25. (Não) seguindo o roteiro.

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Raven subiu as escadas do pedestal. Ela queria confiar no que Giles Grimm havia afirmado (em Xaradêz), mas podia? O risco era grande demais? Uma história era mais importante do que qualquer pessoa?

Raven continuou subindo.

Do outro lado da escada, descendo, Ashlynn parecia como se tivesse engolido uma abóbora inteira. O arrependimento parecia escorrer dela em faixas escuras. Ela olhava para Hunter, que aguardava sua vez atrás de Raven, com o queixo tremendo e os olhos cheios de lágrimas perfeitas de princesa.

Ashlynn e Hunter. Secretamente, desesperadamente apaixonados.

Raven balançou a cabeça. Isso era cruel! Exigir que os adolescentes renunciassem aos próprios sonhos, condenando-os às mesmas vidas de seus pais. Até mesmo prender eles nas boas histórias era desumano. Que tipo de vida não tinha escolhas?

Raven sentiu a capa de sua mãe esvoaçar ao seu redor a cada passo, e imaginou sua própria mãe subindo essas escadas anos atrás. Será que ela também estava hesitante em se tornar a Rainha Má? Mesmo que estivesse, ela assinou o Livro das Lendas de qualquer forma. Raven havia visto sua assinatura no Livro das Lendas naquele dia no escritório de Grimm.

Espera! Sua mãe havia assinado para ser a Rainha Má na história da Branca de Neve. Então, quando ela saiu do roteiro e tentou tomar conta de outras histórias, a magia vinculativa do livro deveria tê-la parado. Mas não o fez. Havia provas de que o Livro das Lendas funcionava de maneira diferente do que Milton Grimm havia dito.

Era uma farsa, disse Giles Grimm.

Raven olhou para Milton Grimm sentado na primeira fila, de braços cruzados, tão satisfeito com seu controle absoluto.

Apple estava acenando para o público, que ainda estava de pé, aplaudindo-a. Raven fez a curta, mas surpreendentemente difícil, viagem até o topo do pedestal.

"Estou tão orgulhosa de você," disse Apple, apertando a mão de Raven antes de se afastar do pódio.

Raven suspirou e subiu ao pódio. Os aplausos cessaram como se alguém tivesse desligado um interruptor. Ela nunca se sentiu tão observada. Seus pés pareciam blocos de gelo.

"Eu sou Raven Queen, filha da Rainha Má." Sua voz reverberava contra o castelo de pedra. "E eu prometo—eu prometo—"

Apple estava olhando para ela, cheia de confiança e afeição amigável. Tudo seria muito mais fácil se ela apenas concordasse com o que Apple queria, o que o Diretor Grimm queria. Apenas desempenhasse seu papel.

Raven engoliu em seco. Ela respirou fundo.

"Eu sou Raven Queen, e estou pronta para prometer meu destino."

No ar diante dela, apareceu uma chave. Cinza aço e roxo roxo.

Ela a pegou do ar e sentiu o frio do metal queimar seus dedos. Ela a deslizou na fechadura e girou.

O livro se abriu para a página com seu nome, mas agora estava ilustrado com uma imagem dela mesma como ela estava naquele Dia do Legado.

A imagem se animou. Raven viu a si mesma olhando para um espelho, nada no mundo mais importante do que seu próprio rosto, sua própria beleza singular. Como sua mãe costumava fazer. Avançou rapidamente para um castelo, espelhos, feitiços mágicos, uma maçã envenenada, Apple mordendo, seu rosto ainda mais pálido e seus lábios azuis, anões chorando e Raven rindo, rindo, como se fosse tudo uma piada hilária.

Aparentemente, seu destino não era mais apenas a história da Branca de Neve, porque o livro mostrava Raven ultrapassando os limites, assim como sua mãe havia feito. Raven afastou a Fada Má da história da Bela Adormecida para mostrar a ela como se faz. Nevermore se transformou em um dragão aterrorizante sob seu comando, e juntos atacaram o jovem príncipe que tentava invadir o castelo adormecido. A onda de poder que ela sentiu era intoxicante. Ela mergulhou em mais histórias, tentando destruir mais vidas, escravizando o maior número de pessoas que pudesse, para que elas pudessem sofrer tanto quanto ela. Se Raven não pudesse ter liberdade, então ninguém deveria!

Raven olhou para o livro e para o pequeno espelho suspenso diante do pódio. Ela viu seu reflexo, com olhos incertos e amedrontados, começar a mudar. Agora seu reflexo era uma imagem dela mesma muitos anos mais velha, com os olhos cheios de ódio. Ela parecia linda e tão parecida com sua mãe que sentiu calafrios.

"Essa não sou eu," pensou Raven. "Essa não sou eu." A raiva ferveu dentro de Raven. Ela não gostava de se sentir presa, como quando sua mãe costumava trancá-la em seu quarto como punição por ser gentil. Grimm era como sua própria mãe, tentando forçá-la a ser má. Devia haver um caminho melhor.

Raven olhou novamente para Ashlynn, com o queixo tremendo. E Hunter, que estava rígido nas escadas abaixo, esperando sua vez de se condenar a uma história em que seu amor por Ashlynn era proibido. E Cerise, curvada, escondendo algo que a tornava uma excluída nesse mundo de perfeição e destino.

Os olhos de Raven se fixaram em Maddie em busca de confiança. Maddie lhe deu um grande sorriso e um sinal positivo. Earl Grey, o ratinho, se levantou em seu ombro e acenou.

Raven endireitou os ombros e ergueu o queixo na postura adequada do Dia do Legado, exatamente como o Diretor Grimm havia ensinado. Ela sentiu uma confiança que nunca conhecera—não aquela confiança de Rainha Má, uma feiticeira das trevas apoiada por seu exército de lacaios. Não, era uma confiança de Raven Queen, uma garota que de repente sabia que a escolha que estava prestes a fazer era a certa. Afinal, ela percebeu, a própria escolha era o tipo mais poderoso de magia.

"Eu sou Raven Queen, e vou escrever meu próprio destino. Meu Felizes Para Sempre começa agora!"

Com a caneta, ela riscou sua página, com duas grossas e espessas pinceladas de tinta. E, para garantir, arrancou a página. O rasgar do papel soou como um novo começo.

The storybook of legendsOnde histórias criam vida. Descubra agora