"Qualquer decisão que se tome na vida tem um preço, o problema é que algumas delas tem um preço alto demais."
O dia estava bonito, lindo para falar a verdade. Era primavera e as flores floresciam, o gramado da casa Dauphis estava tão verde que pareciam ter sidos pintados com o mais belo e vivo tom de verde. Mas a pequena garota ainda se encontrava sentada em frente à janela observando as folhas das árvores balançando com a brisa fresca primaveril. Havia saído do quarto que lhe foi concedido apenas uma vez. Tianne sempre estava indo verificar como a jovem menina estava, tentando conversar e amenizar a dor da perda. Na maioria das vezes a jovem ouvia olhando para a parede ou através da janela. Às vezes respondia com respostas como: sim; não; não sei. Ou então apenas deixava algumas lágrimas rolarem enquanto seu coração parecia se despedaçar em mil e um pedaços.
Já fazia um mês que a jovem fora encontrada. Até o momento Honora se negou em vestir as roupas que lhe fora dado, permanecendo com seus trajes ainda sujos que vestiu em sua fuga. Ela se negava em fazer uso de qualquer coisa que era de Zephyr, sentia nojo daquele povo. Seu cabelo antes sedoso se encontrava desgrenhado e opaco, seu rosto estava fino, olheiras aparentes e a boca seca. Estava definhando enquanto sua cabeça repetia mil vezes aquela cena, enquanto se sentia culpada por dormir na cama elitista de um Reino que tirou sua mãe.
-Vamos, coloque esse vestido querida, essas suas roupas já estão cheirando mal e não quero que pensem que sou uma sádica que te adotou só pra te maltratar. -A mulher segurava um vestido na cor creme com mangas e babados. Vendo que a garota não havia nem se mexido, Tianne colocou uma mão na cintura e continuou- Se você não se apresentar ao Rei, ele vai desconfiar. Se ele desconfiar, vai chamar atenção.
Honora virou rapidamente a cabeça em direção a mulher que ainda mantinha o vestido em mãos. O Rei de Zephyr estava curioso sobre o caso da filha adotiva de seu General. Ela ainda não havia visto o homem e estava receosa por isso.
-Eu odeio ele, odeio aquele castelo, odeio Zephyrianos... Como você consegue olhar para ele, sorrir e reverenciar? -A mulher de cabelos cacheados se aproximou da jovem e acariciou os cabelos negros da garota.
-O que eu poderia fazer? Somos sobreviventes, querida. Precisamos dançar conforme a música.
-Um dia eu vou fazer a música, invés de me contentar a dançar -A jovem falou baixo, mas cheia de convicção.
Naquela tarde Honora entrou no castelo atraindo olhares curiosos sobre ela, a jovem garotinha magricela e carrancuda que os Dauphis adotaram. Ela seguiu seu caminho segurando a mão de Tianne até a sala de refeições. As portas foram abertas assim que chegaram, o olhar de Honora imediatamente parou no homem alto de cabelos negros, o mesmo vestia trajes na cor preta com detalhes dourados. Seu rosto tinha uma certa crueldade acentuada, e curiosidade provavelmente pela desconhecida. Acima de seus cabelos havia uma coroa dourada que pareciam espinhos retorcidos com uma gema de esmeralda. Honora foi arrancada de seus pensamentos com o discreto aperto de mão que a Tianne lhe deu. Logo se apressou em fazer uma reverência desengonçada como havia sido instruído.
-Cleon, meu amigo. Um mês cuidando dessa menina e ela não ganhou nem uns quilinhos? -O Rei perguntou e Honora permanecia de cabeça baixa.
-Ela ainda está de luto pela perda dos pais, Tianne está conversando com ela, mas vai ser um longo trabalho -Cleon disse.
Logo todos estavam a mesa, a Rainha Cora, uma mulher de cabelos negros e olhos verdes que ora ou outra direcionava um olhar caloroso com um leve sorriso sem mostrar os dentes, mas Honora apenas mantinha a cabeça baixa enquanto olhava para seu prato intocado.
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Ódio Forjado
FantasyMuitos dizem que o futuro são frutos das nossas escolhas, que cada decisão tomada consciente ou inconscientemente nos levam a uma direção. E há quem diga que já nascemos destinados para algo na vida, seja para algo pequeno ou maior. Honora é uma jov...