Everything has changed | Tayvis

Everything has changed - Capítulo 04

TRAVIS'S POV

DIA UM. 🏝️

Às vezes eu acho que minha vida seria mais fácil se eu tivesse inteligência emocional. Como não tenho – e é tarde demais pra começar a ter – passei as últimas três horas me afogando em taças de tsipouro, sendo simpático com os convidados da Giulia e fingindo que não me importo com o fato da minha ex estar aqui, tirando selfies com meus pais. Quase penso que caí na toca do coelho da Alice e entrei numa realidade paralela onde nós tivemos um ótimo término, porque não é normal que alguém seja tão cara de pau assim.

Quando eu e Selene terminamos, eu achei que seria melhor não comentar com ninguém que encontrei ela na cama com outro cara. Nem mesmo a Giulia, que sabe tudo sobre mim, ficou sabendo disso e agora eu começo a me questionar se essa não foi uma ideia de merda. Eu fui pra Londres visitar meu pai semanas depois do término e minha intenção não era ficar por lá, mas aconteceu. Ele estava exausto e ansioso para colocar alguém no seu lugar na presidência.

Ainda me lembro da nossa conversa, quando eu disse que precisava voltar pra Grécia: e o que é que tem na Grécia te esperando, filho?

Bom, nada.

Minha mãe trabalha como aeromoça – não à toa foi ter filhos logo com um britânico – e passa mais tempo fora do seu país de nascença do que dentro dele. Giulia aproveitou a oportunidade e passou alguns meses comigo, para melhorar o seu inglês, e acabou conhecendo o Peter nessa época. Minha mudança foi melhor pra todo mundo, mas eu sei o que parece: o homem frio e calculista que abandona sua namorada de anos para assumir a empresa do pai no Reino Unido. Além de sair como babaca da história, eu nunca namorei ninguém depois dela, o que faz todo mundo pensar que eu nunca superei e que me arrependo amargamente de ter ido embora.

Solto o ar pela boca e bebo mais um gole de tsipouro. Estou bebendo direto da garrafa, mas todos já estão bêbados demais para se importar com regras de etiqueta. Pensando bem, festas de pré casamento – pré-pré-pré casamento? – não são o melhor lugar do mundo pra se embebedar, considerando todos os parentes por perto.

Me sento em um dos extremos da sacada da mansão observando o mar a alguns metros de distância. As conversas dentro da casa começam a ficar mais baixas e a música que toca deixa de fazer sentido com o ambiente, na falta de alguém sóbrio para comandar uma playlist.

Ainda acho que Giulia me deu uma facada quando decidiu não contar que Selene estaria aqui. Sei que ela fez isso porque não queria me estressar antes da hora, mas eu poderia ter me preparado melhor para ocasião: com uma namorada de aluguel, por exemplo.

Rio da ideia enquanto bebo mais um gole. As pessoas ainda fazem isso?

Seria engraçado. Na verdade, mais do que isso, seria sair por cima.

Movo a cabeça em negativa. Quantos anos você tem, Travis? Não precisa sair por cima. Seja um homem educado, conviva pacificamente com Selene nos próximos sete dias e volte para Londres. Não precisa fazer uma cena, não precisa dar mais importância que o necessário a esse… infortúnio.

Reviro os olhos, alternando a garrafa de uma mão para a outra. Quem eu estou tentando enganar? Se inteligência emocional não é meu forte, maturidade também não é. É óbvio que eu gostaria de sair por cima, principalmente depois de levar tanto chifre.

Selene está sozinha aqui.

Se eu estivesse com alguém…

Pego meu celular. Eu quase o derrubei na areia pela falta de destreza depois de tanta bebida, mas consigo mantê-lo nas mãos. Deixo a garrafa de lado e começo a rodar pela minha lista de contatos atrás do número de Taliyah. Ela é minha amiga há anos e tenho certeza que não recusaria uma viagem pra Grécia com tudo pago, mesmo tão em cima da hora.