece parar.

Então, sem uma palavra, ele sorri - um sorriso tímido, mas genuíno - e acena antes de se virar para pegar o trem. E enquanto ele desaparece na multidão, sinto que esse pequeno ato mudou algo entre nós, adicionando uma nova camada à nossa história.

E com essa promessa silenciosa pendurada entre nós, me viro e começo a jornada de volta para casa, pensando no futuro, em reencontros e em todas as possibilidades que ainda estão por vir.

Recomeço - TsukiyamaOnde histórias criam vida. Descubra agora