📓: le coffee

76 7 183
                                    

Gerard não se arrumou para encontrá-lo, foi com as roupas que usou o dia inteiro na escola. Não estava buscando impressiona-lo de qualquer maneira.

Primeiro, pegou seu carro e comprou um calmante na farmácia. Depois de ingerido, dirigiu até o café.

Ele estava . E vestia uma roupa diferente. Ele sim estava querendo agradar. Quão comovente. Way revirou os olhos.

Eram seis e trinta. Gerard estava meia hora atrasado.

Entrou no estabelecimento despretensiosamente e foi direto para a bancada, onde pediu um café com leite e açúcar para si mesmo, Frank já estava servido com sua própria bebida, cocoa, se sua memória não lhe pregasse peças, era o café preferido dele.

Caminhou até a mesa e se sentou, com um braço esticado sobre a mesma. Queria parecer despojado. De certa maneira, o calmante o estava deixando mais relaxado.

A irritação não era diminuta apesar disso, pois Frank continuava com aqueles mesmos olhos infelizes.

Que criatura miserável ele havia se tornado. "Então é isso, vamos ficar sentados aqui sem falar nada?!" Seu tom de voz saiu inesperadamente rude, tossiu para si mesmo ao ver a expressão culpada dele e adocicou sua voz. "Por que história? E por que demonologia?" Mudou o tópico subitamente.

Ele deu de ombros. "Não é uma área muito pesquisada. Meu orientador me indicou vagas, e eu aceitei, acabei gostando no fim das contas. Sobre história, eu só... você sabe, espero que ainda se lembre... do quanto eu gostava de história antiga."

É claro que se lembrava. Gastou todas as suas economias no segundo ano para dar à ele um livro de cinco mil páginas sobre a Ásia medieval. Deixou de lado sua tão sonhada mesa de desenhos para dá-lo esse presente tão estimado.

"Hum..." Gerard murmurou. "Belas Artes foi a minha escolha de curso, você sabe, era óbvio. Eu gostava de desenhar. Mas falando de passado, você chegou a me pedir em casamento na época, se lembra disso?" Havia um certo cinismo escondido em suas palavras.

Frank abaixou a xícara e deixou alguns fios de cabelo cobrirem seu rosto. "Foi em um parque, durante a primavera. Você fez um desenho de mim. Eu te fiz beber um copo de Whisky barato, e você sentiu a aliança na ponta da língua." Ele levantou o olhar com timidez. "Você estava tão feliz."

Gerard se lembrou das palavras de Katia. Sobre manipula-lo, faze-lo pensar que estava tudo bem, e então cravar uma faca em suas costas o mais profundamente possível. Era estranho. Ele se via plenamente capaz de realizar esse ato, tamanha fúria que sentia daquele coitadismo.

O fazia lembrar de si mesmo. Bêbado, em seu quarto na casa de seus pais antes de se mudar. Balançando-se de um lado para o outro, batendo-se nas paredes, pressionando o peito para tentar fazer a dor ir embora em meio à lágrimas que não paravam de cair.

Foram tempos tortuosos.

O que Frank sentia, exatamente? Vergonha por ter sido pego? Era um boçal. Um completo boçal, e não merecia uma única fatia de empatia.

"Eu disse sim e nós fodemos por uma hora inteira na minha cama." Não se importava em ser chulo, aquele era o ingrediente principal do que desejava. Frank corou como um virgem, verdadeiramente como um virgem, como se jamais houvesse escutado palavras tão sujas, como se tivesse se esquecido das palavras que eram murmuradas em seu ouvido durante aquelas quentes noites de amor; ele bebericou o resto de seu café como se quisesse se esconder. Um jovem rapaz trouxe o café de Gerard e o colocou sob uma xícara na mesa – disse obrigado e seguiu com suas bobagens profanas. "Não consigo entender a razão de tantos espasmos. O que deu em você?"

still there, sometimes ✝ frerardOnde histórias criam vida. Descubra agora