O filho de um conde? Uau! Estou surpreso. Como ele é? Espero que ele não seja completamente insuportável e metido como a maioria dos condes.
— carta de jeon jungkook ao irmão Jaehyun.
Horas depois, acompanhada da jovem e faceira tenente incumbida da tarefa de escoltá-lo ao Devil’s Head, Jungkook ficou se perguntando quando o coração dele iria desacelerar. Céus, quantas mentiras ele tinha contado naquela tarde? Tentou responder sempre com o mais próximo possível da verdade, para aliviar a própria consciência, mas também porque tinha medo de não conseguir acompanhar as próprias mentiras.
O ômega devia ter contado tudo a Taehyung. Na verdade, estava prestes a confessar, mas o coronel Min voltou com o médico bem na hora. Seria impossível fazer a revelação na presença daquela plateia. Sem a menor sombra de dúvida, ele teria sido enxotado do hospital, quando Taehyung ainda precisava tanto dele.
E o próprio Jungkook também muito dele.
Estava sozinho em uma terra estranha. Quase sem dinheiro. E, para piorar, uma vez que o motivo que o fazia se manter firme tinha acabado de acordar, ele já podia admitir para si mesmo: estava apavorado.
Se Taehyung o rejeitasse, ele acabaria na sarjeta. Sua única escolha seria voltar para a Coreia, e isso ele não podia fazer – não sem descobrir o que aconteceu com seu irmão. Ele fez sacrifícios demais para embarcar naquela jornada. Tinha lançado mão de cada fragmento de coragem que possuía. Não podia desistir.
Contudo, como poderia continuar mentindo para Taehyung? O alfa era uma boa pessoa. Não merecia que alguém se aproveitasse dele daquela maneira escandalosa. Ademais, era o melhor amigo de Jaehyun. Eles haviam se conhecido logo que entraram para o exército e, como eram oficiais do mesmo regimento, acabaram sendo despachados para a América do Norte. Até onde Jungkook sabia, haviam permanecido juntos desde então..
Ele estava ciente de que Taehyung nutria certa afeição por ele. Se tivesse contado a verdade, ele entenderia o que o motivou a mentir. Iria querer ajudá-lo. Certo? No entanto, tudo aquilo eram especulações. Especulações que podiam ser adiadas ao menos até o dia seguinte.
O Devil’s Head ficava na mesma rua da igreja - uma grande ironia - e trazia a promessa de uma cama quente e uma boa refeição, algo que ele certamente merecia.
Objetivo do dia: não se sentir culpapo. Pelo menos, não por comer uma refeição de verdade.
— Estamos quase lá — avisou a tenente, com um sorriso. Jungkook assentiu.
Nova York era um lugar bem estranho. De acordo com a mulher que administrava a pensão - uma alfa de cabelos ruivos - havia mais de vinte mil pessoas amontoadas em uma área bem pequena, na ponta sul da ilha de Manhattan. Jungkook não tinha conhecimento dos números antes da guerra, mas ficou sabendo que a população havia aumentado consideravelmente desde que os coreanos fizeram a cidade de quartel-general.
Para onde quer que olhasse, via os casacas vermelhas*, e todos os prédios viáveis tinham sido desapropriados para alojá-los. Os apoiadores do Congresso Continental haviam deixado a cidade, mas tinham sido substituídos (em números ainda maiores) por hordas de lealistas refugiados, vindos das colônias vizinhas em busca da proteção dos ingleses.
Mas a visão mais estranha – pelo menos para Jungkook – eram os negros. Não que tivesse preconceito, longe disse. A verdade é que ele nunca viu gente de pele tão escura antes e ficou espantado com a quantidade de negros que havia na tumultuada região portuária da cidade.
— Escravos fugidos — explicou a tenente, acompanhando o olhar do ômega até o homem de pele escura que saía da oficina do ferreiro do outro lado da rua.
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Esposo de faz de conta | taekook version
FanficDrama | comédia romântica | +16 | séc xviii | ABO Depois de perder o pai e ficar sabendo que o irmão Jaehyun desapareceu, Jeon Jungkook tem duas opções: se mudar para a casa de uma tia ou se casar com uma pessoa com o dobro de sua idade. Para fugir...