01 - Uma hibrída

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Sam POV

Antes de conhecer Kornkamon Phetphailin, eu só conhecia outra pessoa que era tão única como Mon era. Minutos antes de nos conhecermos eu tentava escapar de outra pessoa. A pessoa atendia pelo nome de Love Pattranite. Eu estava no apartamento da minha melhor amiga, Milk Vosbein, onde Love também se encontrava. E eu não fui rápida o suficiente para chegar à porta, então Love me agarrou num abraço apertado.

''Vou sentir saudades, Sam!'' ouvi a voz da minha abraçadora, e depois com uma quantidade excessiva de saliva lambeu toda a minha bochecha.

''Ugh!'' gemi, me contorcendo e me afastando dela, limpando minha bochecha. ''Controle sua cadela interior, Love!''

''Desculpa!'' Love gemeu e se esgueirou até Milk, que estava encostada no batente da porta da cozinha.

''Sam,'' Milk me repreendeu ''Tenha um pouco de simpatia! Você sabe que Love tem dificuldade de agir como uma pessoa normal, quando ela está animada.''

Love não era de todo uma pessoa normal. Ela tinha um par de orelhas da cor creme em sua cabeça e uma cauda da mesma cor.

Uma cauda.

A primeira vez que tinha sido apresentada a Love, eu disse a Milk que ela estava fora de si. Então Love simplesmente se escondeu atrás de Milk, e depois a minha amiga me informou que a garota ainda não falava muito bem. Eu fiquei perplexa, é claro. Demorou horas para que Milk me explicasse exatamente o que Love era. E preciso confessar que mesmo depois da explicação eu ainda não conseguia acreditar nela. Eu simplesmente saí de seu apartamento e fui para casa, estava chocada.

Love é uma híbrida. Era assim que Milk a definia. Milk a tinha encontrado vagando próximo ao seu apartamento tarde da noite, ela ficou surpresa com a aparência da garota e então a levou para casa e fez uma pesquisa rápida.

A existência de um híbrido é muito rara. Milk descobriu mais tarde, por Love, que a garota havia sido criada por um cientista. Love compreendia as palavras e sabia o que significava a maioria das coisas, mas ela não sabia como transformar seus pensamentos em palavras e vocalizá-los. Uma vez que Love aprendeu a falar, não quis estender o assunto de como era sua vida no laboratório com o tal cientista que o criou, e Milk também não insistia.

Depois de um tempo eu consegui aceitá-la.

Híbridos são considerados mito pela maioria das pessoas. Contudo Love não podia ser vista em público. Ela poderia ser pega pela justiça e ser tirada de Milk, voltando a ser experimento de laboratório.

Se você ignorar as orelhas e a cauda da garota, você poderia julgar que Love era uma menina normal de 19 anos como qualquer outra, exceto talvez por ela ser amável demais... O que não era de todo ruim. A menos se ela estiver lambendo o seu rosto.

''Eu sei, eu sei.'' Revirei os olhos. ''Você não pode ajudá-la, híbrido ou não.''

''Você não ia sair?'' Love retrucou, sentindo-se ofendida por mim.

''Sim'' eu ri. ''Eu tenho que ir dormir. Preciso trabalhar amanhã, ao contrário de você... Sua vira-lata preguiçosa.''

''Bem, se não fosse por isso...'' Love disse, agarrando seu rabo e apontando para suas orelhas ''Eu teria um emprego.''

''Mas é isso que a faz minha, Love.'' Milk lhe disse carinhosamente, puxando-a para que ela pudesse lhe dar um selinho.

Isso foi outra coisa que me fez pirar. Milk e Love se apaixonaram. Eu aceito isso, vendo o quão felizes elas são. Eu sou lésbica mesmo, só estava confusa a respeito de como duas pessoas totalmente diferentes poderiam viver juntas.

''Ew, carinho,'' gemi. ''E Love não é apenas a sua parte cadela, mas você não é exatamente considerada uma cidadã de Bangkok. Ninguém além de nós, seu criador e o ajudante dele sabe que você existe!''

''Saia daqui Sam!'' Milk me repreendeu, Love gemeu frustrada e escondeu seu rosto no ombro de Milk.

''Desculpe, desculpe!'' Eu levantei minhas mãos defensivamente antes de virar para sair.

