3 - Jaqueta Preta

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Quando Karlyle entrou no quarto que havia sido dado à ele, se deparou com um ômega emboladinho na poltrona, coberto com a jaqueta dele que outrora estivera no encosto da mesma e dormindo de forma profunda. Se aquilo era para ser só um cochilo, Samuel falhou horrivelmente. Mas Karlyle entendia. Ele estava exausto. O alfa ainda se lembrava bem da mãe e dele trabalhando. Ambos tinham hora para acordar, mas nenhum dos dois tinha hora para dormir, o que não os permitia descansar como se devia.

Lyle se abaixou e chamou Samuel num sussurro para não o assustar, mas pareceu que ele tinha dado um grito no ouvido dele, com o susto que o ômega levou.

_Sou eu. Tudo bem?

_Eu ia cochilar e acabei dormindo pra valer. Me perdoa.

_Foi apenas por meia horinha. Tome. – falou Karlyle entregando o pratinho com pães, frutas e o copo com suco para Samuel.

_Por quê?

_Porque sei que não tomou café da manhã e se continuar assim, vai acabar adoecendo.

_Por que está sendo tão legal comigo? Sei que disse que é líder de ômegas mas...

_Minha mãe sofreu quase as mesmas coisas que você. Ela morreu de pneumonia por não comer direito apenas para me dar o que comer e eu só entendi isso quando estava no fim da minha adolescência. Ela sempre me falava que já tinha comido, ou que não gostava de algo que eu pegava para ela, apenas... – os olhos de Karlyle se encheram de lágrimas – apenas para que comesse e nada acontecesse comigo...

_Eu sinto muito Karlyle...

_Obrigado por sua empatia. – ele passou a mão no rosto secando as lágrimas – Esqueçamos isso. Um dia lhe conto minha história e em troca, vou querer ouvir a sua. Coma por favor.

Sam fez que sim e antes de começar a comer, ofereceu um pãozinho para Karlyle que aceitou, e comeu tudo o que estava a frente dele e reparou que em nenhum momento o alfa reclamou por ele estar com a jaqueta de couro dele sobre o colo e nem por ter a usado para se aquecer enquanto dormia.

O ômega prontamente pôs a jaqueta onde achou após comer e se colocou de pé, dando um olhar agradecido à Karlyle e saiu do quarto. A última coisa que o alfa viu antes da porta ser fechada, foi uma trança longa ruiva e prometeu à si mesmo que faria o possível para o tirar daquele inferno. Ele só precisava pensar em como e talvez a resposta estivesse no modo estranho que Jonathan citou sobre não fazer questão de o apresentar para a própria matilha, aí tinha coisa.


🐾🐾🐾


Mariane já estava pra lá de bêbada e dava gargalhadas tão altas, que faziam Cain a olhar de esguelha. Ele sempre se preocupava com a alfa desde que ela dissera o segredo dela para ele numa noite em que ela nem se aguentava em pé de tanto que havia bebido.

_Mari... Mari.

_Meu nome não é esse meu Cain e você sabe... Mariane era um demônio. Um verdadeiro demônio encarnado! Odeio ser confundida com ela! – disse a alfa com a voz embargada e começou a rir – Um demônio que queima no inferno! Ela deve estar em casa sentada no trono.

_Liz, Elizabeth.

_Sim?

_Não beba mais por favor. Você está falando demais. Eu te imploro.

_Com você eu posso falar demais Cain... – disse ela baixinho e jogou a garrafa na árvore adiante da janela do carro. – Não aguento mais essa vida... Não aguento mais que me chamem pelo nome daquela praga desgraçada!

_Conte a verdade ao seu irmão.

_Sabe que não posso... Eu... Eu dei a liderança da Matilha para ele, pois ele é justo. Eu jamais seria como a vadia da Mariane, mas você sabe o que ele teria que fazer comigo se soubesse a verdade... Se soubesse o que eu fiz... Se soubesse que eu quem empurrei o meu carro com aquela filha da puta dentro e o vi explodir nas pedras daquele cânion e queimar, levando aquela peste pro mundo dos mortos. Eu tinha que dar um fim nas atrocidades delas! Eu tinha que impedir que ela continuasse vendendo a primeira vez dos ômegas da matilha... ELA VENDIA CRIANÇAS CAIN! CRIANÇAS DE DOZE, TREZE, CATORZE ANOS!!! - ela gritou e atirou outra garrafa vazia pela janela do carro - Eu a odiava por quão filha do puta ela era comigo, aquela narcisista de merda que sempre me fazia passar por louca! Quando eu... quando eu a matei Cain... Ah, eu senti um prazer enorme! Mas depois não consegui fingir ser ela! Eu não podia fazer as merdas que a minha irmã gêmea fazia apenas para manter as aparências! Eu não sou uma filha da puta igual à ela Cain. Não sou!

Raven (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora