Capital, Casa Elendil
Dias Depois
A noite as ruas da cidade pareciam mais frias do que de costume e o perfume das thunbergias quase não chegavam até Thalassa.
Do telhado onde estava, em frente ao estabelecimento que hospedava os comerciantes nômades que visitavam a cada estação, a Ceifadora agradeceu pela roupa quente que usava e a máscara que deixava apenas seus olhos à mostra. Atrás dela, distante o suficiente para ser capaz de enxergar apenas o topo da colina, a jovem sabia que um homem solitário devia estar tocando arpa naquele momento.
Ignorando esse conhecimento, como vinha fazendo nos últimos dias, Thalassa deu mais uma olhada na rua antes de saltar para o parapeito vizinho.
Ficando pendurada por um detalhe, sorriu com a adrenalina e ficou de pé na sacada de mármore, sacudindo o pó inexistente da roupa.
Escondida perto da janela, ela acompanhou a sombra cambaleante, refletida pelas velas, do Arfiniano que lhe vendeu a máscara rubi. Constrangida por sua incapacidade de reconhecer os próprios pertences, a Ceifadora esperou por semanas pela volta dele a fim de conseguir informações sobre o enfeite.
Os incontáveis cartazes espalhados pelo continente com o seu rosto estampado nele a impossibilitaram de sair das sombras, o que apenas facilitou sua busca. As pessoas para quem pediu — e arrancou — informações eram as fontes à beira da sociedade, tão ferradas e dispostas a esconderem suas identidades quanto a própria Thalassa. Elas entregavam o que a Ceifadora procurava e podiam continuar livres para lidar com seus negócios.
Era uma simples troca de favores.
Foi em uma dessas barganhas que a jovem herdeira descobriu tudo a respeito do comerciante. Suas visitas periódicas à família que vivia no interior, com as três filhas pequenas, esposa e mãe idosa completamente dependentes do dinheiro que o Arminiano enviava. Uma típica família pobre da Casta Cinco que trocariam até os calções por um prato de comida vencida.
Thalassa sorriu levemente.
Ele era um homem trabalhador, admitia. Não era honesto, como veio a descobrir, mas trabalhador.Como ele possuía um objeto Ceifador?
Isso era o que Thalassa planejava descobrir, desejando que o envolvimento dele com o Exército não passasse de coincidência. Caso contrário, não haveria mais família para ele visitar.
Podendo ver o momento exato em que ele caiu com um baque seco na cama, após horas bebendo no bar do primeiro piso, Thalassa destravou a tranca da janela com um movimento limpo de suas adagas contra a madeira maciça. Ela queria ele sóbrio, nem que precisasse afogá-lo na banheira até conseguir sua consciência de volta.
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𝑽𝒆𝒏𝒕𝒐 𝒆 𝑨𝒔𝒂𝒔 - Em Revisão
FantasyAs Crônicas de Selmor e Sigor - Conto I Quando tudo o que Thalassa conhecia é destruído, resta-lhe apenas... recomeçar. Treinada para ser mais uma arma no exército de Beril, pouco ela sabia além da sobrevivência. Seus conceitos e princípios a prepar...