Capítulo 4: Ciumes

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A semana de aulas passou em um borrão de cochichos e olhares curiosos. A notícia de que eu, Catra, havia convidado Adora para o baile já estava circulando pelos corredores como fogo em mato seco. Os sussurros e os olhares de surpresa eram impossíveis de ignorar. Claro que eu faria algo inesperado. Eu sempre faço.

No sábado de manhã, passei horas arrumando meu quarto, que ficou uma zona durante a semana. Fiquei tão entretida com isso que, quando dei por mim, já era 8h. Precisava me arrumar, já que Adora ficou de vir aqui. Escolhi a roupa perfeita: algo que mostrasse que eu estava fazendo um esforço, mas não demais.

Não demorou muito pra eu recebe uma mensagem da Adora avisando que estava vindo,Desci as escadas, encontrando mamãe no sofá, assistindo a algo aleatório na TV.

Ela olhou para mim, seu rosto se iluminando um pouco.

— Bom dia, Catra. — disse ela, com um sorriso. — Vai sair?

— Bom dia. — respondi, mantendo o tom indiferente. — Vou sair com uma... amiga.

Seus olhos estreitaram-se levemente, seu olhar preocupado se intensificando.

— Amiga? Quem é essa amiga? E para onde vocês vão?

Suspirei, tentando manter a calma. Sua proteção sufocante era algo que sempre nos colocava em atrito.

— É só uma colega da escola, mãe. Vamos ao shopping escolher roupas para o baile.

Ela continuou me olhando, claramente desconfiada, mas assentiu.

— Certo. Só tome cuidado, está bem? E me avise se precisar de alguma coisa.

— Eu sei. — disse, virando-me para a porta ao ouvir uma buzina, me salvando antes que ela pudesse fazer mais perguntas.

Quando cheguei ao portão, lá estava Adora, encostada em uma moto branca. Claro que tinha que ser uma moto.

— Pronta? — ela perguntou, com um sorriso tímido.

— Sério, Adora? Uma moto? — respondi, cruzando os braços. — E o que vou fazer com o meu cabelo? O capacete vai amassar tudo!

— É o que eu tenho, Catra. Não sabia que isso seria um problema. — ela disse, o sorriso desaparecendo. — Podemos deixar para outro dia, se preferir.

Revirei os olhos. Claro, eu precisava deixar tudo mais difícil.

— Tudo bem, vamos logo com isso. — respondi, pegando o capacete com relutância. — Só não estrague meu cabelo mais do que o necessário.

A viagem foi silenciosa, com o vento bagunçando meus pensamentos. Quando finalmente chegamos ao shopping, tirei o capacete, tentando ajeitar meu cabelo o melhor que podia.

— Como está meu cabelo? — perguntei, olhando para Adora.

— Tá normal, relaxa. — ela respondeu, meio impaciente, mas ignorei isso dela. — Então, já tem algo em mente para o que vai usar?

— Não muito. — admiti. — Talvez algo elegante, mas não muito formal. Quero estar perfeita, mas confortável.

Adora assentiu.

— Faz sentido. Eu... também quero algo assim. Não estou muito acostumada a essas coisas de baile.

— Bem, está comigo. Vou escolher algo para você — disse, tentando soar confiante. — Algo que não pareça que você saiu de um filme medieval.

Ela riu, relaxando um pouco a tensão entre nós.

Começamos a explorar as lojas. A princípio, parecia uma tarefa impossível — cada loja tinha algo que não combinava nem comigo, nem com Adora. Depois de algumas tentativas frustradas, finalmente encontramos uma boutique que parecia promissora.

— E este? — perguntei, segurando um vestido branco com detalhes dourados. — Isso pode funcionar para você.

Adora olhou o vestido e, para minha surpresa, assentiu.

— Acho que vou experimentar. — ela disse, pegando o vestido.

Enquanto ela estava no provador, escolhi um vestido vermelho para mim — algo que destacava meus pontos fortes, mas não muito vulgar. Assim que o vesti, percebi que era perfeito, cada detalhe dele se encaixou, a abertura nas costas, o detalhe que ficou em minha cintura e seios como se fosse feito para mim.

— Catra, o que você acha? — abri as cortinas do provador apenas o suficiente para colocar a cabeça para fora.

Adora parecia outra pessoa no vestido branco com dourado. Estava elegante e radiante, algo que eu não esperava.

— Você está... diferente. — disse, tentando esconder meu choque.

— Diferente bom ou diferente ruim? — ela perguntou, arqueando uma sobrancelha e finalmente olhando para mim.

— Diferente bom. — admiti, sentindo uma estranha sensação de admiração. — E você? O que acha do meu?

Abri as cortinas do meu provador, dando uma voltinha, fazendo-a me olhar de cima a baixo, claramente surpresa e um pouco tímida. Suas bochechas ficaram vermelhas.

— Você está... bonita. — ela disse, evitando meus olhos.

— Bonita? — repeti, olhando para seu rosto. — É só isso que você tem a dizer?

Adora pareceu um pouco intimidada pela minha reação, coçando atrás do pescoço e ficando ainda mais vermelha.

— É...

Antes que ela pudesse terminar, uma vendedora apareceu do nada, interrompendo a conversa.

— Uau, esse vestido fica maravilhoso em você! — disse a vendedora, sorrindo amplamente para Adora. — Realmente destaca sua beleza.

Revirei os olhos para a vendedora, sentindo uma raiva me invadir. Antes que pudesse me controlar, fechei as cortinas de volta com um puxão, sinceramente não sei por que fiz isso.

Vesti minha roupa e saí do provador, dando de cara com Adora ainda conversando com a atendente.

— Você é a Capitã Horda, não é? — perguntou a vendedora, com um sorriso que parecia mais interessado do que profissional. — Não lembrava de você ser tão alta e linda.

Mas que tipo de atendimento é esse? Adora deu um sorriso constrangido, percebendo só agora que a vendedora estava claramente tentando dar encima daquela tapada.

— Adora — falei, com um tom que claramente demonstrava meu descontentamento — vá se trocar para irmos.

Adora me lançou um olhar de surpresa, mas não disse nada. Com um murmúrio de desculpas para a vendedora, ela se dirigiu para o provador. A vendedora parecia um pouco desconcertada com minha intervenção, e dei um sorriso amarelo para ela, que arqueou as sobrancelhas, se virando e indo para qualquer outro lugar.

— Você está atraindo muitos olhares hoje, não é? — falei para Adora assim que saiu do provador.

Adora se aproximou, seu tom de voz se tornando mais suave e sedutor.

— Relaxa, você não precisa ficar tão irritada. Afinal, é apenas um pouco de atenção extra. — ela deixou a frase no ar, com um olhar que claramente estava se aproveitando do meu ciúme.

Aproveitando o momento, ela ajustou a roupa com um gesto elegante, como se estivesse ciente de todo o impacto que estava causando.

— Vamos, antes que você acabe puxando as cortinas novamente. — brincou ela, enquanto começávamos a caminhar para caixa.

— Mas que idiota. — murmurei, olhando para Adora e percebendo que estava me deixando levar pelo ciúme, e pior. Ciúmes de Adora.

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