You may not be that bad

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I still remember the moment we met
The touch that he planted, the garden he left
I guess the rain was just half that effect

Heaven - Julia Michaels


- Só pode ser brincadeira - eu resmungo vendo Nicholas com um beck na mão, os cabelos loiros desgrenhados e seus olhos verdes com um olhar perdido. Nunca tínhamos nos esbarrado antes aqui no campus, mas parece que depois que nos conhecemos o universo está conspirando contra mim. Quando ele ouve minha voz, se vira na minha direção e parece tão surpreso quanto eu - Veio ver se eu cheguei segura aqui também? - pergunto em tom de brincadeira e ele dá um sorriso de lado, parecendo chapado. Nicholas se aproxima e observa meu caderno e celular jogados na grama.

- O que você está fazendo?
- Minha turma foi liberada até 15:30 para fazermos um trabalho.
- E não foi fazer com as suas amigas?
- Quero ficar um pouco sozinha hoje, estou meio estressada com algumas coisas.
- Quer que eu saia? - ele pergunta educadamente e eu quase não reconheço o garoto babaca que vi até hoje. Será que a solução é deixar ele chapado a maior parte do tempo em que estamos juntos? O observo intrigada, tentando entender suas mudanças bruscas comportamentais, enquanto ele dá uma tragada em seu beck - Quer dar um tapa?

Fico em silêncio, tentando processar esse novo comportamento e por algum motivo resolvo lhe dar uma segunda chance.

- Claro - sorrio desconfiada e ele me passa o beck - Quer se sentar? - Achei que você quisesse ficar sozinha.- Bom, não posso te expulsar de um lugar público. Sinta-se à vontade para se sentar, caso você fique sem falar nenhuma merda - me sento no mesmo lugar de antes e dou um sorriso simpático. Por fim ele se senta, encostado na mesma árvore que eu, porém virado para outro lado, de modo que não conseguimos nos ver. Nossos ombros quase se encostam por conta de nossa proximidade, e sinto um leve formigamento no local.

Ficamos alguns minutos fumando em silêncio, apenas curtindo, até que a brisa começa a bater e eu me sinto um pouco mais desinibida e começo a falar sem pensar.

- Mas e você, por que estava andando por aqui com essa cara de cachorro que caiu da mudança?
Nicholas fica em silêncio e viro meu rosto, observando seu perfil. Ele abre e fecha a boca algumas vezes, em dúvida do que falar.
- Pode ser sincero, não vou julgar, prometo - ofereço meu mindinho para ele, que acaba aceitando, enroscando o seu no meu, selando uma promessa mútua. - Eu estou passando por algumas questões pessoais, não estou no meu melhor momento e, pra ser totalmente sincero, fiquei incomodado com o que você disse ontem.

Ele vira seu rosto na minha direção, provavelmente tentando decifrar minha reação. Só que ele me olha com uma cara muito engraçada e eu mordo os lábios tentando segurar o riso.

- Você prometeu... - minha gargalhada interrompe qualquer coisa que ele pudesse falar e ele me olha indignado, o que me faz rir mais ainda. Sinto meu rosto queimar e minha barriga doer e acabo me deitando no chão, chorando de rir. Vendo essa cena, Nicholas começa a rir de mim e em poucos minutos, parecemos dois malucos rindo sozinhos com crise de riso.

Após um tempo, conseguimos parar de rir e eu enxugo as lágrimas do meu rosto. Nos encostamos novamente na árvore, dessa vez um pouco mais perto um do outro e observo seu rosto minuciosamente.
- Você está todo vermelho, juro - ele faz uma careta, o que me faz sorrir - Até sua testa e seu pescoço.- Bom, você não está muito diferente de mim, ainda está com os olhos inchados de chorar - ele sorri também sem quebrar nosso contato visual - Você acabou de quebrar uma promessa de dedo mindinho, você tem noção da gravidade? - ele fala lentamente, completamente chapado, como se realmente fosse algo muito importante e eu tivesse traído sua confiança. - A culpa - eu começo a falar enrolada e me sento virada na sua direção, desencostando da árvore. Encosto meu dedo indicador em seu peito - É toda sua!- Minha?! - ele parece indignado- Sim! Você que estava com um beck. Nem conta essa crise de riso, não quebrei promessa nenhuma!- Eu não coloquei uma arma na sua cabeça e te obriguei a fumar, a culpa não é minha.

