Um barulho alto soa no pleno silêncio de nós dois, meros colegas de trabalho unidos obrigatoriamente por um projeto. Olho de relance para Olive, suas bochechas estão coradas de vergonha pelo ronco de seu estômago. Minhas mãos automaticamente sobem para a parte crescendo do tufo arrancado, o boné esconderá por algumas semanas talvez meses. Me levanto indo a cozinha preparar pães de queijo, deixei a massa pronta para está ocasião, só não imaginei que correria o risco de vida após a descoberta de que a autora que tanto admiro é a maluca da loja de conveniência. O destino sempre será incerto, me pegando desprevenido.
Ponho a forma com a bolinhas de pão de queijo no forno, preciso sobreviver por cerca de quinze minutos, percebo o pote quase vazio com biscoitos de polvilho. Eles vão ter que servir de aperitivo para enganar a fome. Volto para o sofá com o pote, estendo para Olive que não pensa em recusar.
— Obrigada — sua voz sai fraca, não sei ao certo o motivo do tom ser diferente do que me habituei em poucas horas com ela —
Os minutos se passam, os biscoitos agora estão sendo digeridos pelo ácido estomacal de Live, os pelos de minha nuca se arrepiam ao perceber que meu risco de vida retorna.
— Então...já pensou em algum nome para os protagonistas? — conversar faz com que a fome seja esquecida, sempre funciona —
Ela fecha a tela de seu laptop me olhando fixamente, ah...eu poderia ficar para sempre olhando a mesclagem de cor de seus olhos.
— Não tenho nenhum em mente, geralmente ponho apelidos e quando uso nomes, me baseio nas pessoas ao meu redor.
— Seu estoque de nomes acabou?
— Tudo uma hora chega ao seu fim, nada é infinito nesta vida. — estamos ainda falando sobre nomes? —
O assunto se encerra, o soar do alarme toca. Minha vida não está mais em risco e meus pães de queijo estão lindos e prontos para serem devorados.
— Estou surpresa — ela se senta aproxima do balcão verificando a forma com os pães —
— Nao acreditou que eu poderia cozinhar? — questiono com o ego ferido —
— Não é isso, eu meio que sou acostumada a comer as experiências que minha amiga e colega de apartamento faz, seus pães estão normais comparados ao dela.
— Normais como?
— Não são parecidos com um pedaço da orelha do Shrek.
Talvez seja pela quebra de expectativa, mas nunca dei uma risada tão sincera quanto neste momento.
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Entre esboços e rabiscos
RomanceOlive uma escritora de livros de terror se vê confusa após ganhar a missão de escrever um romance de sua editora, apesar de odiar mudanças que a obrigue a sair de sua zona de conforto, ela aceita tentar. Um dia quando volta para casa, foge para comp...