As fortes e geladas rajadas de vento fizeram Faye encolher todo o seu corpo; em pleno final de outono o frio castigava quase severamente. A garota estava guardando seu crachá em sua bolsa quando suas chaves caíram no chão. Imagine ter que tocar no metal, agora molhado, em pleno nove graus Celsius?Serenava devido à hora: Pouco mais das onze da noite. Faye fez o que mais cedo ou mais tarde teria que fazer e acabou pegando a chave do chão. A garota voltou a se levantar, todavia, algo não a deixou se mover. Ela fechou os olhos ao cair em percepção de que deveria ter ido visitar a senhora Supannee e Yoko.
Seus passos foram desajeitados e apressados para dentro do hospital e logo ela estava no elevador rumo ao quarto da garota. Por sorte não precisou ter que gravar outros números de quartos aquele dia, se não, com certeza teria problemas em se lembrar do número do quarto de Yoko.
Assim que chegou ao piso em que deveria descer, ela rumou para o quarto. Deu três suaves batidas na porta e logo a mesma foi aberta.
- Olá. - Ela disse docemente. - Muito tarde? Se quiser eu posso voltar amanhã e...
- Não se preocupe, criança. Entre. - Supannee disse, vendo Faye entrar. A garota deixou a bolsa no canto da sala e se aproximou de Yoko.
- Olá, Yoko. Como está? - Faye disse, vendo Supannee voltar a se sentar em sua cadeira. - Vejo que pentearam seus cabelos. Está linda!
- Ninguém a visitava e, bem, ela sempre gostou de ficar bem arrumada para as visitas. Dei uma leve ajeitada. - Supannee disse sorrindo fraco e Faye agradeceu mentalmente por ter lembrado de visitá-la. A mulher teria se chateado caso o cérebro de Faye resolvesse falhar em lembrá-la de algo novamente.
- Oh! - Faye disse. A menor analisou a expressão da mãe de Yoko. Aquela mulher carregava consigo uma dor tão profunda que transparecia no brilho de seus olhos. - Viu só, Yoko? Sua mãe ainda se lembra seus gostos. - Supannee riu baixinho e assentiu.
- Você é muito especial, Supaporn. - Supannee disse, causando um sorriso no rosto da menor.
- Obrigada, senhora. Mas me chame de Fah, por favor. - Ela disse sorrindo fraco. Supannee assentiu. - Yoko, vou contar para você e sua mãe sobre o meu chefe, quer escutar? - Faye perguntou sorrindo. - Ele brigou muito comigo por ter entrado aqui mais cedo. Ele realmente não deve gostar de mim. - Falou rindo.
- Oh, querida. Enganos acontecem. Por que ele brigaria com você?
- Por importunar a paz de uma família. Eu deveria ter ido à outro quarto. Levei bastante xingo, mas sabe, Yoko? Gostei de conhecer vocês duas. - A porta foi aberta de supetão, roubando a atenção do momento para o doutor que entrava na sala.
- Boa noite, moças. Como estamos por aqui? - O homem que aparentava seus quarenta e poucos anos, mas incrivelmente lindo e simpático. - Temos visita nova para você, Yoko? - O homem disse em um tom alegre e empolgado.
- Faye é nossa nova amiga, Doutor Jones. - Supannee disse sorrindo, se afastando para dar lugar ao médico, que retirava sua pequena lanterna do bolso de seu jaleco.
- Vamos lá. - Ele disse, abrindo um dos olhos de Yoko e jogando luz nele.
- Você não se incomoda com isso, Yoko? Se alguém jogasse luz nos meus olhos eu choraria de raiva. - Faye disse rindo. - Sou meio explosiva na TPM.
- Como disse que se chamava? - O médico perguntou, se virando para Faye.
- Bem, eu não disse. Supannee que me apresentou. Sou a Faye.
- Certo. Faye...
- Já sei. Pedirá silêncio. Desculpe! - Ela disse rindo um pouco envergonhada.
- Muito pelo contrário. Continue falando. - Faye arqueou uma sobrancelha.
- Bem, eu não entendi, mas tudo bem. Sou fácil em falar coisas aleatórias do nada. Isso me faz parecer louca? - Ela perguntou, vendo Supannee rir.
- Não, querida. - A mulher respondeu gentilmente.
- Faye, ande até a porta, por favor. - O homem pediu e Faye assentiu confusa. - Vá falando. - Que espécie de louco aquele médico era? Faye resolveu acatar seu pedido mesmo assim.
- Eu não posso ficar falando sozinha, doutor. O senhor me pede para falar, mas é complicado e isso compromete a minha imagem na frente da Yoko.
- Repita o nome dela. - O homem pediu com veemência.
- Está tudo bem, doutor? - Supannee perguntou preocupada. O homem jamais fizera algo assim em todos os anos que estivera ali. Ele era apenas um interno quando foi apresentado ao caso e permaneceu até os dias atuais ao lado daquela família.
- Sim. Só preciso que Faye repita o nome da Yoko.
- Claro. Yoko, eu não sei porque o doutor quer que eu repita seu nome, mas gosto de "Yoko". É um bonito nome e por isso repeti sem problemas.
O homem soltou uma risada animada e apagou a lanterna, olhando para Supannee visivelmente comovido. Ele havia se apegado à garota e dizia que naqueles quatorze anos Yoko lhe ensinava sobre perseverança todos os dias.
- Senhora Apasra, podemos trocar uma palavra? - Ele perguntou e Supannee olhou confusa e assustada para ele.
- Eu prefiro que Faye esteja comigo. - Ela confessou. - Você sabe que eu não tenho... mais ninguém, doutor. - Os olhos negros do homem se direcionaram para Faye antes de ele assentir.
- Tudo bem. - Ele disse. - Senhora Apasra, de alguma maneira a sua filha parece responder quando ouve. As pupilas se dilatam e se movem, porém...
- Oh meu Deus. - Supannee disse levando sua mão à própria boca. - Ela nos ouve? Oh meu Deus. Minha filha... - A mulher começou a chorar e o doutor respirou fundo.
- Preciso que se acalme, senhora. Ainda tem mais. - Ele disse, vendo-a limpar algumas lágrimas e voltar a fitá-lo. Supannee sentiu um aperto cálido em sua mão, virando-se apenas para ver que era de Yoko.
- Prossiga, Doutor.
- Bem, o mais estranho de tudo é que, bem... Yoko só responde à voz de Faye. Eu falei e nada, a senhora falou e nada, Faye falou e seus olhos a seguiram. Quando Faye proferiu o nome dela era como se seus olhos quisessem se aproximar dela.
- Está dizendo... - Supannee foi cortada pelo Doutor.
- A voz de Faye é o estímulo que procuramos todos esses anos para Yoko, Supannee. - Faye piscou lentamente, tentando processar o que acabara de escutar.
Como raios seu dia se tornora tão louco?
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Em um piscar de olhos| FayeYoko version
FanfictionYoko Apasra tinha apenas seis anos quando seus pais decidiram tirar as tão famosas férias em família. Iriam para a Coreia, porém, o destino lhes foi cruel, causando o choque de um caminhão desgovernado contra o carro onde estavam durante o caminho p...