Eu me despedi das duas e saí do apartamento. Seu apartamento era parecido com o meu. Eu morava a certa de sete prédios depois de Milk. Foi nesse dia, em minha caminhada para casa, que eu tropecei em Kornkamon Phetphailin. Eu estava prestes a passar por um beco cerca de três casas abaixo do apartamento de Milk, e eu já estava um pouco com medo devido a como estava escuro lá fora. Não havia lua ou as estrelas para clarear como normalmente era. Apenas as luzes da rua estavam acesas.

Quando passei em frente do beco, algo vinha de lá e correu direto para mim. Meus pensamentos foram instantaneamente para filmes, e eu estava firmemente convencida de que eu estava prestes a ser escapelada.

No entanto, a pessoa que correu para mim guinchou, e, em seguida, correu de volta para as sombras do beco. Eu estava de pé na calçada, meu coração batia acelerado e a minha respiração estava ofegante.

Eu ri sozinha, percebendo que a pessoa e eu tínhamos nos assustado igualmente.

Gritei para o beco: ''Desculpe por isso! Suponho que nós dois ou, duas, nos assustamos, certo?''

Não houve resposta, mas eu ainda podia ver o contorno da pessoa, como se ela estivesse se achatado contra a parede com as minhas palavras, ela se encolheu e lentamente caiu no chão.

''Uh,'' eu chamei nervosamente. ''Você está bem?''

Ainda sem resposta. Tomei coragem e entrei no beco peguei meu telefone, acendendo sua luz na figura que estava caída no chão. Parecia ser uma menina, em calças esfarrapadas e uma camisa branca. Seus cabelos eram enormes e lisos de uma forma fofa, e ela estava tentando parecer tão pequena quanto possível, com os olhos apertados.

''Eu realmente sinto muito, você está bem? Você está machucada ou algo assim? Você precisa de uma ambulância, talvez?'' quando a menina simplesmente fechou os olhos mais ainda e se contorcia mais para trás, contra a parede, eu tirei meu telefone de sua vista, trazendo-a para baixo em vez de deixar a luz no rosto da criança. ''Ok, talvez minha amiga Milk, em vez de uma ambulância. Ela sabe o que fazer nessas situações. Você não parece que vai me ferir, mas-''

''Sam?'' A voz de Milk interrompeu e eu coloquei a minha cabeça pra fora do beco. ''Com quem está falando? Você esqueceu suas chaves na minha casa. Pensei em trazê-la para você.''

''Milk rápido!'' Chamei-a. ''Eu encontrei uma garota... Eu meio que assustei ela, eu acho.''

''Uma garota?'' Milk perguntou e eu voltei minha atenção para a moça de cabelos longos amassada no cimento rachado do beco.

''É... Você está bem?'' Perguntei para a menina de novo, e ela permaneceu na mesma posição, aterrorizada.

''Coitada!'' Milk falou, já perto de mim e em seguida disparou: ''Você conseguiu aterrorizá-la Sam. Bom trabalho.''

''Eu não queria!'' Rosnei.

''Abaixe sua voz'', Milk disse abafado, voltando sua atenção para a moça enquanto ela tomava o meu telefone de mim que caiu suavemente sobre os joelhos. ''Ei, você aí, está tudo bem. Nós não vamos machucar você ou qualquer coisa.''

A garota não reagiu ao que Milk falou de forma diferente.

''Por que não trouxe Love? Love faz amizade com todos.'' Perguntei a Milk.

''Porque você sabe o quão complicado é o processo para ela sair. Ela não pode... as pessoas não podem saber sobre ela.'' Milk olhou para a menina no chão, hesitante, embora parecesse que a garota estava tentando bloquear tudo o que ela disse.

''Certo... Será que a garota precisa de uma ambulância?'' Questionei.

''Eu não sei...'' Milk disse calmamente. ''Ela parece bem, mas-'' Milk parou de falar, e se endureceu um pouco.

Eu balancei minha cabeça em confusão, ''O quê?''

A mão de Milk, que não estava segurando meu telefone, lentamente se estendeu e roçou levemente o lado de algumas mechas na parte superior da cabeça da menina. Foi então que ela tomou um grande fôlego e murmurou. ''Oh...''

''O quê?'' Exigi.

''Shh...'' Milk disse baixinho ''Mas... Ela é um híbrido.''

Perfeitamente Única - MonSamOnde histórias criam vida. Descubra agora