II-Encontro

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 Em uma rua do lado leste da capital Ifé, diversas pessoas a lotavam, e um tumulto enorme se instaurava. A maioria eram mensageiros de famílias poderosas do império, ou entregadores oriundos de diversos lugares longínquos.

-É assim que é a feira dos Wangaras? - Osundi estava surpreso com a grande movimentação.

-Exato - respondeu Exugum - Hoje até que não está tão lotado.

-Pior que é verdade - concordou Ojelufã -, mas ainda assim não é possível passar facilmente.

-Bem, não podemos ficar aqui parados. Afinal, foi ideia de vocês, né? - zombou Olojacá.

Os dois se entreolharam furiosos com a velha, mas contiveram-se. Olojacá, apesar de rabugenta, tinha uma sabedoria incomparável, e na maioria das vezes em que falava que algo não devia ser feito, e alguém a contrariava, a pessoa se dava mal e a idosa zombava dela por um bom tempo.

-Tenho certeza que vai dar confusão - sussurrou o primo Onissaim para Osundi.

O grupo se aproximou, e logo de início tentaram abrir caminho. Entre xingamentos e empurrões, seguiram até o meio, quando um homem de meia-idade, de cabeça maior que o corpo, gritou:

-Ei, esperem a vez aí!

-Nós temos que falar com os Wangara - falou Exugum.

-Não me diga. - elevou seu tom de voz -Todos aqui querem!

-Olha aqui, abaixe seu tom de voz - exclamou Exugum, colocando o dedo indicador no nariz do cabeçudo.

-Cale sua boca! - o irritado empurrou a mão de Exugum, que rangeu os dentes.

Quando ambos iam brigar, um homem com roupas coloridas e um turbante pintado com um pó dourado, apareceu e ficou entre os dois.

-Cale-se - ordenou ao cabeça gigante.

-Quem é você? - perguntou o irritado.

-Sou um Wangara. E ordeno que vá embora.

-Mas eu tenho...

-Você não tem mais nada conosco. Vá embora!

Intimidado, o cabeção saiu de cabeça baixa.

-Vós sois o grupo de nômades?

Ianmarê respondeu entusiasmada: - Sim, somos.

-Me sigam.

Os beduínos então abriram caminho com mais facilidade entre as pessoas, que estavam impressionados. Aquilo era a prova da aliança entre os poderosos comerciantes do pó de ouro e os nômades do Sahel.

Logo adentraram uma casa, onde três dezenas de pessoas estavam. A maioria usavam as mesmas roupas multicoloridas do guia, que lhes disse:

-Sentem-se naquele tapete.

Espremidos, todos acomodaram-se no tapete de tamanho médio. Os moradores da casa os olhavam de maneira rígida, mas nada falavam.

Uma mulher com turbante marrom e roupas brancas e cinzas ficou na frente dos beduínos, com sua voz penetrante, foi falando:

-Bem, vós deveis ser o grupo que viaja comercializando bijuterias, bugigangas e animais de pequeno porte?

Ibejé, o tesoureiro, confirmou: - Sim, somos nós.

-Bem, irei direto ao ponto então. Os Wangaras de Ifé precisam que vocês façam um favor por nós.

O homem que os guiou tomou a palavra, e narrou:

-Faz alguns meses que as rotas transaarianas ficaram mais perigosas. Quadrilhas de ladrões se juntaram e saqueiam quem quer que esteja na sua frente. Fomos muito prejudicados por muito tempo. Até que, eu e mais alguns colegas estávamos viajando para o norte, e fomos pegos numa emboscada.

O guia tirou o turbante, revelando uma enorme ferida na horizontal que ia da bochecha esquerda ao pé do ouvido.

-Felizmente, eu sobrevivi e voltei para contar quem eram os assaltantes. Se tratam de um bando de mercenários treinados. Descobri que eles se encontram em 3 cidades: Tombuctu, Djenné e Gao.

-O que nós pedimos a vocês - a mulher interrompeu - é que sigam os rastros deles e os capturem e recuperem o pó-de-ouro.

Osundi ficou surpreso com o pedido da moça, pois eles eram um simples grupo de nômades. Contudo, Exugum deu uma risadinha e afirmou:

-Nós aceitamos o seu pedido, senhora. Temos experiência o bastante para cumprir essa missão. Mas... o que ganhamos em troca?

Um dos presentes, de roupas coloridas com tons mais escuros, propôs:

-Aumentaremos em 10% as mercadorias que damos a vocês, e fazemos questão de dar alguns produtos inéditos.

Os beduínos ficaram satisfeitos e aceitaram. 

A Travessia do Deserto (Fantasia-HistóricaOnde histórias criam vida. Descubra agora