CAPÍTULO 4

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O quarto que estava escuro logo foi incendiado pela luz do sol da manhã, e lutando para acostumar sua visão com a claridade, viu de relance uma sombra alta. A jovem logo pegando a adaga que estava debaixo do travesseiro, ergueu seu corpo pronta para atirar em direção a pessoa que estava na frente de sua cama, mas ao ver quem estava ali parado entortou os lábios e revirou os olhos.

-Ah, é você -Ela disse sem ânimo na voz, e logo ergueu a sobrancelha enquanto o encarava- O que está fazendo no meu quarto? -Honora perguntou com uma pontada de curiosidade, se tinha um lugar que Cleon não frequentava de jeito nenhum era o seu quarto e aquilo levantou uma certa desconfiança. Puxando o ar profundamente percebeu que não havia nenhum cheiro de álcool vindo dele. Ainda.

-Hoje é seu aniversário, e a cerimônia com o Sacerdote Angelo começa dentro de uma hora. Sugiro que se apresse e se arrume para não chegarmos atrasados -Cleon disse aquilo numa casualidade que Honora suspeitou. Chegarmos. Não chegar, mas chegarmos no plural. Ele não era assim, não saia de casa, não mais.

-Então saia do meu quarto -Ela disse enquanto saia da cama e vestia seu robe de algodão que estava jogado na poltrona e caminhava em direção à porta de seus aposentos, pronta para solicitar que Dayenne trouxesse água morna para que a jovem pudesse se banhar.

-Pedi que trouxesse água mais cedo, as jarras já estão no seu banheiro -Ao ouvir aquelas palavras vindas do homem loiro, Honora parou e se virou com um olhar interrogativo, medindo ele de cima a baixo.

-O que você está querendo? Primeiro se dar o trabalho de vir me acordar pra não perder a cerimônia e agora pediu que Dayenne preparasse o meu banho? -Ela olhou para ele incrédula para o homem, tinha algo errado com ele e ela não sabia o que era. E não entender a atitude dos outros deixava sua mente perturbada de tão desconfiada- Seu whisky acabou e está entediado?

Pela primeira vez depois de muitos anos Honora viu o homem corar e abaixar a cabeça para olhar o chão enquanto passava a mão pelos cabelos ásperos e opacos por falta de cuidado.

-Eu sei que é estranho essa minha atitude, considerando que nos últimos anos quase não trocamos algumas palavras. E você tem razão mesmo com suas palavras duras, estou nesse luto há dez anos e há dez anos que não saio dessa casa -Ele disse por fim suspirando e passando a mão nos cabelos- Então se você puder entender que quero dar alguns passos de cada vez para minha vida voltar ao normal na medida do possível ficarei agradecido.

Era de se estranhar aquela súbita mudança de Cleon, na noite anterior estava bêbado chorando abraçado com o quadro de Tianne e naquela manhã estava ali, disposto a sair daquele poço que se enfiou e superar o luto. Realmente Honora não esperava aquela tomada de decisão brusca. Honora estreitou os olhos repuxando os lábios.

-Certo... Mas o cargo de General não é uma coisa que você não vai ter de volta -Ela disse voltando a caminhar, só que agora em direção ao banheiro

-Não quero esse cargo, já passei tempo demais invadindo reinos, matando e escravizando pessoas só por nascerem em um lugar diferente de mim. -Ele falou e Honora parou, olhou por cima dos ombros na direção de Cleon que saía de seus aposentos.

Enquanto a jovem despejava a água morna na banheira, sua mente estava em Cleon pensando no que poderia haver na mente do homem para que ele agisse daquela forma, aquilo a deixava encabulada e com raiva. Ele falou que iria sair para a cerimônia numa casualidade anormal para alguém que se prendeu na própria residência por dez longos anos. Essa seria realmente a primeira vez que ele iria sair ou já teria saído antes?

-Inferno, maldito seja -Ela disse entre grunhidos quando colocou a última jarra agora vazia com força no chão.

Terminando de se livrar de seu pijama que era composto por uma blusa fina cinza e uma bermuda que ia até seus joelhos, ela subiu os degraus de mármore e colocou um dos pés na água para sentir a temperatura da água. Estava quente, mas não tanto, então ela logo entrou completamente na banheira se sentando e esticando completamente seu corpo. Enquanto encarava a parede cinza ela pensava no que estava por vim, a maldita cerimônia para que os Deuses pudessem abençoar sua vida. O que pra Honora não passava de um desperdício de tempo. Deuses não existiam, não existe uma força maior que abençoassem a vida das pessoas, e Honora odiava a ideia de que realmente poderiam existir e eles escolhiam as pessoas erradas para abençoar.

Ódio ForjadoOnde histórias criam vida. Descubra agora