CAPÍTULO CINCO

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        Julgamento de Gabriel Silva

    O Salão estava lotado. De um lado a família de Guilherme Santos acompanhada por seu advogado e do outro Gabriel Silva com o seu advogado de defesa.
    Os olhos fixos no chão e seus pensamentos em outro lugar quando o Juiz Camargo adentrou o ambiente. Todos levantaram em um modo de reverência e respeito.
    O juiz sentou no seu trono e deu aceno para que todos os presentes fizessem o mesmo. Ele pegou um papel que estava em sua mesa e olhou para Gabriel.

  __ O senhor pode se sentar na cadeira dos réus.

   Gabriel levantou lentamente e se dirigiu até a cadeira que ficava frente ao juiz. Ele respirou fundo, evitava pensar neste dia, mas infelizmente ele chegou.
   O juiz era um senhor de 63 anos de Idade, mas ainda assim parecia bem mais forte e saudável. Ele olhou Gabriel examinando com seus olhos azuis, ajeitou os óculos na ponta do nariz e prosseguiu:

   __ Estamos aqui reunidos para julgar e dar uma sentença ao réu, Gabriel Silva Monteiro Viegas de Souza de 20 anos de idade, acusado pelo grave e hediondo assassinato de Vitor Guilherme Santos de Souza 13 anos, ocorrido no dia 03 de janeiro de 2020.
   No caso dos crimes hediondos, previstos na Lei 8.072/1990, não há possibilidade de fiança, anistia, graça ou indulto.
    Devido interrogações e indícios de digitais ausentes no corpo da vítima, o réu alega em ser o verdadeiro culpado. Levando em conta que Jurar perante o tribunal e mentir é crime, o réu, tem por obrigação nos informar o verdadeiro criminoso para darmos a pena merecida. Mas caso ao contrário o réu mentir perante o júri, este será preso imediatamente com o veredito de prisão perpétua.

   Gabriel olhou para o juiz ainda triste, respirou profundamente e falou em seguida:

  __ Eu juro contar toda a verdade.

  __ Então nos diga garoto.__ Perguntou o advogado dos pais de Guilherme. __ Quem foi o causador da morte de Guilherme Santos?

    Gabriel então olhou para a frente decidido a falar.

  __ Quem matou o Guilherme foi... o Eduardo.

   Falatórios e cochichos percorreram o ambiente e o Juiz teve que ameaça-los esvaziar o recinto se eles não se calassem. O advogado de acusação então se aproximou do réu afirmando.

  __ Segundo depoimentos, Eduardo Gomes faleceu alguns dias atrás por armas de fogo. Você estaria tentando jogar sobre o ausente a culpa do assassinato da vítima?

  __ Estou contando toda a verdade. Eu vou contar toda a verdade.

***

                           Passado

    A manhã do dia 1 de janeiro, Gabriel acordou feliz, nem levantou da cama. Pegou o seu diário de baixo do colchão e escreveu.
   A noite passada ele havia ido comprar as velas, mas ele não havia encontrado comércios abertos, porém para a sua sorte Eduardo lhe encontrou e levou ele até a taberna do seu Justino que ficava aberta 24 horas. O comércio ficava bem próximo a casa de Eloah e Guilherme e neste momento inesperado, Eduardo revelou para Gabriel tudo o que sentia por ele, desde o dia em que ele chegou em Sortilégio.
    Gabriel que também era bixesseal também tinha uma quedinha por Edu, mas não havia contado nada para ninguém,  achava isso muito estranho. E quando enfim, depois de saírem da taberna, os dois se pegaram atrás do comércio. A lua estava clara mesmo todos estando em uma escuridão, mas este momento foi o suficiente para que Guilherme Santos pegasse os dois no flagrante.
   Guilherme a mando dos pais ia procurar a irmã na praça para chamá-la, mas se deparou com essa cena. Furioso, o garoto sai correndo e chorando para sua casa sem ao menos ir chamar a irmã.
   Gabriel não conseguia entender, mas então Eduardo contou que o jovem menino também era gay e sobretudo apaixonado por Eduardo. Já haviam tido casos ocultos com ele mesmo sabendo o perigo que corria, pois Guilherme só tinha 13 anos e ele mesmo já era maior de idade, isso daria um tremendo rolo e ele não queria ir preso. Por isso achou melhor terminar essas aventuras com o menino.
   Eduardo também contou que estava com muito medo do menino contar para os pais e outras pessoas, uma vez já que o garoto não queria se separar de Edu e achava melhor revelar tudo de uma vez tanto para os pais quanto para toda a população de Sortilégio.
   E apesar desse ser o pior medo de Eduardo, naquela mesma noite ele iria revelar o que sentia por Gabriel e depois iria embora de Sortilégio para sempre, ou até Guilherme crescer e perder essa paixão absurda.
   Mais tudo mudou no dia 3, quando Guilherme telefonou para Eduardo dizendo que havia descoberto uma coisa e ambos deviam se encontrar no bosque de Sortilégio às 19:00 h.
   Eduardo pediu que Gabriel lhe acompanhasse mesmo que ficasse escondido para que Guilherme não ver ele. Depois do que o garoto ia falar para ele, Gabriel sairia e tentava ajudá-lo a fazer o menino entender que era melhor ficarem separados.
    Gabriel aceitou o convite e assim que a hora marcada chegou, os dois se dirigiram para o bosque. A chuva começava a cair naquela noite frienta, o bosque não estava muito escuro, pois os moradores haviam feito o trabalho de iluminar as árvores com pisca-pisca e luzes a alguns dias atrás já que dessa vez uma família viera passar o Réveillon longe da civilização.
    O menino tinha uma mochila nas costas entupida de roupas, provavelmente suas vestimentas.

