[08] Palavras tomadas pelo desespero

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Quando as portas do trem se fecharam e Jimin caminhou até sua cabine às pressas, apenas para ver Nari uma última vez antes de partir. Pela grande janela era possível ver a criança chorando enquanto tentava descer do colo de Aquiles. Seu rosto vermelho e suas mãozinhas chamando em direção ao trem, na expectativa de seu pai voltar para pegá-la. Jimin sentiu o aperto em seu peito se intensificar, mesmo que fosse apenas por um curto período de tempo, ele precisava ser forte e não deixar sua vontade maior de descer daquele trem e acalmar sua filhote.

Desde que acordaram, Nari ainda estava alheia sobre a partida do ômega e somente quando chegaram na estação e Jimin passou-a para o irmão depois de várias palavras doces, foi quando a garotinha viu o progenitor se afastar e ela ficar. Eles nunca haviam se separado por muito tempo e essa seria a primeira vez que fariam isso, nenhum dos dois sabiam como lidar com isso.

Aquiles tenta seu melhor para acalmar a sobrinha, que se agarrou em seu ombro molhando sua blusa enquanto chorava. Jimin enxugava seus olhos, querendo que a neblina de lágrimas sumisse e conseguisse olhar melhor para os dois do lado de fora. Aquiles viu o irmão e acenou para ele, como se dissesse que tudo ficaria bem.

Jimin repetiu para si mesmo que essa seria a primeira e última vez que ele e sua filhote ficariam longe um do outro. Tudo estaria resolvido em breve, ele não precisaria mais se preocupar com Hyunki e poderia viver como se ele nunca tivesse existido.

Quando o trem deu partida, ele encostou-se contra a janela e deixou que seus pensamentos começassem a se perder junto da paisagem do lado de fora. Essa seria sua segunda viagem para Fairbanks e era engraçado pensar que a primeira ele foi obrigado a se casar e agora estava indo se divorciar. O sentimento que sentiu em ambas viagens eram distintos ao mesmo tempo que semelhantes. O medo que sentiu ao deixar tudo que conhecia e a pessoa que havia depositado todo seu amor, sem saber algum dia se o encontraria novamente. Jimin queria que Jungkook fosse tanto a primeira quanto a última pessoa que teria que entregar seu coração e corpo, mas no fim apenas seu coração permaneceu intacto dessa vontade.

Mesmo depois que se casou e todas as noites que passou com Hyunki, ele não conseguiu deixar de pensar em nenhuma delas na vez que foi Jungkook ali com ele. Mesmo que fosse outro alfa em cima de si, o único em seus pensamentos era o seu primeiro. Não houve um dia de culpa por pensar nisso, apenas lamentações. Mesmo quando Jimin tentou deixar Hyunki entrar em seu coração, o estrago que fez ali foi doloroso o suficiente para que carregasse o arrependimento.

Seu ômega havia se fechado em uma concha, onde o tempo havia parado nas lembranças com o único alfa que amou, então quando Jimin deixou que aquela concha fosse aberta, ele expôs sua segunda metade ao caos que não teve como não pingar por toda a casca depois.

Mergulhado em letargia, tudo ao redor perdeu seu som e forma. Seus pensamentos sempre o torturava com as lembranças do passado, por mais que fossem um jeito de se agarrar a bons momentos, nada mais era do que uma ferramenta de tortura. Lembrar do que teve e que não poderia ter mais. Para muitos isso é um ponto de se manter são, pois tem um ponto de esperança de voltar a acontecer. Para poucos, isso nada mais é do que sua tortura diária, lembrando-o que aquilo nunca poderia ser de fato seu.

Mergulhando em seu desânimo e cansaço mental, Jimin permitiu-se torturar um pouco mais em sonhos. Nas memórias que seriam apenas isso, vagas memórias.

Quando finalmente conseguiu estudar na mesma escola que Aquiles e Jungkook estudavam, Jimin lamentou apenas que seria o último ano dos dois mais velhos, antes de se formarem. Sua ilusão, foi pensar que ele conseguiria ficar ao lado do irmão sempre que pudesse, mas foi bem diferente do que imaginou.

SEM SAÍDA | Jikook (ABO)Onde histórias criam vida. Descubra agora