J U L I E
Minhas mãos estavam manchadas de vermelho.
Não qualquer vermelho. Não vermelho sangue, escarlate, carmim, cereja ou bordô, mas sim um tom específico com nuances de alaranjado, a cor precisa e que se assemelhava ao alizarina encontrada por mim depois de algumas tentativas. Eu sabia que não somente minhas mãos estavam sujas, mas minhas roupas e cabelo também deveriam ter respingos da tinta, afinal, a arte nunca era limpa.
Se parasse para pensar demais sobre o fato de que uma das primeiras coisas que eu estava fazendo dentre tantos afazeres, como desfazer minhas malas e o resto da minha mudança, por exemplo, eu havia me sentado para pintar, acabaria rindo com a ironia. Faziam meses que eu não pintava, certamente não havia tocado em uma tela sequer enquanto estava em West Valley, mas retornar para Tuscaloosa aparentemente havia sido o gatilho para que eu voltasse a expurgar minhas emoções através da tinta por horas a fio.
— Você deveria descansar um pouco. — uma voz familiar chamou, mas não me sobressaltou, como a maioria das outras faria. — Foi um longo dia.
Eu abaixei meu pincel antes de me virar para Nash, que estava parado na soleira da porta do quarto, olhando para o canto que eu havia transformado em um minúsculo estúdio para meus momentos artísticos. Ele ainda estava vestindo as roupas que havia usado para dirigir até ali e, embora parecesse cansado depois da viagem, ainda havia preocupação em sua expressão. Tal postura sóbria não era comum para meu primo, parecia até antinatural nele, mas havia se tornado mais frequente nos últimos tempos. Era algo que havia manchado todos nós.
— Vocês já vão? — perguntei, apenas para desviar um pouco o assunto, pois estava longe de estar com sono o suficiente para dormir.
— Vamos dormir no lugar que Asher arrumou e pegar a estrada bem cedo amanhã. Não vamos vir perturbar vocês antes do sol nascer. — O Nash habitual certamente teria provocado e brincado sobre vir tocar a campainha delas e incomodar logo cedo, mas ele, assim como eu, não estavam agindo completamente como suas versões habituais. Eu havia me transformado em uma sombra e meus amigos próximos, além de abalados também, ainda estavam pisando em ovos comigo. — Você ao menos comeu alguma outra coisa?
— Na verdade, eu poderia beliscar algo agora. — confessei, percebendo que eu havia perdido completamente a noção do tempo. A última coisa que eu havia comido havia sido um pedaço da pizza que havíamos pedido para o jantar horas atrás, cujo sabor eu nem me lembrava mais.
— Ainda tem pizza na cozinha. — Nash acenou com a cabeça — Prometa que vai se cuidar.
Meu coração doeu diante da preocupação dele. Todos sempre estavam preocupados comigo, mesmo que não demostrassem explicitamente sempre.
— Eu vou. — respondi, mas minhas palavras saíram soando vazias. A maioria das coisas que eu dizia ainda parecia blasé, como se fossem meras palavras saindo da minha boca, sem real significado e eu odiava isso, odiava parecer e principalmente me sentir tão sem vida.
Nash se aproximou e me segurou pelos ombros quando os outros se afastaram, me olhando com o que eu sabia ser amor incondicional. Meu único primo podia passar a impressão de que ele não levava nada a sério, que era apenas um piadista, mas ele se importava profundamente com as pessoas que amava e nunca havia nos deixado na mão. Ele sempre estava lá.
— Ei, eu sei que você tem a Cami e o Asher aqui. Mas se você precisar de mim, você liga e eu venho, está me ouvindo? Se quiser ir para casa também. — ele disse, olhando-me nos olhos com uma ternura que ele raramente demostrava sem as camadas de humor a encobrindo — Não importa onde, não importa o que, ok, Ju?
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Where We Unravel
RomanceWest Valley | Livro 2 "A vida de um menino de ouro como ele deve ser perfeita". É o que todo mundo pensa. Embora estivesse longe de ser verdade, era o que Romeo Whitmore estava determinado a conquistar quando entrou na Universidade do Alabama aos 18...