Terras de Beril, Casa Elendil
Ano 2530 d.cThalassa Eros havia morrido.
Ao menos essa era a única razão plausível para ela encontrar-se naquele quarto digno dos Lordes das casas de Beril. Os travesseiros macios abraçavam seu corpo e os lençóis de seda branca contrastavam contra sua pele oliva, fazendo cócegas. O cômodo por inteiro parecia irradiar luz própria, tamanha a beleza das paredes de mármore e ouro.
Memórias inundaram sua mente conforme tomava de volta sua consciência.
Lembrava-se de adentrar nas fronteiras de Elendil, a Casa da Luz, em segurança, após despistar as Ceifadoras, vagando sem destino iminente, preocupada com o que deixara para trás. Fora uma decisão difícil, abandonar tudo o que conhecia ao desertar para sempre. Ela apenas poderia andar novamente entre seu povo morta, carregada pelas soldadas que um dia chamou de irmãs e atualmente a caçavam vorazmente.
Alarmada, confirmou sua não morte quando a ferida nas suas costas ardeu com o movimento ao ficar de pé. Questionou-se como continuava viva após a queda que sofreu devido a uma flecha atingir suas asas, impedindo que continuasse a fuga. Durante dias evitou voar, mantendo-se no chão, mas se locomover pelas estradas em uma Casa onde quase toda a população cortava os ares era ainda mais suspeito do que ela ser vista pelos céus. Seu plano era voar o mais rápido que conseguisse, sendo apenas um borrão negro.
Porém, uma flecha a encontrou.
Uma única flecha.Thalassa ignorou a fina camisola que vestia e procurou pela chave pendurada em seu pescoço, aliviada ao encontrá-la intacta. Caminhando até a mesa de centro onde uma vasilha de porcelana branca mantinha quente uma sopa. O cheiro divino despertou seus sentidos e o estômago vazio gritou em protesto.
Quanto tempo fiquei desacordada?
Resistindo a tentação de devorar tudo o que via pela frente, dirigiu sua atenção ao bilhete que fora deixado ao lado. Thalassa segurou o papel de qualidade extraordinária, macio sob o toque, e tentou decifrar as letras de um cursivo irritantemente perfeito, que pareciam se misturar umas sobre as outras. Maldita ignorância. Ela era um soldado, não um… erudito.
Ela precisava sair dali sem chamar atenção indesejada ou, já que não morreu com o último incidente, pelo menos tentar sair viva.
Quem quer que seja a pessoa que levou Thalassa para lá certificou-se de sumir com qualquer arma em potencial. Sentindo a adrenalina invadir seu corpo, a jovem Ceifadora iniciou sua busca por algo que pudesse usar. Abrindo cada gaveta e armário, encontrando as mais diversas roupas femininas e joias que eram de um estilo fluido, adornados com belíssimos acessórios.
Seus olhos pararam em um colar particular, onde fragmentos pontiagudos caiam em forma de cascata. Arrancando o maior deles, um sorriso iluminou seu rosto conforme testava o peso de uma mão para a outra.
Ela sairia dali.
CONTINUA...
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𝑽𝒆𝒏𝒕𝒐 𝒆 𝑨𝒔𝒂𝒔 - Em Revisão
FantasiAs Crônicas de Selmor e Sigor - Conto I Quando tudo o que Thalassa conhecia é destruído, resta-lhe apenas... recomeçar. Treinada para ser mais uma arma no exército de Beril, pouco ela sabia além da sobrevivência. Seus conceitos e princípios a prepar...