junho

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O são João tinha chegado, as portas do hospital tinham decorações feitas a mão, bandeirolas coloridas e fogueiras coladas nas portas e paredes. Não era a primeira vez que Davi via essas decorações no hospital já que ia até lá frequentemente.
O ar do hospital parecia fazer sua tosse piorar, sua garganta parecia estar machucada de tanto tossir.
Ele estava sentado na sala de espera junto com uma dúzia de pessoas, ao lado dele estava seu pai, resolvendo coisas do trabalho em seu celular e impaciente com a demora para serem atendidos. Dessa vez parece que não era nada sério, só um check-up pra ter certeza que Davi estava saudável.

Depois de meia hora Davi foi chamado, ele e seu pai se levantaram e foram até o consultório 4, onde uma moça ruiva de aparência simpática os esperava.

– Olá, você que é o Davi?

Davi se sentou em uma cadeira e seu pai em outra, desligando seu celular.

– Uhum.

O check-up começou, Davi respondeu perguntas, foi pesado e teve um exame de sangue agendado, ele teria que voltar lá em alguns dias.
O pai de Davi respondeu perguntas e mostrou alguns exames que seu filho já tinha feito, a médica pegou os papéis e leu um por um.

– Hm..

Enquanto lia os exames, a moça ruiva parava e observava Davi de cima a baixo, ela parecia estar pensando em algo.

Foi um check-up bem demorado, mas depois do que pareceu ser uma eternidade, Davi foi liberado e saiu do consultório com seu pai, que estava carregando mais alguns papéis para fazer mais alguns exames. Os dois entraram no carro e o pai de Davi começou a dirigir até em casa.

O garoto de cabelos tingidos pegou seu celular, que tinha ficado no carro e ligou, ele tinha 3 ligações perdidas de Bruno, talvez fosse algo importante. Ele mandou algumas mensagens para seu amigo perguntando o que ele queria.

O caminho de volta pra casa foi chato e quieto, Davi e seu pai não conversaram até o carro ser colocado na garagem, quando o homem ranzinza saiu do carro e entrou em casa enquanto mandava seu filho ir começar a responder as atividades de férias que sua escola mandou.

Hoje era o primeiro dia de férias de todos na escola de Davi, ele tirou boas notas em quase todas as matérias e conseguiu passar sem ficar de recuperação, então ele foi para o quarto e fingiu estar estudando pra poder ligar para Bruno, que atendeu no mesmo minuto.

– Oi Davi! - o garoto berrou assim que atendeu a ligação - Eu te liguei hoje mais cedo pra perguntar se você queria ir na biblioteca comigo mas você não atendeu, tava dormindo?

A ligação estava cortando e o áudio estava péssimo, provavelmente Bruno estava andando na rua e falando no telefone.

– Não, eu tava no médico, mas não foi nada demais.

Davi explicou e começou a andar pelo quarto enquanto falava com seu amigo, que parecia ter muita coisa pra falar.

Bruno falou por bons 20 minutos sem parar, e Davi se deitou em sua cama e ficou apenas ouvindo ele falar sobre como suas férias tinham começado e como ele estava de recuperação em 5 matérias e sobre algumas brigas que ele arrumou com alunos e professores.

– Davi? - Bruno chamou, percebendo que aquilo era um monólogo e não uma conversa - Dormiu?

O outro garoto realmente estava quase dormindo enquanto ouvia a voz de Bruno em silêncio.

– Ainda não, pode continuar falando.

– Ha! Então, depois que o sinal tocou eu..

O monólogo continuou por 2 horas inteiras, só acabou quando Bruno percebeu que Davi tinha dormido e terminou a ligação pra ir tomar um banho ouvindo música.




Agora já era dia 29 de junho, o mês estava quase acabando e Davi não tinha começado aproveitar suas férias já que de repente começou a fazer exames e ir ao médico quase todos os dias e quando não estava no médico estava doente em casa e morrendo de tédio.

Bruno já tinha o convidado pra ir em vários lugares, mas ele nunca conseguia sair de casa. As dores em seu peito pareciam mais fortes e a tosse também piorou, ficar murchando em casa não estava o deixando mais saudável.

– Ai que saco..

Davi reclamou, deitado em sua cama e olhando para o teto enquanto pensava em algo pra fazer. Ele se virou pra um lado e depois para o outro, depois se sentou na cama e olhou para a janela, vendo Bruno ali.

O garoto de cabelos tingidos sentiu seu coração parar por um segundo pelo susto e quase deu um grito, mas foi até a janela para abri-la.

– O-o que você tá fazendo aqui?! - ele perguntou - Como você entrou? Aqui é o segundo andar!

Bruno entrou no quarto pela janela e tirou a poeira de suas roupas.

– Eu subi na árvore até chegar ali no telhado.

Ele explicou como se fosse algo comum e se sentou na cama de Davi.

– Eu vim te ver! Você tá meio que preso em casa.

Davi sorriu e se sentou ao lado de Bruno.

– É, tô indo no hospital o tempo inteiro, meu pai acha que eu tenho alguma coisa.

– Alguma coisa tipo?

– Não sei, alguma doença.

Os dois ficaram conversando sobre a saúde de Davi e depois sobre para onde eles podiam ir depois que o garoto ficasse livre dos hospitais.

Davi só parou de falar quando ouviu seu pai subindo as escadas, ele tapou a boca de Bruno com a mão e arregalou os olhos.

– Merda- Meu pai tá vindo aqui!

– E daí?
Bruno perguntou com a voz abafada pela mão de seu amigo.

– Ele não gosta de você e não sabe que você invadiu a casa! Vai, entra no guarda-roupa!

Davi sussurrou e puxou Bruno pra fora da cama, depois o empurrou pra dentro de seu guarda roupa e fechou a porta ao mesmo tempo que seu pai abriu a porta do quarto.

– Se arruma, você tem uma consulta em uma hora.

– De novo? Não é possível.

Só um ano.Onde histórias criam vida. Descubra agora