Capítulo 3.2

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Se arrependimento matasse, eu estaria morta. Deixar Melinda com o laptop desbloqueado e com o acesso ao meu e-mail corporativo foi a mesma coisa de deixar uma criança mexer.
— Você sabe a dor de cabeça que me deu? — me encolhi mais ainda na cadeira, as broncas de Thiago estão fazendo minhas bochechas se avermelharem de vergonha — sorte sua que a esposa do nosso querido chefe adorou a sua história — tento argumentar que os quinze e-mails com o assunto para o meu amor com a cópia do rascunho de meu novo romance não foi de fato culpa minha ter chegado no e-mail do CEO da editora — não tente se explicar, você quase acabou com o casamento do dono de tudo isso aqui — ele passa a mão pelos cabelos bagunçados bufando — precisamos que você escreva o mais rápido que conseguir, a esposa do chefe quer terminar de ler antes de ganhar o bebê ou você pode ter certeza que não vou ser o único a perder o emprego por aqui — ele se senta na cadeira girando —
— Thiago, eu juro que não quis que tudo isso ocorresse dessa forma — forço minha cadeira para me aproximar — Melinda queria uma cópia e enviou para meus contatos favoritos, não imaginei que ela enviaria para o chefe, prometo que me empenharei para finalizar tudo de acordo com os padrões da empresa — prometi algo que não posso cumprir, não sem a ajuda de alguém —
— Acho bom mesmo você cumprir isso, nossa querida chefa terá o bebê daqui 5 meses e você não está nem na metade do enredo.
Sinto meu sangue gelar, meus terrores demoram cerca de 9 a 14 meses para serem escritos e diversos detalhes que descrevo são crus para que sintam medo de fato, um romance contém detalhes delicados, descrições mais completas e poéticas, criar algo já é difícil, o deixar completo em 5 meses é pior ainda. Esfrego minhas mãos geladas preguentas de suor.
— Ela não pode ser congelada igual aquele cantor que descongelamos no Natal? — tento um sarcasmo para me acalmar —
— Acha que não tentei negociar? Ela ficou brava o suficiente conosco por quase ter estragado um casamento, os hormônios dela estão piores — ele deita sua cabeça na mesa — sou bonzinho demais contigo, sabia? — afago seu cabelo — Chisato concordou em ser seu editor, ele acompanhará todo o processo e te ajudará a dar sequência no enredo — me levanto rapidamente da cadeira incrédula —
— Chisato? O artista que trabalha para as multinacionais do exterior para desenhar as histórias mais famosas da atualidade? Aquele Chisato que participou da animação do estúdio que ganhou o prêmio de filme do ano? — sinto meu coração bater o dobro do que normalmente bate, minhas pernas amolecem me obrigando a me sentar novamente —
— Ele já queria participar de um projeto seu, mas seu estilo de terror não combina com o estilo dele — Thiago se levanta indo para próximo da porta — ele será seu editor e se conseguir ter muita sorte, talvez ele ilustre algum de seus personagens. Preciso de um café — um suspiro longo sai de suas narinas — você irá trabalhar na casa dele durante esses meses, por isso esteja preparada para ir hoje à tarde o conhecer.
Thiago sai da sala de reuniões me deixando sozinha. Chisato é um artista que entrou recentemente para a editora como editor, raramente ele ilustra algo para os projetos da editora, é uma honra trabalhar com ele. Mas… devo ter cuidado com isso, é um trabalho importante e apesar de eu o admirar, nem sempre o herói é do jeito que achamos ser, pode ser perigoso se ele tentar algo, posso perder minha carreira se for presa por o jogar de um prédio após ele me assediar, preciso de estratégias de como lidar com tudo sem gerar grandes consequências. Thiago estava certo, preciso me preparar.

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