Capítulo 1

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˜ 'Cause I'm too spicy for your heart ˜
~Aespa

Por um descuido meu, Caroline olha de relance por trás da parede de blocos de concretos acinzentados se deteriorando se tornando hipnotizada pela coisa, seu corpo se torna frio e opaco como um verdadeiro cadáver fresco. Prendo o grito ao ver sua cabeça voar espalhando o líquido vermelho pelo chão, estou com respingos por todo o corpo, olho minhas mãos trêmulas pintadas com o líquido de Caroline. Sinto meu sangue fluindo quente por minhas veias, o coração acelerando e a queimação em minhas narinas, não tenho pensamentos concretos em minha mente e não consigo formular qualquer estratégia de fuga. Caroline se tornou mais um cadáver que terei que deixar para trás enquanto fujo daquilo. Calafrios invadem meu corpo, me esgueirei pelo chão em busca de uma saída enquanto me afasto do que antes foi minha irmã com vida. Eu sinto muito Carol. Tento não emitir sons, minha perna direita permanece dormente, mas não sei por quanto tempo essa dormência irá permanecer. O corte é profundo, logo vai piorar com a infecção e no pior dos cenários, terei que amputar. Como vou cuidar de uma ferida se não sei nem ao menos que remédio é bom para cortar a dor? Nem se eu fosse capaz de tal ato conseguiria evitar a infecção, os remédios estão na mochila de Caroline e não há coragem em mim o suficiente para voltar para perto da cabeça desprendida do corpo de minha irmã para pegar algum remédio que me daria mais alguns dias de vida.
Adentro uma pequena abertura entre as paredes, me espremendo conseguindo passar para o próximo cômodo, seguro a vontade de olhar para trás para saber o que houve com o que restou de Caroline. Sinto uma pontada aguda no corte, e percebo que o tempo que me resta está com os segundos contados. Forço meu corpo a se levantar para agilizar a fuga, não me alimento há dias, e meu cérebro vive em uma luta constante contra esses poderes misteriosos das coisas. Não olhe para trás, essa é a única coisa que lhe fará permanecer vivo, siga em frente e lute contra as vozes que te coagem a se virar. Consigo ficar em pé após tanta luta, dou pequenos passos lentos arrastando a perna machucada.

Irmã, por favor me ajuda!

Ouço Caroline com sua voz doce se tornando cada vez mais próxima.

Olhe o que fizeram comigo, eu me tornei um monstro.

Não pense nisso Eleonor, siga sempre em frente, não pode...
- Escrevendo mais um livro de terror, senhorita Olive?
Sinto meu coração subir pela garganta.
- Não me dê susto desse jeito, Thiago! - Me viro olhando para o homem de cabelos castanhos quase loiro, sua feição cansada o entrega que não foi novamente para casa - Está querendo virar um panda?
Uma risada rouca é soltada.
- Não mude de assunto - ele esfrega suas têmporas - lhe avisei que a editora quer publicar um livro de romance e não mais um de terror!
- Não escrevo livros de romance, você sabe disso - me viro para a tela do computador procurando pelos arquivos - já chegou a ler algum desses esboços?
Thiago se aproxima tomando conta de meu mouse e abrindo um dos arquivos, ele ajeita seu corpo para assim ler o início do manuscrito incompleto.
- Gosto dessa temática, deveria dar continuidade.
- Não minta Thi, isso é um horror! - me levanto da cadeira observando a pequena sala mal iluminada pelo abajur em cima de uma pequena mesa branca - Não consigo desenvolver um romance ou pelo menos fazer com que os personagens tenham química.
Nunca fui boa em lidar com sentimentos, passei a maior parte de minha existência fingindo estar bem com tudo e suportando, além de odiar mudanças. Thiago abre os braços e já sei o que fará. Um abraço apertado por músculos e cheio de perfume amadeirado me prendem.
- Está na hora de deixar fluir seus sentimentos, Liv você não vive mais naquele lugar. Você cresceu, consegue fazer o que quiser em sua vida e está livre para expressar o que realmente sente. Não se deixe presa, sinta o que tiver que sentir e passe a transparecer. Ninguém vai te julgar por não gostar de algo ou amar outro. Se liberte para mudanças.
Thiago desfaz o abraço saindo da sala.
Respiro fundo tentando assimilar a confusão existente em meu interior. Se eu nunca levar a sério algo que nunca tento ir ao fim, não saberei se sou capaz de realizar. Volta a me sentar na cadeira, abro uma nova página digitando tudo que vem em mente. Mais e mais palavras inundam aquela página que antes estava branca. Descrições, diálogos e intrigas sendo criadas e juntadas em frases que se tornam cada vez mais longas. Não se vence uma guerra sem ao menos tentar, projetar estratégias e ter certeza de que se for cair, ao menos o seu máximo foi tentado.
Suspiro passando a mão pelo cabelo embaraçado, alguns fios enrolados enroscam se soltando de meu couro cabeludo e tornando se parte dos milhares fios que caem.
- Preciso pensar em nomes para esses personagens.
Não é fácil nomear personagens, não quando você passa a vida usando as pessoas ao seu redor como base, preciso criar uma pessoa com personalidade na qual não convivi. É frustrante! O nome é a base para a criação da personalidade de um personagem, tem que ter um significado por trás, se eu usar algum que detenha consigo um plost twist renderá uma surpresa para meus leitores. Desta vez eu quero que tudo saia da minha zona de conforto.

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