Celestia P.O.V
Hoje foi a primeira vez que consegui tomar banho antes de todos os outros. A maioria dos machos estavam festejando alguma coisa no refeitório, o fedor de vinho me deixou enjoada. Os que não estavam enchendo a cara, estavam trepando com alguma fêmea num beco escuro. Eu não sabia o motivo da celebração e nem fiz questão de saber. Eu saí da banheira, me enxuguei e comecei a arrumar minhas ataduras, as apertando com força o suficiente para eu sentí-las firmes, depois vesti uma camiseta preta de gola alta e mangas compridas e uma calça moletom.
Eles tinham disponibilizado muitas roupas para os cadetes, havia sido difícil encontrar algo que fosse minimamente do meu tamanho, mas consegui achar alguma coisa de meu agrado. Escolhi a camiseta de manga comprida não só pelo frio que assolava o acampamento pela noite, mas também para cobrir meu braço e evitar olhares curiosos. Quando saí do banheiro, dei de cara com Atlas, ele estava passando por ali e, assim que me viu, parou. Ele me encarou, olhos castanhos respingados de verde extremamente questionadores, inteligentes, me perguntando o que ele queria saber sem, de fato, dizer as palavras.
O olhei brevemente e continuei meu caminho, o sentindo me acompanhando. Suspirei cansada, pensando qual era a obsessão desses machos em me seguir. Eu não tinha um cheiro feminino, tinha dado um jeito nisso quando fiz o feitiço de metamorfose, então eu não tinha ideia do que eles viam em mim.
— Posso te fazer uma pergunta? — Atlas se aproximou, andando ombro a ombro comigo. A mera voz dele já estava me irritando.
— Isso já é uma pergunta.
— Então vou te fazer uma segunda pergunta. — Atlas falou, com um tom brincalhão que era tão raro vindo dele. Nunca havia visto Atlas falando mais do que o necessário, até mesmo quando ele falava, era num tom baixo e contido. — Qual o seu problema com as sopas daqui?
Parei imediatamente de andar, olhos agora vidrados no rapaz ao meu lado. “Minha mãe fez uma sopa da própria cara e me forçou a comer”, “A aparência parece água de esgoto”, “O cozinheiro já pegou uma cenoura com a mão suja e colocou na sopa quando ninguém estava olhando”, essas foram as respostas que se passaram em minha cabeça, juntamente de outras como “Vá se foder”, “Cuide da sua vida”, “Vou arrancar sua língua”. No entanto, tudo que eu disse — que consegui dizer — foi a coisa mais normal que pensei em falar sem dar espaço para mais perguntas.
— Não gosto de sopas. — Enfiei as mãos nos bolsos da calça moletom e continuei andando.
— Mas você não gosta da sopa daqui ou da sopa de qualquer lugar? Você tem que gostar de algum tipo de sopa, não é possível.
Ignorei seu monólogo e continuei minha caminhada. Ethan estava do lado de fora do refeitório, tinha um copo de vinho na mão e conversava animadamente com um macho que eu sabia que era capitão de algum esquadrão. Passei por ele sem chamar sua atenção e senti Atlas ficando para trás, se juntando ao seu gêmeo. Andei e andei e andei mais um pouco, sem rumo, apenas organizando tudo que tinham me dito em pequenas pastas na minha cabeça. O clima noturno estava congelante como sempre, eu sentia minhas bochechas e meu nariz quentes por causa do vento frio. Soltei um suspiro rápido, vendo a fumaça gelada escapar da minha boca e se fundir com a brisa da noite. Optei por me sentar em uma pedra localizada no alto de uma pequena colina, lá me oferecia uma visão privilegiada da enorme floresta que antecedia as estepes. Além de que era fora de vista do acampamento, ou seja, só me veriam ali se realmente estivesse me procurando.
— Por que não está festejando com os outros? — A presença do General veio antes de sua voz, então não me surpreendi quando ele se aproximou de mim, embora preferisse que ele não se aproximasse.
— Não gosto de multidões.
— Você me lembra alguém. — Cassian se sentou ao meu lado, também olhando para frente, observando as árvores.
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FÚRIA ESCARLATE - acotar
FantasyQuando Celestia saiu para caçar mais cedo, ela não sabia que enterraria suas irmãs no final do dia. Em busca de vingança, ela será capaz de tudo, desde trocar de nome até derramar o sangue daqueles ao seu lado. A linha entre a loucura e a sanidade é...