R O M E O
Eu não puxei meu capuz para cima quando começou a garoar naquela manhã. Era terça-feira e definitivamente muito cedo, mas eu estava ali de qualquer forma, pois precisava colocar minha mente em alguma coisa sólida, focar-me de tal forma que meus pensamentos não divagassem tanto para outras direções. Assim, eu deixei o chuvisco cair sobre mim, molhando meu cabelo e deixando minhas roupas geladas, contrastando com minha pele quente por conta da corrida extenuante. Era oficialmente o momento de voltar a pegar pesado e, se correr cinco, talvez sete quilômetros quando o sol mal havia nascido me mantivesse ocupado, eu ficaria satisfeito.
Jamie provavelmente não ficaria contente em perder sua dupla de academia naquela manhã e precisar achar outra pessoa para ser seu spot, mas eu estava me sentindo agitado demais para esperar um segundo a mais sequer. O futebol exigia o treino de força, mas eu sempre havia preferido o exercício ao ar livre de qualquer forma, o gosto da liberdade que só a corrida podia oferecer.
Meu melhor amigo, uma vez que visse minha expressão atribulada, iria querer conversar também. Ele podia ser uma mãe coruja quando queria e eu simplesmente... não queria conversar. Não sobre nada daquilo, não quando minha mente sozinha já parecia uma cacofonia de vozes por si só, uma interminável discussão acelerada que estava me deixando invisivelmente exausto.
E, nos últimos dias, havia algo específico somando-se a isso. Alguém. Julie.
Eu sentia falta dela. Não havia nenhum dia em que eu não havia sentido, não importava quanta mágoa pudesse ter existido. Absolutamente nada havia feito meus sentimentos por ela diminuírem e tampouco a saudade doer menos.
Eu havia forçosamente mantido distância dela no ano anterior, me convencendo de que ela não me queria lá e que eu já tinha meus próprios problemas para resolver. Eu não havia sido corajoso o suficiente para encará-la. Agora, no entanto, ela estava de volta, ao meu alcance e eu não sabia o que fazer sobre isso. Havia o que eu queria fazer e o que eu provavelmente devia fazer e os dois estavam medindo forças dentro de mim, testando meu autocontrole.
Então, eu estava me forçando para prestar atenção em outras coisas, para focar no futebol e na faculdade e em toda a carga que estava sobre os meus ombros. Eu não estava na posição de ser displicente sobre o meu lugar aqui e, principalmente, de cometer qualquer outro deslize. Qualquer erro me custaria tudo o que eu ainda tinha. A tensão e ansiedade eram suficientes para me manter acordado durante a noite e inquieto durante o dia, nunca realmente em paz, escondendo minhas os trêmulas quando tudo ficava demais de quaisquer olhos vagantes. Os tremores eram comuns quando havia tanta tensão e inconstância, o que havia se tornado praxe na minha vida.
Eu certamente não era mais a mesma pessoa do primeiro ano, mas isso não era tão libertador quanto deveria. O peso de todos os acontecimentos ainda me puxava para baixo, como uma âncora me impedindo de manter a cabeça acima d'água. Havia culpa, raiva, vergonha, todos esses sentimentos negativos ainda aninhados em meu peito e que a terapia mandatória que eu havia feito durante três meses não havia sido capaz de eliminar. Uma parte de mim sabia que eu devia tentar de novo, mas eu só... não estava conseguindo respirar.
Correr ajudava, por isso ele deixou a chuva cair sobre si, o molhado sendo a última de suas crescentes preocupações.
Eu só sentia certo alívio quando estava no campo.
Tão patético quanto poderia parecer, os únicos momentos em que eu não estava tendo colapsos mentais eram quando eu conseguia me concentrar exclusivamente no presente, é era isso que o futebol me proporcionava. Apenas focar nas jogadas e correr, jarda após jarda, repetidas vezes. Embora uma parte de mim estivesse simplesmente grata porque eu ainda estava aqui depois de tudo, eu queria fazer valer a pena. Dessa vez, não só para me provar, mas também em agradecimento, porque eu sabia muito bem que podia ter sido chutado para a sarjeta. Eu podia ter perdido tudo o que me importava, tudo o que me restava e isso me fazia nunca mais ter um dia no campo como garantido, a ser mais humilde e reconhecer que a minha posição ali era tão frágil como qualquer outra, senão mais.

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Where We Unravel
RomanceSomewhere Only We Know | Livro 2 Duas pessoas conectadas pelo passado, ousando imaginar um futuro no qual seus caminhos se cruzem novamente. Romeo Whitmore, aos olhos do mundo, tem a vida perfeita. A estrela do Crimson Tide brilha forte dentro de ca...