Ever Since New York

Um | Welcome To New York

Nova York, 6:00 P.M.

Desfazer aquela mala pesada seria o último desafio do meu longo dia, ainda bem. Não sabia como consegui encaixar tanta coisa em uma mala tão pequena. Fiz de tudo para não ter que pagar por bagagem extra no aeroporto, afinal, o pouco de dinheiro que eu tinha guardado gastei com a minha passagem.

— Saylor? — Alessia, minha nova colega de quarto e a primeira amiga que fiz em Nova York, se aproximou da porta do meu quarto. — Vou estrear a cafeteria. Quer um café?

— Quero! — respondi animada. A cafeína seria mais que bem-vinda depois de todas essas semanas dormindo mal.

Me espreguicei e senti todos os meus músculos doloridos e rígidos, meu corpo inteiro doía. Esse era o preço que estava pagando por cometer essa loucura. Minha vida mudou de repente, foi da água para o vinho em um piscar de olhos.

Um mês atrás eu morava com a minha mãe e minha irmã mais velha na casinha que era da minha avó. Eu tinha uma rotina monótona e planos nada interessantes para o meu futuro. Agora, estava desfazendo minha mala no meu novo quarto em Nova York. Antes de ter que enfrentar o trânsito barulhento de táxis amarelos, arranha-céus majestosos e todo o caos de uma cidade grande, eu era apenas uma menina comum do subúrbio da Carolina do Sul.

E tudo isso mudou por conta de um pedaço de papel.

Um mês inteiro se passou desde que cheguei em Nova York e eu finalmente senti algo que não sentia desde que saí de casa: estabilidade. Após semanas dividindo quarto com estranhos naquele hostel de higiene duvidosa, colchões duros e paredes mofadas; sem conseguir dormir direito por conta de barulhos estranhos vindos do quarto ao lado; Alessia me perguntou se eu gostaria de dividir um aluguel com ela. Eu aceitei sem pensar duas vezes.

Eu estava acostumada a passar as minhas manhãs ajudando a minha mãe em casa, e quando minha irmã chegava do trabalho, era minha vez de sair para meu turno de garçonete no restaurante do bairro. Era com essa rotina de meio período ajudando a mamãe e meio turno trabalhando que eu e Lauren conseguíamos manter a nossa casa e as contas do hospital que estavam acumulando.

Meu trabalho era bem calmo, o restaurante nunca chegava a lotar e os nossos clientes eram sempre pessoas conhecidas e vizinhos queridos. Bem diferente do trabalho que consegui no café do noivo de Alessia. O café do Jasper era cheio de sommeliers de café, apressados e intolerantes. Uma vez fui às lágrimas ao sofrer uma retaliação desproporcional por errar o pedido de uma cliente. Jasper me acalmou e disse que "o ritmo em Nova York era diferente mesmo e eu teria que me acostumar".

Tenho que confessar que o trabalho na cafeteria não era dos meus favoritos, por isso estava tão animada para o meu primeiro dia trabalhando na Ross Enterprises. A Ross era uma das maiores empresas do mundo e apesar do meu cargo ser nada demais, eu estava contando as horas para entrar naquele edifício majestoso. Eu seria assistente de um dos produtores chefes e trabalharia de perto com uma das coisas que mais amo na vida: música.

Na verdade, eu herdei esse cargo de Alessia, que trabalhava na empresa desde que se formou na faculdade. Quando ela foi promovida e viu que estavam procurando alguém para assumir sua antiga posição, não pensou duas vezes em me indicar para vaga. A loira via como eu sofria no café do Jasper, e por ela ter me dado essa oportunidade eu seria eternamente grata. Sabia desde a primeira vez que a conheci que seríamos grandes amigas.

E então os meus dias morando em um hostel nojento e sendo maltratada pelos clientes do Jasper chegaram ao fim. Eu estava mais que pronta para minha nova etapa em Nova York: dividindo apartamento com a minha amiga e me preparando para começar na Ross Enterprises. Assim teria mais tempo para explorar tudo que essa cidade tinha para me oferecer. E claro, cumprir o objetivo original da minha vinda a Nova York.