Não foi um adeus romântico.
Tampouco um adeus amistoso.
Gerard andou de um lado para o outro no quarto. Estava assustadoramente irritado, Frank jamais havia visto aquele garoto daquela maneira antes.
Era a forma como seu rosto estava vermelho, suas mãos fortemente fechadas – os metacarpos instáveis e pálidos de tanto aperta-los – a boca inclinada para o lado em desgosto ou angustia, não, era algo pior. Um tipo de decepção tão lastimável que doía observar, uma decepção que rapidamente grudou no peito dele como uma enorme e grossa teia de aranha. Frank tinha medo de olhar nos olhos dele agora. Tinha medo do que viria em seguida.
Os primeiros raios de sol estavam apenas nascendo quando ele se virou em sua direção. O terno de formatura bem-apresentado em seu corpo desde o início da noite anterior – impecável, pois seu pai havia enviado do Novo México pelo correio especialmente para aquela noite. Era o terno que o Sr. Way havia usado em 85' em sua própria formatura.
O de Frank era alugado e estava jogado ao lado esquerdo da cama, apenas o lençol verde cobria seu corpo. Não havia ninguém ao seu lado, o cara havia ido embora em algum momento durante a madrugada. Estava sozinho.
Gerard não precisou ver o ato em si, as evidências eram suficientes. A nudez quase límpida, os lençóis bagunçados, a camisinha mal descartada sobre o chão. A culpa incontestável naqueles grandes olhos verdes, as vezes avelãs.
Imperdoável. Essa era a palavra para definir o incidente.
"Como pôde fazer isso?!" Way exclamou para si mesmo – então mirou toda a sua revolta na direção do culpado. Sua raiva era tanta que lágrimas caiam de seus olhos como pequenas gotas de chuva. Não era o tipo usual de raiva. Era profundo e desolador. Envolvia os dois numa bolha nauseante. Era uma raiva que só se podia sentir quando se era apunhalado por alguém que se amava muito. Alguém com quem se havia compartilhado tudo em troca de nada.
A tão robusta ilha da confiança morreu em agonia no chão e nas paredes daquele hotel, logo nos segundos iniciais em que Gerard pôs os pés naquele quarto.
Todos aqueles anos. Todos aqueles malditos anos. Uma perda de tempo.
Way jamais poderia imaginar que Frank seria capaz de fazer algo do tipo.
Mas cá estavam.
As memórias dos dois juntos passaram em suas mentes.
Conheceram-se na escola, no final do verão, antes das aulas começarem de fato.
Alguns alunos mais velhos organizaram jogos para os alunos mais novos, apenas para que os novatos se entrosassem.
Gerard tinha quinze anos.
Frank tinha quatorze, para fazer quinze em dois meses.
O ano era 2007.
Frank foi o primeiro a falar, sentando-se inesperadamente ao lado dele na fogueira – Gerard costumava ser muito tímido – contou à ele que seus pais haviam dirigido todo o caminho de Jersey até a Califórnia de carro, pois não haviam lidado muito bem com a ideia de seu único filho estudar do outro lado do país, e não em algum colégio público perto de casa.
"Por que não um avião?" Way perguntou, amassando o copo de refrigerante em sua mão, estava nervoso.
"Acharam que seria mais econômico." Ele respondeu, com uma dose elevada de falso mal humor. Havia adorado aquela viagem.
Gerard sorriu para ele, com seus olhos que não paravam de piscar – estava genuinamente ansioso – aquele era um rapaz tão bonito. Gostava de seu corte de cabelo, sidecuts vermelhos com uma franja preta bem arrumada na testa. "O Novo México é mais perto daqui, eu suponho. Apenas me colocaram no avião."
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still there, sometimes ✝ frerard
Romanceonde frank é um demonologo e gerard é um professor de artes no ensino médio. inesperadamente, frank é admitido para dar aulas de religião na escola, sem saber que seu ex, o qual havia traído anos atrás, estaria trabalhando lá. [+18 e contém menções...