Ele fecha os olhos e encosta a cabeça na árvore.

- Mas então, eu juro não julgar, continua o que você estava contando - falo mais baixo, torcendo pra ele se abrir. Após essa crise de riso e de nossos humores estabilizarem, me sinto chapada de um jeito mais reflexivo e fico viajando em meus pensamentos.- Fiquei meio chateado imaginando que as pessoas poderiam se aproximar de mim só por conta do dinheiro - ou porque você é muito gato. Completo mentalmente. - Mas você nunca tinha pensado nisso antes? - Claro que já. Só evito ficar com isso na cabeça, porque toda vez eu fico dessa forma. - Legal? - pergunto e ele solta uma risada nasalada - Mais humilde? Menos babaca?- Aceitarei isso como elogio. - Acho que está mais para uma crítica construtiva. - Não me importo. - Já pensou que você pode tentar afastar as pessoas com sua grosseria por conta disso?- Agora eu não sei se você está tentando me ofender ou me ajudar.
Sua pele reflete o bronze do sol e ele abre seus olhos, que estão ainda mais claros devido à luminosidade, realçando ainda mais sua beleza, algo que eu julguei ser impossível. Ele possui um ar angelical, divino. Dou de ombros deixando ele refletir sobre o que eu disse e viro meu rosto. O silêncio se instala novamente e o sinto me observar ainda, após alguns segundos sinto minhas bochechas começarem a queimar, ficando vermelhas, e olho novamente para ele, o encontrando com um olhar indecifrável..

- Para de olhar pra mim - resmungo, tentando quebrar o silêncio, e coço meu pescoço, desconfortável.
- Mas eu não quero - ele fala simplesmente e continua me olhando com certa admiração - Você fica fofa corada assim.

O olho surpresa com o elogio repentino e sinto meu rosto ainda mais quente. Que porra.
- Não sabia que você era do time do basquete - comento, puxando assunto.
- Achei que minha altura entregasse - ele sorri de lado

- Você tem o que? 1,87?
- 1,92 na verdade - assinto com a cabeça e ele logo fala - Eu já tinha te visto jogando antes. Mas não sabia quem era você.
- Nossa sério?
- Sim, eu fui assistir um dos jogos do campeonato ano passado, porque ficava com a Camille.

Não sei porque mas ouvir isso me incomodou um pouco. 

- Ah, legal - olho para minhas mãos e brinco com meus dedos - Você não era capitão ano passado, era?
- Não. O Tim formou no final do ano, então acabei ficando com seu lugar. 
- Vamos ver se você vai ser um bom capitão - falo o provocando - O masculino nunca superou o feminino em quantidade de títulos - sorrio convencida - Então espero que vocês possam aprender bastante com a gente!
- Que gentileza da sua parte, capitã - ele sorri ironicamente - Mas falando nisso, eu estava pensando em propor um churrasco pros treinadores, pra todo mundo se conhecer melhor.
- Nossa, acho que seria muito legal, pra geral se conhecer melhor né. 

Continuamos conversando sobre vários outros assuntos e nem vemos o tempo passar. Meu telefone toca, me assustando.

- Cadê você, gata? - ouço a voz de Zoe do outro lado da linha- To na floresta, por que?- A aula já vai voltar minha filha, não viu a hora não?- Afasto meu celular do rosto e observo a hora, 15:40.- Nossa, perdi completamente o horário, vou pegar minhas coisas e ir praí. Obrigada, Zoe!

Desligamos e eu começo a juntar minhas coisas.

- Vou ter que voltar, a aula tá começando - falo e percebo um pouco de desapontamento em seu olhar. - Não é melhor esperar a onda passar? - Tô bem, quase sóbria, já tem quase duas horas que a gente fumou - ele arregala os olhos- Nossa, passou muito rápido.
Ele se levanta e me acompanha, enquanto saímos da floresta. Caminhamos em silêncio até o momento em que nossos caminhos se separam.

Lembrem de votar <3

A Filha do XerifeOnde histórias criam vida. Descubra agora