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O tenente Taehyung está longe de ser insuportável. Muito pelo contrário: é uma companhia deveras formidável. Acho que você gostaria dele. É de Daegu e está praticamente noivo do seu vizinho. Ah, mostrei a ele o seu retrato. Ele disse que você é muito bonito.

— carta de jeon Jaehyun para o irmão, Jungkook

Taehyung insistiu em se vestir, de modo que Jungkook achou por bem dar a ele um pouco de privacidade naquele momento e saiu para procurar algo para comer. Ele tinha passado boa parte da semana naquele local e já conhecia bem o comércio das redondezas. A opção mais econômica – e, portanto, sua escolha de sempre – eram os pãezinhos com passas da barraca do Sr. Mathers. Os pães até que não eram de todo ruins, mas ele suspeitava que o preço irrisório só era possível devido à inserção de no máximo três passas por pãozinho.

Já o Sr. Lowell, que ficava mais adiante, vendia uma versão do pão de passas feita com massa espiralada e canela. Jungkook não sabia dizer se o Sr. Lowell também era avarento com as passas, já que só tinha comido ali uma vez – um pãozinho dormido que o ômega devorou avidamente, concentrando-se apenas no prazer da cobertura açucarada que derretia na boca.

Mais à frente, virando a esquina, ficava a loja do Sr. Rooijakkers, o confeiteiro holandês. Jungkook só tinha entrado lá uma única vez, e não precisava de uma segunda visita para perceber que: a) não podia pagar por aquelas delícias e b) se pudesse pagar, logo estaria gordo como um balão.

No entanto, se havia um dia que justificasse uma extravagância, com certeza era aquele: Taehyung não apenas tinha despertado como estava razoavelmente bem de saúde. Jungkook tinha duas moedas no bolso, o que daria para comprar um regalo, ainda mais agora que não precisava mais se preocupar em pagar pelo quarto de pensão.

O ômega tinha consciência de que deveria estar economizando cada centavo – só Luna sabia o que aconteceria com ele nas semanas seguintes –, mas não quis ser unha de fome. Não naquele dia.

Entrou na loja, sorriu ao ouvir o tilintar do sininho da porta e logo estava suspirando de prazer com o aroma divino que se desprendia da cozinha aos fundos.

— Posso ajudá-lo? — perguntou uma ômega de cabelos ruivos atrás do balcão.

Devia ser alguns anos mais velha que Jungkook e falava com um sotaque muito sutil, cuja origem teria sido impossível de adivinhar caso ele não soubesse que os proprietários da loja eram da Holanda.

— Ah, sim. Eu gostaria de uma broa, por gentileza — pediu. — Apontou para uma prateleira onde havia uma fileira de três lindos pães redondos. Em sua cidade, Jungkook jamais viu nada parecido com aquela casca dourada. — Todos têm o mesmo preço? — A ômega inclinou o rosto para o lado, avaliando.

— A princípio, sim, mas, agora que o senhorito perguntou, estou notando que o da direita está um pouco menorzinho. Pode levar por um pouquinho menos.

Jungkook já estava planejando onde iria depois para comprar manteiga ou queijo para comer com o pão, mas não resistiu e acabou perguntando:

— Desculpe, mas que cheiro delicioso é esse?

Speculaas. Acabaram de sair do forno. Já experimentou?

Jungkook fez que não com a cabeça. Estava faminto. Na noite anterior, finalmente conseguiu fazer uma refeição decente. Porém, em vez de aplacar a ira de seu estômago, parecia que ele o deixou ainda mais furioso com os maus-tratos que vinha sofrendo nos últimos tempos. E, embora a torta de carne e rins do Devil’s Head estivesse muito boa, Jungkook estava com água na boca só de pensar em comer um doce.

— Quebrei um enquanto desenformava — disse a confeiteira. — Pode ficar com ele, por conta da casa.

— Oh, não, eu não posso aceitar...

Esposo de faz de conta | taekook versionOnde histórias criam vida. Descubra agora