Capítulo 3: Mentiras e Magia

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Obviamente o caso com a professora de artes foi levado a diretoria. Mas, como não havia provas suficientes contra a menina, como seria impossível uma garota de apenas sete anos fazer tudo aquilo, e ela ser tão educada e estudiosa para fazer isso, ela não foi repreendida de nenhuma forma.

Chegando em casa, Gabriel e Luísa sabiam que ela era capaz de fazer aquilo. Mas não sabiam se poderiam ou conseguiriam repreender da garota.

Se repreendessem Maria Eduarda, ela iria fazer perguntas, perguntas de como conseguia fazer isso. E talvez não tivessem de se preocupar com isso. Talvez foi apenas sem querer, um surto de magia isolado, como de vez em quando perdemos a paciência e gritamos. Quase a mesma coisa na cabeça deles. Mas tiveram de se preocupar, pois Maria Eduarda perguntou:

- Mãe, pai, como eu consegui fazer aquelas coisas na sala da professora Lara?; Ao fazer esta pergunta, os pais de Maria Eduarda ficaram perplexos. Ela tinha consciência do que fizera.

- Mas foi sem querer, eu juro!; Disse a garota, temendo ser repreendida.

Gabriel e Luísa se entreolharam, pensando em uma desculpa. Pensaram em muitos fatores que deveriam considerar antes de contar tudo a ela, como já foram citados.

Depois da troca de olhares, como se fosse também uma troca de pensamentos, decidiram o que contar a Maria Eduarda.

- Maria, como que você acha que você conseguiria fazer uma coisa daquelas? Impossível! Foi só uma invenção daquela sua professora maluca lá.

- Mas eu vi... eu vi os lápis se quebrando, as folhas rasgadas... como aquilo não pôde ser real?

- Pode ficar tranquila Duda. Não foi você. As folhas voando pode ter sido o vento, os lápis pode ser que estavam mofados... não se preocupa com isso.; Disse Gabriel.

Maria Eduarda já saía da sala quando lembra uma outra pergunta que lhe perturbava há alguns dias, se vira e pergunta para os pais:

- Eu sou filha biológica de vocês mesmo?

Mentir mais pra a garota era impossível. Mas ainda assim continuaram persistentes em não contar a verdade. Ou pelo menos parte dela.

- Você chegou quando tinha um ano. Aurora era recém-nascida. Você foi trazida por um homem viúvo. Pelo visto a esposa dele era a única responsável da família e ele não tinha condições de cuidar de você. Ele te deixou numa ONG aqui do bairro e nós passamos por lá, entramos naquela burocracia toda e te adotamos. Mas isso não afeta nosso amor por você. Te amamos do mesmo modo que amamos Aurora.; Disse Gabriel.

Maria Eduarda assentiu e não fez mais pergunta nenhuma. Mesmo com o discurso não convencendo, ela ía saindo da sala quando sua mãe lhe chamou a atenção.

- Aliás, voltando ao assunto da sala de aula, da onde você tirou a ideia daquele castelo?

- Realmente não me inspirei em nenhum lugar. Lembrei das aulas de histórias que falava de uns castelos... nada de mais.; Disse ela. Se eles escondiam segredos, nada mais justo do que omitir suas inspirações pro desenho.

Depois dessa conversa, o casal foi para o quarto onde dormiam. Maria Eduarda fingiu ir até Aurora para brincar, mas no meio do caminho, se virou e se encostou na porta do quarto dos dois. Dava para escutar a conversa:

- Ufa, Gabriel, desta vez, você me salvou. Aquela história de homem viúvo, ONG, lápis mofados... mandou bem, hein?

- Luísa, eu te ajudei naquele papo de pais biológicos e lápis mofados mas que fique bem claro: eu não concordo com essa história de não contar a verdade para ela. Ela tem o direito de saber que...

- Fala baixo! Eu sei disso, mas isso é pelo bem dela. Imagina se ela fica assustada com essa história ou pensa em fazer alguma doideira tipo fugir de casa? Vamos deixar isso quieto. Daí uns dias ela esquece.

- Duda?; Disse Aurora pelas costas de Maria Eduarda. Quase que ela dá um berro de susto mas se segurou. Não queria que seus pais descobrissem que ouvia atrás da porta as conversas sobre seus feitos estranhos.

- Que susto Aurora!; Sussurrou ela; Quer me matar do coração? O que você quer?

- Não quer brincar comigo com a nova boneca que eu ganhei de aniversário da tia Rebeca?; Perguntou Aurora, sempre com aquela carinha de cachorrinho pidão.

Sinceramente, para ela, brincar de boneca era extremamente chato. Estava cansada de sempre ser isso que Aurora queria brincar. Talvez um livro fosse melhor, aqueles jogos de cartas como UNO, um jogo de tabuleiro, acho que até um jogo da memória seria melhor. Mas, sempre, mesmo não querendo brincar disso, respondia para Aurora:

- Vamos, essa boneca que você ganhou esse ano é linda!; Disse ela, tentando ser carinhosa e parecer interessada.

Bom, alguns anos se passaram destes acontecimentos de quando Maria Eduarda tinha 7 anos. Luísa não estaria tão errada ao fazer a afirmação de que sua filha esqueceria tudo rapidamente.

Ela realmente se desligou um pouco disso, mas sempre que podia tentar arrancar alguma informação dos pais ela tentava. E, também, o caso com a professora de artes não foi o único incidente estranho com ela.

Um dia, por exemplo, quando Maria Eduarda tinha 10 anos, a família dela entrara numa loja de roupas, um pouco mais cara do que costumavam frequentar, pois era aniversário de Aurora que iria fazer 9. Uma mulher foi atendê-los, mas era visível que os tratava com desprezo por serem pobres.

Por ser aniversário de Aurora, foram comprar alguma roupa para ela, mas aproveitaram para comprar também para Luísa, Maria Eduarda e Gabriel.

A cada roupa que a mulher mostrava, mais desprezo demonstrava, indagando-lhes se haveria dinheiro suficiente para pagar, entre outras coisas desagradáveis.

Pois Maria Eduarda se deu a missão de dar uma lição na atendente. Mais uma vez com sua magia invocada pela raiva, fez as sacolas de compras voarem e pousarem em cima da cabeça dela, deixando-a sem ver nada.

Ela tropeçou, trombou em um monte de gente, e ainda, quando passava próxima aos provadores de roupa, Maria fez a porta se abrir repentinamente e bater na cara dela, derrubando-a.

Desta vez, se perguntassem sobre, não poderia afirmar que foi "sem querer." Ainda bem que desta vez ninguém lhe indagou sobre.

Castelobruxo Vol 1: A Magia ElementarOnde histórias criam vida. Descubra agora