Capítulo 2: Duas Filhas

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A partir daquele 28 de novembro de 2012, Luísa e Gabriel seguiram as ordens do homem, mesmo sem compreender porque lhes entregaram a criança e também a magia do isqueiro e o mistério do que haveria escrito na carta acidentalmente perdida.

E também, lhe deram o colar de pedra verde aos cinco anos.
Nem precisavam regulá-lo em tamanho, ele simplesmente aumentava de forma imperceptível.

Nunca pensaram em abandonar Maria Eduarda, se arrependeriam disso pelo resto da vida.

Mas, óbvio, como em toda família normal, há problemas, pequeninos dilemas.

Por exemplo: como explicariam sua chegada na casa? Ela perceberia. Ela e os pais tinham diferenças notáveis em aparência.

Gabriel e Luísa haviam pele morena, bronzeada de sol e tinham os cabelos completamente pretos e cacheados, assim como Aurora, filha biológica. Maria Eduarda, como tecnicamente filha "adotiva" não tinha a aparência parecida com a dos pais. Havia a pele branca muito clara, cabelos castanhos e lisos e era alta, ao contrário de seus pais e sua irmã.

Se falassem que ela era adotada, não estariam mentindo, porém não falariam a verdade. Estariam omitindo a maior parte da história. Se contassem todos os acontecimentos completos, por dedução, Maria Eduarda chegaria a conclusão que era uma bruxa. E se desse com a língua nos dentes e falasse para Deus e o mundo sobre isto?

O problema nem era a reputação do casal (que já não era muito boa se me permitem dizer) e sim a possível perseguição ou de os homens de verde os encontrarem devido a falação sobre o assunto.

Além do mais, não saberiam dar a ela os devidos detalhes e deixariam muitas perguntas no ar. Porque ela foi entregue à eles? Porque justo à eles? Como funcionava esta história de bruxaria? Bruxos existiriam? Porque teriam de esperar ela completar 11 anos para segundas ordens?

Acabaram por optar por esperar até que ela percebesse a diferença de aparência ou algum acontecimento fora do comum que tivesse a ver com tal acontecimento e lhes fosse perguntar como teria chegado àquela casa.

Neste momento decidiriam o que lhe contariam ou lhe deixariam de contar. Só não esperavam que este acontecimento fosse tão instantâneo e rápido.

Com quatro anos de idade, eles a colocaram na escola no primeiro período como a lei nacional manda. A Aurora entraria no ano seguinte pois Maria era pouco menos de um ano mais velha. Até quando ela chegou ao segundo ano quando tinha 7 anos, foi tudo normal. Mas, pouco antes das férias de julho como todo ano, houve uma situação na escola com ela, considerada no mínimo peculiar.

Maria Eduarda era muito educada, recebera uma ótima educação ao ser criada por Luísa e Gabriel. Tinha algumas poucas amigas além de Aurora na escola, sendo a maioria delas mais velha que ela uns três ou quatro anos. Os pais estranharam isso. Isso não era tão comum de se acontecer com uma garota de apenas 7 anos.

Quando perguntada sobre isto, ela apenas respondia que as mais novas só gostavam de outros assuntos que não a agradava e elas só brincavam. Ela disse que gostava mais das mais velhas pois sabiam conversar de diversos assuntos e gostavam de assuntos que ela gostava.

Os dois ficaram pensativos sobre isto. Como crianças de 10 ou 11 anos teriam assuntos interessantes para crianças de 7 anos? Mas, até aí tudo bem, normal ela querer ter amigas com assuntos em comum.

Mas, em meio a isso lembraram outro caso do passado, coisa de seus primeiros anos.

Ela também apendera a falar e a ler precocemente. Quando chegou a casa com 1 ano já sabia falar praticamente fluentemente, estimando ter começado o básico aos 6 meses e a ler com 4 anos, antes mesmo de frequentar a escola.

Desesperados procuraram médicos para descobrir a explicação para isso. Nenhum deles conseguira. No máximo deram uma desculpa de que era um "desenvolvimento precoce do cérebro." Não conseguiram digerir bem essa afirmação.

