Já fazia algumas horas que Honora estava cavalgando, após fazer a contagem do armamento ela colocou as que estavam apresentáveis de volta ao baú e providenciou uma pequena carroça para que pudesse carregar até a capital. Já era noite, e a jovem podia sentir o vento gelado que batia em seu rosto, a essa altura já estava longe da abafada Sundown e chegaria na Capital antes do amanhecer, se não fosse por um lugar que teria de passar antes.
Honora adentrou um bosque na qual conhecia bem, a primeira vez que estivera indo por esses caminhos foi com Tianne. A jovem mulher de pele negra como ônix e cabelos castanhos enrolados que a encontrou suja de terra, faminta e que antes de a levar para sua casa precisou leva-la para o bosque que era longe da capital. Lembrando desse acontecimento Honora suspirou ajustando sua capa. Tianne era uma das poucas pessoas que sentira falta, mas era algo a ser guardado e não expressado.
No fundo do bosque podia-se ver uma pequena luz que provavelmente vinha de uma fogueira e cada vez que se aproximava podia-se ouvir sussurros de uma língua que há muito tempo não era falada, não porque era uma língua antiga. Mas porque vinham de um lugar distante, e que se falasse você seria queimado vivo. Honora avistou o velho sentado em frente a fogueira com um manto, ao seu lado havia uma garota de cabelos ruivos com aproximadamente a sua idade, não a conhecia e uma leve desconfiança fez com que parasse o cavalo junto com a carroça a alguns metros de distância na escuridão. Prendeu sua montaria na árvore e seguiu seu caminho até as duas pessoas que se encontravam ali conversando.
-Olá, Charles. Vejo que tem companhia -A jovem de cabelos negros como obsidiana olhou para o velho grisalho e para a desconhecida com um olhar duro. Quem era ela e o que fazia ali eram duas perguntas que se instalavam na mente de Honora.
-Ah minha querida, sente-se -ele disse dando tapinhas no tronco de madeira que estavam sentados. Ela logo se sentou sem tirar os olhos da garota com um olhar de dúvida. Seja quem for, ela não deveria estar ali. Pelo menos não hoje- Essa é Elanyia. Posso ver no seu rosto que está com sua desconfiança de sempre, mas fique tranquila, ela é de confiança. Elanyia é minha bisneta, ela está passando um tempo comigo para... aprender.
Honora tirou os olhos da garota e olhou para Charles com uma das sobrancelhas arqueadas. O que o velho ensinaria a ela? Uma mão se estendeu em sua direção, e a jovem General encarou por alguns segundos.
-Como meu avô te contou sou Elanyia, estou com ele há uma semana, mas... Ele até agora não me ensinou nada além de pegar lenha para acender uma fogueira -A jovem ruiva disse sem graça tentando suavizar aquele olhar que estava recebendo. Honora repuxou o canto de seus lábios e pegou na sua mão, em um aperto firme
-Sou Honora -A jovem respondeu soltando a mão da garota, porém a mesma continuava segurando firme, seus olhos verdes brilhavam, mas era um brilho estranho e perdido. ''Só pode ser louca'' Honora pensou puxando sua mão com força- Que isso garota
-É ela -Elanyia disse num baixo sussurro soltando a mão da jovem rapidamente. Honora não entendendo o que havia sido dito continuou encarando a mulher como se ela tivesse algum tipo de problema -Desculpe, eu...
Antes que a jovem pudesse terminar de falar Charles se levantou atraindo o olhar das duas.
-Honora, querida. Acredito que sua visita não seja por estar sentindo minha falta e que deve estar com pressa... venha, vamos conversar mais tranquilamente lá embaixo. - O velho seguiu andando entre as árvores, a mulher deu uma última olhada na ruiva antes da mesma seguir o homem. O mesmo se abaixou afastando as folhagens para abrir um alçapão. Ela desceu a escada de madeira logo atrás e logo pisou no solo subterrâneo. -O que te trás aqui?
-Vim trazer mais materiais, e preciso de mais daquela... ajudinha -Ela disse tirando o capuz apontando em direção dos seus olhos verdes que levemente aparecia um arco dourado ao redor de sua pupila- Antes dava pra disfarçar por mais tempo, mas agora parece que o feitiço está durando cada vez menos. Minha sorte é que ainda estão verdes.
-É normal, você está ficando mais velha. Não nasci com magia, então um feitiço vai durar cada vez menos tempo conforme vai envelhecendo -O velho disse e Honora bufou passando a mão pelos cabelos negros.
-Quanto tempo eu tenho até que isso pare de funcionar em mim? -Ela perguntou se sentando em uma cadeira de madeira velha que estava próxima a ela
-Acredito que não vai surtir efeito quando você completar seu vigésimo quinto aniversário, foi assim com seus antepassados -O velho encarava a jovem mulher, vendo-a franzir o cenho.
Honora tinha pouco mais de um ano, era pouco para poder finalizar tudo com perfeição e do jeito certo. Encarando a parede ela pensava o que iria fazer para correr contra o tempo antes que tudo ruísse.
-Trouxe algumas armas, não tanto quanto a última visita já que esse lote é uma produção nova com tungstênio, dizem que é tão resistente que nada pode quebrá-lo. -Ela tirou um papel da capa junto com um aparo e um pequeno pote de tinta. -Aqui está a quantidade exata que vou deixar com você para que as conduza para o extremo leste.
Honora não era burra, por mais que o velho a ajudasse desde criança a esconder seus segredos ela sabia da volatilidade da mente humana. Ela deveria estar preparada caso ele decida que é melhor ficar do lado do inimigo ou que então é melhor colocar alguém em seu lugar.
Enquanto ela olhava para o homem que pegava o papel junto com o material para assinar o documento, ela se lembrou do ocorrido de alguns minutos atrás.
-O que ela é? -Ela perguntou se referindo à garota.
-Minha bisneta, como já falei -Ele disse sem tirar os olhos do papel
-Sim, eu ainda não estou velha o suficiente pra ter ficado surda. Estou perguntando o que ela é, eu vi o jeito que ela me olhou quando apertou minha mão -encarando o velho grisalho, o homem após terminado de assinar o documento voltou os olhos para a general que se levantava e ia em direção dele para pegar os papeis- Não sabia que havia segredos entre nós Charles.
-Você sabe dos meus segredos porque são meus, querida. Os de Elanyia não são meus para contar -Ele disse sustentando o falso olhar dócil que recebera de Honora.
-Entendo, é de se admirar. -Ela deu um sorriso que não chegou aos olhos dobrando o documento e colocando dentro de sua túnica grossa em um bolso escondido - Venha, vamos descarregar logo pois tenho de partir.
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Ódio Forjado
FantasyMuitos dizem que o futuro são frutos das nossas escolhas, que cada decisão tomada consciente ou inconscientemente nos levam a uma direção. E há quem diga que já nascemos destinados para algo na vida, seja para algo pequeno ou maior. Honora é uma jov...