Prólogo

20 3 3
                                    

Alerta de: Canibalismo, assassinato, violência e nudez infantil.

Leia por sua conta em risco.
----------------

Celestia sentia seus pés arranhados pelas pedras pontiagudas. Não era uma sensação agradável, ardia e queimava. Suas botas já estavam surradas o suficiente para não conseguirem proteger seus pés tão bem assim. Ela havia saído e ido até o acampamento para pegar uma encomenda para seu pai, encomenda essa que era pesada demais.

Os homens illyrianos, esbanjando sua testosterona e flexionando as asas cada vez que uma fêmea passava a fazia ter um gosto ruim na boca. Ela não poderia nem sequer sonhar em flexionar suas asas na frente daqueles machos com ego frágil e masculinidade exagerada, não quando suas asas eram tão ridiculamente grandes e pesadas e indestrutíveis. Qualquer macho que ousasse competir consigo em questão de tamanho iria se sentir tão humilhado que desistiria de seu cargo de guerreiro. Esse era um dos motivos de não lhe terem cortado as asas quando sangrou pela primeira vez, eles haviam tentado, tentado diversas vezes e de todas as formas possíveis.

Homens guerreiros, treinados e forjados pelo puro ferro e brutalidade, haviam golpeado suas membranas com as espadas mais afiadas de seu arsenal, e Celestia nem sequer sentiu dor, nem sequer um arranhão foi feito nelas. Então, quando viram que nada poderiam fazer para tirar daquela fêmea a habilidade de voar que lhe fora dada ao nascimento, os guerreiros partiram com a promessa que se não fosse Celestia, seria suas irmãs.

— Estou em casa. — Celestia adentrou o velho chalé que vivia com sua família e colocou a caixa no chão.

— Celly, Celly! — Cassidy veio correndo até si e Celestia logo se adiantou para pegá-la nos braços.

Catherine veio logo em seguida, mais lenta e tímida, porém se agarrou às vestes de Celestia como se sua vida dependesse disso. E dependia, porque tirando a miséria que seu pai ganhava em apostas quando, de alguma forma, conseguia usar a cabeça, era ela quem botava a comida na mesa.

— Ah, finalmente, achei que nunca iria chegar. Você continua lenta, Celestia. — Carlos, seu pai, se apressou até o chão e agarrou a encomenda.

— O acampamento não é exatamente perto, saberia disso se você mesmo tivesse ido buscar. — Celestia falou sem olhar para o pai.

Olhava, ao invés disso, para Catherine que estava com o rosto enfiado em sua saia surrada. Já Cassidy se distraía com o cabelo exageradamente branco de Celestia, enrolando-o nos dedos e fazendo pequenas tranças. A atenção para as crianças não durou muito, pois os olhos vermelhos-sangue de Celestia encararam o pai que agora abria a caixa recém chegada como um homem desidratado procurando água.

— Você pelo menos deu alguma coisa para elas comerem? — Celestia rosnou, o estresse e a impaciência eram sentimentos tão comuns quando pensava em seu pai que já havia virado uma resposta automática de seu cérebro sempre que ele abria a boca.

— Ahn? Aham. Fale com sua mãe sobre isso. — Carlos nem sequer olhou para cima e continuou com a cara enfiada nas suas bugigangas. Se Celestia prestasse um pouco mais de atenção, talvez notasse o sorriso maligno crescendo lenta e perigosamente no rosto de seu pai, esticando seu rosto, o deixando com um aspecto bizarro.

Celestia deu um longo suspiro, pegou a mão de Catherine e começou a guiá-la até o quintal, onde sua mãe geralmente ficava se admirando no espelho de uma velha penteadeira que tinha trazido de sua antiga casa, quando ainda não era considerada uma bastarda. Cassidy ainda estava em seu colo, agarrada na gola de seu vestido maltrapilho.

— Mãe, você deu alguma coisa para as meninas comerem? — Celestia falou em alto e bom som, tentando fazer a mulher ouvi-lá seja lá de onde estivesse.

FÚRIA ESCARLATE - acotarOnde histórias criam vida. Descubra agora