  __ Gui, o que você quer? Para que essa mochila?.__ Eduardo perguntou curioso.

  __ O único jeito para nós ficarmos juntos meu amor. Vamos fugir de Sortilégio. __ O menino falou.

  __ Guilherme, você tem que entender, não é por você. É por mim. Eu sou maior de idade e você só tem 13 anos, isso é arriscado.

  __ Vamos revelar nosso amor, meus pais vão aceitar.

  __ Não Guilherme, não posso.__ Eduardo falou decidido.

   Para tentar ajudar os dois, Gabriel então se mostrou de trás da árvore. Ele queria convencer o menino que isso era errado, mas ele entendeu que fizera uma burrada. Guilherme já não ia muito com a cara de Gabriel desde a virada de ano, e acabou por deduzir que Eduardo só não queria ele por que estava apaixonado por Gabriel.
   Furioso, Guilherme Santos jogou a mochila no chão e pegou um pedaço de madeira querendo atacar Gabriel. A chuva estava mais forte agora, Eduardo só queria ir para casa e tomar uma boa xícara de café, ele agarrou o menino tomando o pedaço de pau da mão dele. Guilherme estava tão furioso que puxou o cabelo de Eduardo querendo deixá-lo careca.
    Depois, então ele soltou o cabelo de Edu, estava decidido.

  __ Quer saber.__ Falou Guilherme tremendo o beiço de frio e ódio.__ Eu vou contar para todo mundo que você era meu namorado e me deixou por esse traidor.

     Chorando e Decidido Guilherme vira as costas para ir embora e revelar tudo, mas tomado pelo o impulso e o medo Eduardo levanta o pedaço de madeira que tomara do menino e o-atinge acertando gravemente a sua fronte matando este em seguida.

  __ Eduardo, o que foi que você fez?.__ Gabriel falou assustado.

  __ Eu não queria. Meu Deus! O que foi que eu fiz? Matei o Guilherme.

   O jovem estava completamente descontrolado, sua respiração parecia que ia acabar.

  __ Eu vou ser preso. Eu vou morrer no mesmo dia, sou claustrofóbico e não vou sobreviver.

    Ele chorava muito, estava tão nervoso que parecia que ia entrar em surto.

  __ Calma meu amor, calma. Olha só, eu quero que você faça uma viagem e só volte depois de dois ou três dias, não conte isso para ninguém. Eu vou te ajudar, eu prometo.

   Eduardo e Gabriel saíram dali o mais rápido possível.  Já na sua casa, depois de ter recebido o telefonema de Eduardo dizendo que ele já havia ido embora para outra cidade, Gabriel pensava em um plano para salvar o seu grande amor. Já era quase 22:00 da noite, Gabriel pegou o seu diário e ia contar o que havia acontecido a poucas horas, mas por ter prometido à Edu, ele parou de escrever no mesmo instante.  Até mesmo seu diário poderia causá-lhe problemas.
    Ele então guardou o diário em baixo da cama como sempre, pegou o seu celular e ligou para a polícia contando que havia ouvido tiros e gritos vindo do bosque. Ele sabia o que devia fazer, e por amar tanto Eduardo, ele se acusaria do assassinato de Guilherme Santos.

***

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