Saltitantes, Eles Choram
Biblioteca Vonstein
Cinco meses depoisSegurando o livro firmemente entre as mãos, Thalassa desejou morar naquelas páginas. Suspirando diante da história que acabara de ler, ela agradecia por ter aceitado o presente de Lirael. A biblioteca pessoal dos Vonstein ocupava uma ala inteira e ela tinha todo aquele acervo ao seu dispor.
Os mundos escondidos nos livros podiam tornar a vida menos miserável. Seu coração doeu ao lembrar que suas irmãs nunca saberiam o que era isso.
— Já é a terceira vez essa semana que você lê esse livro, querida.
Levantando o olhar para o visitante, Thalassa sentou-se corretamente no sofá.
De pé, usando trajes leves em um azul claro como o céu, o Narfin parecia ter recém acordado. Os cabelos em uma completa bagunça cacheada e a face corada demais mostravam que ele só podia estar voltando de algum voo ao redor da montanha.
Nos últimos dias suas saídas se tornaram cada vez mais distantes, desbravando tudo o que tinha sido proibido a ele. Algumas vezes eles arriscavam voar juntos, em outras ele aproveitava sozinho o bom tempo para passar horas fora. Lirael voltava exausto, mas sempre com um sorriso satisfeito no rosto.
A Ceifadora não conseguia impedir o seu próprio sorriso diante da alegria dele.
— Não paro de comparar o menino da história comigo mesma — deu de ombros — Ele conheceu o universo inteiro de uma forma tão simples. Pulando de planeta em planeta.
— Ele é fruto da imaginação de alguém, Thalassa.
Sentando ao lado dela, Lirael cutucou as guloseimas na mesa de centro fingindo procurar algo e desistindo no mesmo instante em que ela o olhou rabugenta pelo comentário.
Apoiando a cabeça em um dos braços, ele voltou sua atenção a ela.
— Apenas concentre-se na lição que o autor quer passar.
Thalassa revirou os olhos e de repente ficou assustada com a rapidez com que eles se aproximaram.Momentos como aquele se tornaram cada vez mais frequentes ao ponto de ela ser a primeira pessoa que Lirael procurava ao acordar. Isso talvez se deva ao fato dele ter passado a vida inteira na companhia precária de sua ama que pouco mostrava seu rosto pela casa, porém, ainda assim, era uma situação inesperada.
Afastando o pensamento daquela amizade improvável, lembrou-se que em breve ela estaria indo embora. Recentemente as Ceifadoras diminuíram as rondas, pareciam até mesmo terem desistido de procurá-la, o que tornava o momento perfeito para Thalassa encontrar um lugar a fim de se estabelecer.
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𝑽𝒆𝒏𝒕𝒐 𝒆 𝑨𝒔𝒂𝒔 - Em Revisão
FantasíaAs Crônicas de Selmor e Sigor - Conto I Quando tudo o que Thalassa conhecia é destruído, resta-lhe apenas... recomeçar. Treinada para ser mais uma arma no exército de Beril, pouco ela sabia além da sobrevivência. Seus conceitos e princípios a prepar...