22: Ele vive

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Rick reconheceu o conforto nos conselhos do pai. Seu semblante ao menos já havia mudado. O dia de domingo foi cinza e tão frio quanto o sábado. À noite, foram juntos à Igreja onde Nicholas pastoreava. E ele o apresentou à congregação como um novo irmão em Cristo, celebrando a aliança do filho. Já Rick fez a sua confissão pública e reencontrou um amigo da adolescência que se tornou regente do coral da congregação.

― Você não mudou nada. ― Disse Adam, após abraçar Rick.

― Está ainda mais parecido com o Creed. ― Disse Rick.

― Eu me esforço. ― Caminharam em direção a saída da Igreja. ― Sou instrutor de artes maciais também. Dou aulas de defesa pessoal. Ainda toca?

― Voltei há pouco tempo.

― Eu acabei me interessando por música por sua causa. ― Declarou Adam ― Quem sabe não me ajuda com o coral?

― Por enquanto, eu só quero aprender. Tem lugar para mais um?

― Absolutely ― Adam parou e ofereceu a mão. ― Welcome to New Creatures Choir.

Depois desse momento, Rick foi apresentado a esposa e ao filho de dez anos de Adam.

No dia seguinte, Rick retornou a Los Angeles para cumprir seus compromissos de marketing da nova temporada da série que estava prestes a ser lançada. Aproveitou para deixar claro que encerraria sua participação nela, portanto, não haveria renovação do seu contrato com a emissora.

Uma semana depois, de volta a Chicago, viu as primeiras notícias sobre a sua conversão se tornarem públicas. Algumas plataformas levaram a sério, outras trataram a novidade com desdém, como Rick esperava. Ele estava em seu quarto lendo o livro que foi dado pela família Braga quando ouviu os passos do pai que se aproximava do cômodo.

― Posso entrar? ― Nicholas perguntou.

― Sure.

― Tenho uma carta para você. ― Disse Nicholas entrando com uma carta em mãos.

― Carta? ― Perguntou Rick.

― Da sua mãe ― Nicholas entregou a carta a Rick. ― Ela escreveu um dia antes de partir... eu não consegui te entregar antes.

― Eu não te dei muitas chances para tentar.

― Eu tive a chance, mas tive medo. ― Confessou Nicholas. ― Ela pediu para te entregar um dia depois do enterro.

Rick abriu o envelope com cuidado. Ao ver a letra da mãe, seus olhos encheram-se de lágrimas e pediu: ― Poderia lê-la para mim? ― Entregou a carta novamente ao pai.

― ...Meu português está enferrujado. ― Nicholas começou a ler.

Querido, amado e esperado filho.

Antes de qualquer coisa, quero que saiba que eu amo você demais e não quero que fique triste com a minha partida. Tudo bem, talvez por dois dias, uma semana, mas não mais que isso. Deus em sua infinita misericórdia me encontrou, antes que fosse tarde. Eu conheci Jesus, antes do meu corpo padecer e isso, por si só, já é motivo de alegria. Não falo isso para que pense que vai ser fácil daqui para a frente; eu sei que não vai, no entanto, Jesus nos disse para ter bom ânimo, porque Ele já venceu a morte. Eu amaria estar presente nos próximos aniversários, na sua formatura, quando se apresentar em uma orquestra, quem sabe? Quando se apaixonar e quando estiver no altar. Beijar meus netos e dizer-lhes o quanto a vovó os ama. Mas, Deus não quer assim e nesses últimos dias Ele me fez aceitar sua vontade. A melhor decisão que eu pude tomar foi de passar esses últimos dias em casa, com vocês. Eu não estarei no seu próximo aniversário, formatura, nem no seu casamento e não verei os meus netos. Eu sei que você e o seu pai contarão para eles quem foi a vó Lilian. Que amava ler, assistir e ouvir boas histórias de amor. E, não pode esquecer de falar sobre os bolos de cenoura tipo floresta negra, dos beliscões e dos passeios de bicicleta.

Eu escrevo essa carta, enquanto vejo você, meu filho, brincar com seus primos... você parece feliz. E é assim que quero que você seja, vocês dois, meus meninos, sejam felizes e fiquem juntos o máximo que puderem. A vida é um milagre, cada detalhe é um milagre e um motivo de Louvar a Deus.

Richard, meu amor, viva, ame e deixe Jesus na direção da sua vida. Se sentir medo, dúvida ou até mesmo angústia, clame a Ele. Ele sempre nos responde. Ele nos amou e Ele ainda nos ama. Ah, e mais o importante: Ele vive.

Com amor. Sua mãe. Lilian


― Thank You dad. ― Conseguiu dizer Rick, em meio as lágrimas. ― Obrigado por não ter desistido de mim.

― Eu não poderia. ― Disse Nicholas. ― Ela quis te contar assim que decidiu voltar para casa e eu não deixei. Depois, quis esperar o momento certo para te entregar. ― Balançou a carta ― Então você descobriu. Você já estava sofrendo e eu tive medo que sentisse por ela o mesmo que estava sentindo por mim. Me perdoe por isso.

― Às vezes os pais erram tentando acertar. Eu já perdoei o senhor.

― Tem outra coisa que quero de dar. ― Informou Nicholas o entregando uma caixinha de veludo.

Ficaram ainda um bom tempo lembrando dos momentos que viveram enquanto Lilian ainda estava viva. Rick sentiu-se grato por todos os acontecimentos dos últimos meses. Conseguiu perceber todo cuidado, misericórdia e, principalmente, o amor de Deus.

Caminho de Redenção | RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora