5. Lost Claim

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J U L I E

Como uma estudante de arquitetura, eu deveria saber que as janelas do meu quarto não eram à prova de som. O vidro e alumínio podiam abafar parcialmente os ruídos, mas eu ainda estava fadada a ouvir a comoção dos torcedores do lado de fora. Nós não morávamos tão perto do estádio, mas era perto o suficiente para que a festa passasse nas ruas próximas. Era o primeiro jogo da temporada e o Crimson Tide estava jogando em casa, então certamente a animação era gigantesca; eu havia passado tempo o suficiente em Bama para saber o quanto a cultura do futebol americano estava enraizada aqui, algo que havia me feito imediatamente satisfeita porque era algo que eu estava acostumada e amava em casa.

Muitos imaginariam que meu gosto por esportes era proveniente do fato de que eu havia sido criada apenas pelo meu pai. Entretanto, enquanto ele tinha sido aquele responsável por me apresentar a esse universo quando eu ainda era pequena e nós dois tivéssemos assistido cada jogo do Dallas Cowboys desde que eu me entendia por gente, dentre nós dois, eu era aquela que havia realmente encontrado satisfação em acompanhar algo assiduamente e se aprofundar cada vez mais. Com o tempo, eu havia chegado à conclusão do que eu realmente gostava, os esportes que eu acompanhava de perto e sem perder nada. E, depois de anos assistindo o Crimson Tide na televisão, estar aqui e ter a chance e experienciar os jogos pessoalmente era como um sonho, pelo menos para a Julie de dezoito anos.

A Julie do presente estava extremamente frustrada por não ter tido a coragem de sair de casa. Eu sequer havia criado coragem para ligar meu notebook em uma transmissão para assistir o jogo da segurança do meu quarto, no completo anonimato. Eu odiava ter criado esse bloqueio em relação a algo que eu gostava, simplesmente porque meu coração parecia não conseguir lidar com a existência de Romeo Whitmore. A possibilidade de encontrá-lo pessoalmente havia me feito recusar ir ao jogo com Camille, que havia então tentado ficar em casa para me fazer companhia, algo que eu havia vetado. Era o último ano de Asher e ele era o capitão do time, ela certamente não devia perder esses momentos por minha causa.

Eu sabia que Camille estava preocupada comigo e havia notado suas iniciativas de acolhimento, assim como não era uma coincidência que Asher estivesse aparecendo para jantar conosco com frequência. Tão patético quanto era, eles eram as duas únicas pessoas com quem eu tinha convívio aqui. Tirando meu breve encontro com James naquele dia, todas as pessoas do meu passado ainda continuavam lá. O isolamento no qual eu havia me colocado era agridoce; embora eu ainda sentisse que precisava dessa zona de conforto, eu também sentia falta dos meus amigos. Sentia falta de ter companhia nas aulas, de ter planos para o fim de semana.

Pela primeira vez, no meu coração, eu me sentia sozinha. E isso não era culpa de ninguém além de mim mesma.

Uma ansiedade sufocante me dominava cada vez que eu pensava demais sobre estar aqui. Eu estava aqui, depois de tudo e como uma pessoa completamente diferente. Uma pessoa perdida e apavorada com o futuro.

Por isso, ao invés do futuro, eu me esforçava para focar em coisas menores, mais palpáveis, mais imediatas. O que eu ia jantar, o que eu ia vestir no dia seguinte, se iria fazer pilates ou caminhar no fim de semana, o que eu pintaria em seguida.

Era assim que eu estava vivendo, dia após dia, tentando me apegar a uma rotina imediatista, focando em uma tentativa de me manter no presente para manter a cabeça no lugar. Era o que minha terapeuta também havia me aconselhado a fazer, a estratégia que ela estava me ajudando a usar para que eu fosse realmente capaz de ficar em Tuscaloosa e seguir em frente sem colapsar.

Eu tinha o apoio da minha família em todos os aspectos que estavam ao alcance deles, mas ter o suporte profissional para lidar com todos os meus sentimentos e próximos passos havia sido vital para que eu conseguisse chegar aqui e para que eu tivesse confiança e estabilidade emocional o suficiente para ficar.

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