Contagem

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Agnes passou alguns anos em modo de defesa, sentiu-se violada em todos os anos em que jogou pelos corvos, mesmo que á escondessem, mesmo que tentasse se esconder, aceitou fazer parte daquele time pra fugir de seu pai "assim como Nathaniel fez" ela pensava. Implorou várias vezes a Riko que ele não colocasse o seu sobrenome de nascimento em sua camisa, implorou pra não ser mostrada ao mundo dessa forma. Era engraçado o quanto Neil e Agnes faziam as mesmas coisas pra não se reconhecerem, pra não serem atrelados a imagem de seu pai, como pintavam os cabelos querendo esquecer da própria imagem, como queriam ser outras pessoas. 
  
Agora não saber como se sentir, não saber como reagir á morte da pessoa que tanto esperava ver, que tanto queria que estivesse viva. Sua mãe estava morta e de novo era Nathaniel que estava com ela, era Nathaniel que pôde fugir com sua mãe, ele quem foi a última pessoa a sentir o calor da mãe, a última pessoa que se despediu, que a viu. Ela não tinha visto sua mãe nos últimos momentos dela. "sera que ela pensou em mim?" Agnes pensava "sera que ela sentia minha falta?". Nenhuma dessas coisas jamais teriam respostas, tanto Nathaniel quanto sua mãe pensavam que Agnes estava morta. Morta pelas mãos do próprio pai, era o que a Agnes estava pra eles antes. Nunca mais teria o amor de sua mãe, nunca mais a veria. "Nathaniel ficou com tudo".

Era segundo lugar, tudo que Agnes seria, segundo lugar, na vida de todas as pessoas que a conheciam, em tudo que conhecia. Na vida de sua mãe, na de seu pai, que nem se importava tanto pra se sentir triste, na vida de Nathaniel, no exy. Em todos os lugares que fosse, seria segunda opção. Procurou tanto pelo irmão, o achou, estava na sua frente agora, mas eram tantas coisas que pensava, que sentia vontade de fugir, correr pra bem longe e desaparecer e conseguiria, sabia que conseguiria, mas assim como Neil um dia precisou, Agnes agora também precisava de alguém que pedisse pra ela ficar e esperava isso de Nathaniel.

Quando se virou e saiu pela mesma porta que entrou e correu pelo campus, Agnes não sabia pra onde estava indo, pra onde queria ir, nem mesmo sabia o que estava fazendo.  Existia uma pessoa que sabia como Agnes se sentia, que sabia como era se sentir em segundo lugar na vida da própria mãe.

Andrew se aproximou de Neil, que estava paralisado, sem saber o que dizer ou fazer.

-Você vai deixar ela fugir?Ela precisa que você fique perto.-Andrew disse baixo para apenas Neil ouvir.

Neil não disse nada, mas andou também até a porta, saiu pelo campus a procura de Agnes. Quando finalmente a achou, sentiu dificuldade em ir até ela, mas foi mesmo assim. sentou ao lado da garota e tentou dizer algo.

-Eu achei que fosse ver ela, achei que fosse encontrar você, encontrar ela também.-Agnes disse.

-Me desculpe, eu não soube como te dizer. Eu estive pensando em algo, a noite toda, eu não dormi.-Neil tentava ser sincero, pela primeira vez estava realmente dizendo algo sincero, dizendo seus sentimentos pra alguém que não fosse Andrew.- Fiquei pensando em como seria, não achei que você pensava que nossa mãe estava viva.

-Esse é um grande detalhe que você esqueceu.-Ela riu.-Agora só parece que estou ainda mais sozinha, que não tenho pra onde ir. Eu não lembro de tantas coisas, não me lembro do rosto dela, não me restou nada.-ela dizia aquelas palavras com dificuldades, já que segurava o choro.- Achei que encontrando você, encontraria ela e então poderíamos ser uma família. Aquele monstro se foi, mas me tirou tudo, quase tirou você de mim também, Nathaniel.

Neil se assustou ao ouvir aquele nome.-Neil.-Ele a corrigiu.- Você não tem que se sentir assim, estou vivo.

Ela olhou para ele, tentando se recordar de seu irmão mais velho, tentou se lembrar do Nathaniel que conhecia, mas não era o mesmo.

-Você pode ficar aqui. Você não tem que ir embora. - Ele dizia, sugestivo.

Ele estendeu sua mão pra ela na esperança de que se ela segurasse, estaria escolhendo ficar por perto, ficar com Neil, eles poderiam ser uma família. Agnes pegou na mão de Neil e o puxou para um abraço.  Não precisavam fugir um do outro e nem de ninguém.



A fox in a hole- AftgOnde histórias criam vida. Descubra agora