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Kim Taehyung tem a aparência de um homem, e ponto final. Francamente, Jungkook, você já devia saber que não seria muito útil me pedir para descrever outro homem. Ele tem cabelos castanhos. O que mais eu poderia dizer?

Além disso, para o seu governo, mostro o seu retrato para todo mundo. Sei que você muitas vezes gostaria que eu fosse mais carinhoso, mas a verdade é que eu o amo muito, meu irmãozinho, e tenho muito orgulho de ser seu irmão. Ademais, graças a você, posso me gabar de ter o correspondente mais prolífico de todo o batalhão, e devo dizer que me regozijo muito com a inveja de todos os outros soldados.

Taehyung, em particular, é azucrinado pelo monstro verde da inveja sempre que chega o correio. Ele tem dois irmãos, mas, em termos de correspondência, você supera todos eles – juntos.

— carta de Jeon Jaehyun o irmão, Jungkook


Três horas depois, Jungkook ainda se sentia assombrado pelas palavras de Taehyung.

Estamos casados.”

“Temos a vida inteira pela frente.”

Sentado à escrivaninha no canto de seu quarto no hotel Devil’s Head, ele enterrou o rosto nas mãos. Tinha que contar a ele a verdade. Tinha que confessar tudo. Mas como? E – a questão mais premente – quando?

Convenceu-se de que era necessário esperar o término do encontro com o major Wilkins. Bom, o encontro tinha acabado de acontecer, mas então parecia que Taehyung havia piorado. Ele não podia correr o risco de deixá-lo irritado, não com ele naquele estado. O alfa ainda precisava dele.

“Ah, Jungkook”, teve vontade de dizer em voz alta. “Pare de mentir para si mesmo.” Taehyung não precisava dele. Ele poderia estar contribuindo para que a recuperação do mais velho fosse mais agradável, e talvez mais rápida, mas ele continuaria melhorando se o ômega desaparecesse de sua vida. Enquanto Taehyung estava inconsciente, precisou, de fato, de Jungkook. Uma vez acordado, contudo, ele deixou de ser tão essencial.

Jungkook olhou para Taehyung, que dormia tranquilamente na cama. Os cabelos escuros caíam numa franja que cobria suas sobrancelhas. Precisava de um corte, mas o ômega percebeu que gostava dele com os cabelos bagunçados. Davam-lhe um certo ar lascivo, um contraste delicioso com sua natureza conscienciosa. As madeixas revoltas lembravam-no de que aquele homem honrado era também dono de um senso de humor ácido e de que, às vezes, a frustração e a raiva levavam a melhor sobre ele.

Ele não era perfeito.

Era uma pessoa de verdade.

E, por algum motivo, isso fazia com que Jungkook se sentisse ainda pior.

Ainda vou compensá-lo por isso”, jurou ele. Faria de tudo para merecer o perdão de Taehyung.

Contudo, ficava cada vez mais difícil imaginar que isso fosse acontecer. A moral inabalável de Taehyung – a mesma que havia convencido Jungkook a não confessar sua mentira antes da conversa com o major Wilkins – era justamente o que o colocava em um novo dilema. Aos olhos de Taehyun, ele havia manchado a reputação dele.

Por mais que não estivessem dividindo a cama, estavam dividindo um quarto. No instante em que descobrisse que Jungkook não era seu esposo de verdade, Taehyung acabaria insistindo para que se casassem. Ele era, acima de tudo, um cavalheiro, e sua honra jamais lhe deixaria alternativa.

E embora Jungkook fosse incapaz de se conter (pegava-se, de vez em quando, devaneando sobre um futuro em que ele era a Sr. Kim de verdade), ele nunca mais seria capaz de se olhar no espelho se o prendesse a um casamento forçado. Ele viveria com rancor do ômega. Não: ele o odiaria. Ou talvez não o odiasse, mas nunca o perdoaria.

Esposo de faz de conta | taekook versionOnde histórias criam vida. Descubra agora