Honora estava sentada na velha carroça que guardava o baú de armamento, ela olhava o céu com certa irritação, estava sem dormir a uns dois dias e seu corpo por mais resistente que fosse, sua mente gritava para que fosse em seus aposentos, fechasse todas as janelas e ficasse ali por horas ignorando a existência do mundo exterior. Mas ela ainda tinha o que fazer, deveria ir ao encontro do rei e o conselho real, mostrar as armas e o breve relatório sobre Sundown que elaborou no meio do caminho, e informar para todos os soldados que os treinamentos retornaria no dia seguinte. Às vezes ela sentia vontade de sumir, largar todas suas obrigações e nunca mais ver a cara dessas pessoas que ela odiava profundamente.
A capital era uma das regiões mais bonitas do reino, claro que era. Ali era onde os mais abastados moravam. Nobres, mercadores renomados, artistas. As casas eram enormes demais para a quantidade de moradores que tinham nelas. As ruas eram de pedra límpida, grandes museus que dentro mostrava uma mentira sobre a glória que os Deuses derramaram sobre Zephyr. A grande igreja que tinha a torre do relógio tão alta quanto uma das torres do castelo. Isso remetia poder à religião, poder ao reinado, poder sobre o povo que acreditava em tudo que lhe era dito. Mas ainda há quem se lembrava da verdade, porém ninguém ousaria abrir a boca para depois ser queimado na fogueira.
Tinha também os pequenos vilarejos ao sul, mais afastados do coração da capital. Era a parte carente da cidade onde haviam moradas de madeira e barro. Teto de madeira surrada que mal protegia de uma chuva, ruas de terra e pedras cheias de buracos. Quem residia ali eram os criados que trabalhavam para as grandes casas. Na hierarquia abaixo deles estavam os escravos das fábricas. A diferença de um para o outro era simples, os escravos trabalhavam de graça por toda a sua vida para morrer nas fábricas e os criados trabalhavam nas grandes casas recebendo o mínimo para se reproduzirem e assim não acabar com a mão de obra barata, visto que a educação não era acessível, era muito mais fácil um filho de criado trabalhar para alguém em troca de uma esmola ou então ir para o exército e morrer lutando pelo seu Rei. E assim o ciclo se mantinha em ordem e não parava de girar.
-General, estávamos a sua espera -Disse Xander montado em seu cavalo de pelagem amarronzada e crina branca. Honora parou e olhou para o guarda de pele branca e olhos âmbar que brilhavam feito ouro- Você está horrível
-Fique sem dormir, sem tomar banho por dois dias cavalgando, e de bônus fique dentro de uma fábrica que parece o inferno de tão quente -Ela disse dando puxão no arreio do cavalo para que voltasse ao movimento.
-Você fez todo o trabalho sozinha porque assim desejou -Xander falou enquanto andava com seu cavalo ao lado da carroça em que Honora estava sentada.
-Desculpe se não confio na capacidade de vocês e queira ficar em uma viagem silenciosa, sem precisar escutar em como as cortesãs são deliciosas -Ela disse olhando a sua frente. Não fazia ideia de por quê Xander estava a esperando, apesar de isso ser costumeiro. Ele era filho do Coronel Apollo, ele faleceu há 5 anos em uma invasão de um reino no Oeste. Moradores de Galadriel foram brutalmente massacrados, mas isso não significava que Zephyr não teve perdas, muito pelo contrário, várias famílias perderam um ente para que a expansão do reino fosse garantida.
Xander sempre estava aguardando a sua volta das viagens, provavelmente para que os guardas o vissem entrando no castelo ao lado de Honora, pensando que ele teve alguma participação em uma de suas inspeções. Mesmo que seu pai tivesse deixado uma pequena fortuna, ele precisava subir na hierarquia e deixar de ser Major.
-Eu não fico falando isso das cortesãs! -Ele disse em sua defesa, e fez a jovem de cabelos negros dar de ombros enquanto o olhava de soslaio.
-Não na minha frente, mas não importa. Nada do que vocês conversam entre si iriam me entreter mais do que uma viagem em silêncio. – Ela diz entediada, o que era verdade. Nada do que ouvia por aí sobre suas vidas rotineiras não era de seu interesse, a não ser que o reino estivesse envolvido ou fosse alguma intriga sobre algum nobre.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ódio Forjado
FantasyMuitos dizem que o futuro são frutos das nossas escolhas, que cada decisão tomada consciente ou inconscientemente nos levam a uma direção. E há quem diga que já nascemos destinados para algo na vida, seja para algo pequeno ou maior. Honora é uma jov...