PRÓLOGO

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   Apesar de ser a cidade mais frequentada durante as férias, Sortilégio deixou de ser pacata no início de janeiro após o ocorrido.

  A polícia local havia recebido uma denúncia anônima, na qual o informante afirmava ter ouvido gritos e tiros vindos do interior dos bosques perto da rua Almeida Central.

  Não tardaram em chegar ao local. As árvores do bosque estavam iluminadas com pisca-piscas e luzes. Os peritos puderam presenciar com nitidez o crime. O chão ainda apresentava marcas de sangue, apesar da chuva que caíra horas antes.

   No centro do bosque, o corpo da vítima jazia molhado pela chuva. A alguns metros de distância, uma mochila com roupas indicava que o garoto provavelmente planejava fugir.

  O detetive Mello se aproximou da cena, agachando-se ao lado do pré-adolescente. Ele fixou o olhar no menino, um lindo garoto de cabelos lisos e pretos. Examinou-o cuidadosamente sem tocá-lo.

  — Conseguiram rastrear o telefonema anônimo?

— Sim, senhor — respondeu um policial.  — A pessoa que denunciou o crime ligou do próprio celular.

— Vocês checaram tudo?

— Descobrimos até mesmo o local exato onde o denunciante estava quando fez a chamada.

— Isso é ótimo. Devemos ir até este endereço e fazer algumas perguntas ao denunciante.

— Mas, senhor, a denúncia anônima não deve ser confidencial?

— Deve ser, sim, mas não se o denunciante fizer uma denúncia contendo mentiras.

— Mentiras, senhor?

  O detetive colocou uma luva e virou o rosto do garoto. Um buraco na testa do menino indicava a causa da morte.

  — O denunciante nos informou sobre gritos e tiros, mas não há cápsulas de balas. Além disso, o garoto foi assassinado com algo sólido —  um pedaço de madeira, para ser específico.

  — Certo — concordaram os peritos.

  — Vamos agora até este endereço — disse o detetive, decidido.

  Um barulho vindo de trás de uma árvore alertou os policiais de que alguém estava ouvindo. Antes que o inspetor mandasse o bisbilhoteiro se apresentar, um jovem branco de cabelos castanhos e lisos saiu de trás da árvore. Sua aparência era de um homem de vinte anos, mas parecia um adolescente.

  — O nome do garoto era Guilherme Santos. Ele tinha apenas treze anos — disse o jovem estranho, com uma aparência tristonha.

  — Como você sabe sobre a vítima? Quem é você? — perguntou o detetive.

  — Meu nome é Gabriel Silva. — O jovem olhou para Guilherme por um longo tempo e decidiu falar sem se importar com as consequências. — Fui eu quem o matei.

***

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