Capítulo 20- Saída

2 0 0
                                    

A morte da mãe de Luana transformou completamente o seu pai. Ele se tornou um verdadeiro monstro, movido por uma sede insaciável de poder. Cada escolha parecia guiada apenas pelo desejo de ter mais e mais controle.

Luana jamais perdoou o pai pelo que ele fez. Para ela, essa foi a pior traição que ele poderia ter cometido. Ele a vendeu em nome do poder, algo imperdoável aos olhos dela.

Ela jurou que ele pagaria por essa traição, mesmo que isso fosse a última coisa que fizesse em vida.

Luana permanecia no mesmo lugar desde a visita do filho da líder das Damas da Noite. Depois de sua aparição, ela não abriu mais a boca para falar com ninguém.

Ninguém da família real demoníaca foi procurá-la. Com o passar do tempo, ela descobriu que o rei estava em um país vizinho, em uma visita política, e demoraria para voltar. Curiosamente, os soldados pareciam mais ansiosos pela decisão do rei do que a própria família real.

Luana sabia que precisava da ajuda da Dama da Noite antes que o rei demônio retornasse. Se o filho da líder estava vivo, certamente outros sobreviventes da matança das Damas da Noite também estariam.

Sentada no canto da cela, perto de uma janela alta e estreita, Luana lutava para sobreviver. Não comia há mais de três dias. Apenas lhe entregavam água ocasionalmente, o suficiente para que não morresse de sede.

Quase adormecendo, ouviu um barulho baixo vindo da janela, seguido por uma voz sussurrada:

— Luana, está aí?

Era o filho da Dama da Noite. Para ele, a janela parecia baixa, pois a cela de Luana estava em uma depressão abaixo do castelo.

— É óbvio que estou — respondeu, com a impaciência característica.

O menino respirou fundo, lembrando-se de como Luana odiava perguntas óbvias.

— Sei como tirá-la daqui, mas você vai precisar usar magia. Ainda tem mana?

Luana hesitou. Desde que saíra do lago, sentia-se vazia. Já sabia que não conseguiria usar magia.

— O lago retirou toda a minha mana. Não sobrou nem alma... imagine mana.

O menino arregalou os olhos, alarmado.

— Alma? Como assim não sobrou alma?

Antes que ela pudesse responder, os guardas se movimentaram do lado de fora, como se tivessem ouvido algo. Luana baixou ainda mais o tom de voz:

— Não dá para falar sobre isso agora. Depois eu explico.

Ele assentiu, concentrando-se em um plano para libertá-la. A janela tinha uma magia de proteção. Para tirá-la de lá, seria necessário usar um feitiço de quebra.

— Tente reunir qualquer resto de mana que ainda tenha. Só precisa dizer "dapo" para quebrar o feitiço. Você sabe qual magia é essa.

— Vou tentar.

O menino começou a entoar o feitiço do lado de fora, enquanto Luana buscava qualquer resquício de magia dentro de si. Na primeira tentativa, nada aconteceu. Nem na segunda, nem na terceira. Na quarta, ela começou a entrar em pânico.

"Nada de magia, nada. Como isso é possível? Eu era um poço de magia!"

Vendo sua aflição, o menino tentou acalmá-la.

— Respire fundo. Pense em algo que você deseja mais do que tudo. Algo que te motive.

Luana fechou os olhos, levando as mãos à janela, e se concentrou.

"Vingança."

Assim que a palavra surgiu em sua mente, a magia da janela se desfez. O menino sorriu do lado de fora, arrancou a grade e estendeu a mão para ela.

— Vamos, rápido! — disse ele.

Nesse momento, os guardas ouviram o barulho e começaram a correr em direção à cela.

— Assassina! O que está fazendo aí dentro? — gritou um deles, tentando destrancar a porta.

Luana tentou subir pela janela, mas seus pés escorregaram. O tempo estava acabando, e os guardas estavam prestes a entrar. Com mais determinação, ela ajustou os pés e finalmente conseguiu alcançar o lado de fora, mas não sem chamar a atenção dos soldados.

— Parem aí, agora! — gritaram os guardas, correndo para tentar segurá-la.

O menino a puxou com força, fazendo com que caísse sobre ele do lado de fora. Sem perder tempo, ela disse:

— Corre! Agora!

Os dois dispararam em direção ao rio próximo. Atrás deles, cerca de dez guardas os perseguiam, disparando flechas que passavam raspando, mas nenhuma os acertava.

"Isso é fácil", pensou Luana. "O treinamento para ser uma Dama da Noite era cem vezes mais difícil."

Ao chegarem ao rio, os dois se jogaram na água. O rio era fundo, e os guardas perderam o rastro deles. Para não se separarem, seguraram-se pelas mãos enquanto eram levados pela correnteza.


Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Nov 29, 2024 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

A menina do lagoOnde histórias criam vida. Descubra agora