Tinham duas coisas para acreditar: ou era magia, ou a filha deles era como aquelas pequenas crianças com inteligência avançada que mostravam na TV.

Como ainda havia uma chance (mesmo que praticamente nula) de haver uma explicação científica sobre seu aprendizado acima do nível normal, deixaram o assunto de lado e esperaram um acontecimento de maior magnitude.

Mas, quando as férias de Julho ficaram próximas como foi citado, houve um acontecimento estranho. Os alunos do segundo ano (turma de Maria Eduarda) estavam na aula de artes.

Apesar de todas aquelas suas qualidades, Maria Eduarda era péssima em desenho. Como a professora era muito exigente, em especial com ela, Maria Eduarda sempre tinha de ficar um tempo depois da aula até fazer algo que a professora considerasse ao menos "aceitável".

Nessa aula em específico, mais precisamente um 26 de junho, a professora mandara que desenhassem uma paisagem. A maioria das crianças desenharam praias, como era comum no Rio, campos rurais ou florestas. Nada ficou um desenho "maravilhoso", pois eram crianças apenas de 7 anos mais a professora aceitou todos.

Maria Eduarda fora a última a entregar o trabalho. Havia um diferencial nele. Mesmo com aqueles rabiscos dela, dava para entender o que desenhara. Ela desenhou um castelo rodeado por árvores e água, além de algumas criaturas esquisitas não identificadas pela professora.

Como sempre, depois da aula a professora a chamou quando tocou o sinal. Era a última aula. Mesmo assim a chamou:

- Maria Eduarda! Espere aqui!; Disse ela com a mesma "educação" de sempre.

- Pois não professora Lara?; Perguntou Maria Eduarda. Já sabia muito bem o que viria a ser o chamado, e sua vontade não era falar isto, mas optou por sua boa educação recebida em casa.

Quando todos os alunos se retiraram com suas mochilas, preparados para irem para casa, a professora a respondeu:

- Da onde você tirou esta paisagem?; Disse mostrando-lhe a folha de desenho.

- De nenhum lugar em especial professora. Apenas imaginei que existisse algum castelo em uma floresta. Adoro história, me entende?; Explicou. Enquanto dizia, passava suas mãos pelo colar. Sentia que não era confiável dizer sua real inspiração.

- Hum... sei.; Resmungou Lara.; Mas além da paisagem um tanto diferente das demais, você desenhou muito mal como o de costume, e desenhou coisas que não existem. Olhe isto.; Disse mostrando as estranhas criaturas rabiscadas.

- Era pra parecer um cachorro professora. Me desculpe.; Disse a criança. Mentira novamente com a mesma intuição e punha a mão no colar.

- Pois então faça de novo aqui e agora.

Quando vira a professora lhe estender o papel para refazer a figura, ela sentiu raiva. Já perdera as contas de quantas vezes ficara lá depois do horário refazendo seus desenhos, sendo que a maioria de suas colegas desenhava igual ou pior que ela.

Tentava se conter. De alguma forma, sua raiva a fez rasgar a folha, mas sem tocá-la. A professora lhe olhou incrédula mas não disse nada. Aquilo não era possível.

- Essa folha é muito fraquinha. Pegue esta outra e refaça.

Desta vez, as janelas se abriram e a folha voou da mão da professora.
Ela tentou novamente, ainda incrédula e tentou lhe dar mais outra.

A última tentativa foi a mais impressionante. A folha pegou fogo e se tornou cinzas na mão da professora.

- Olhe mocinha, eu não sei o que está fazendo mais eu acho melhor parar!

Todos os lápis se quebraram no pote da professora. Todas as folhas foram picotadas e seus restos voaram pela janela junto dos lápis. E ainda por fim, o salto que a professora estava, se partiu, e ela caiu no chão.

Nessa hora, Luísa chegava dentro da sala de aula para ver o porquê da demora da filha.

- Filha, você ficou para depois do horário de no...; Dizia ela, ao se deparar com a cena.

- Ela, ela, ela... ela é uma bruxa!; Disse a professora Lara em tom de apavoro apontando seu dedo para a garota.

Castelobruxo Vol 1: A Magia ElementarOnde histórias criam vida. Descubra agora