Semanas Depois
Lirael quase desabou da escada ao avistar Thalassa cruzando a soleira da porta principal, parecendo a mesma Ceifadora de sempre. Longe da versão inanimada que passou dias trancada no quarto, impedindo que qualquer pessoa entrasse. Os únicos momentos em que a viu após sua conversa foram os relances de sua figura magra sob as cobertas todas as vezes em que trazia o jantar.
Depois do seu retorno à cidade, Thalassa desapareceu completamente dentro de si. Não importava o que ele fizesse. Ainda agora, quando o Narfin fitava seus olhos, uma parte vital dela parecia faltar.
Ao contrário dele, que havia contado mais do que deveria sobre sua vida a uma estranha, a Ceifadora pouco revelou a Lirael. E quando o fez deixou um emaranhado de informações incompletas que de alguma forma pareciam não se encaixar.
Observando-a tomar coragem para falar, ele prendeu a respiração.
— Irei embora.
O chão aos pés de Lirael desabou.
Ele não era ingênuo e sabia a muito tempo que esse momento chegaria, mas não conseguiu evitar a surpresa diante da mudança repentina.
Os dias pareciam mais leves com a presença de Thalassa, por mais inusitado que parecesse, e ele adorava isso. A familiaridade que criaram, os hábitos que formaram. Tudo parecia girar em torno daquela amizade estranha.
Piscando para o nada, ele a encarou.
— Entendo — pigarreou, tentando dissipar a sua confusão mental — Quando?
— Agora.
Fingindo naturalidade, o Narfiniano acenou com a cabeça. Um bolo apertando sua garganta e forçando-o a buscar apoio no corrimão ao seu lado.
— Entendo.
Ele desejou bater em si mesmo.
O que estava acontecendo com ele?
Encarando em silêncio a figura pequena demais, mas tão letal quanto os dragões que a muito existiram, Lirael desejou mais do que nunca tocá-la. Diante dela seu coração doeu, estando próxima e ainda assim distante demais.
Algo dentro do jovem, por um longo tempo enterrado, agitou-se e subiu à superfície ansiando por ar.
Ele estava arruinado.
— Lirael — a voz suave de Thalassa soou próxima — Você está bem?
Fitando a Ceifadora agora a alguns centímetros de distância, parecendo tão perdida quanto ele, tentou despertar de sua mente caótica. Repreendendo-se por seu desejo egoísta em prendê-la a si, quando o coração dela sangrava em luto e ansiava por liberdade.
Assentindo levemente, ficou feliz em ver a preocupação dela desaparecer um pouco.
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𝑽𝒆𝒏𝒕𝒐 𝒆 𝑨𝒔𝒂𝒔 - Em Revisão
FantasiAs Crônicas de Selmor e Sigor - Conto I Quando tudo o que Thalassa conhecia é destruído, resta-lhe apenas... recomeçar. Treinada para ser mais uma arma no exército de Beril, pouco ela sabia além da sobrevivência. Seus conceitos e princípios a prepar...