capítulo 7

76 16 13
                                        

Tivemos que nos separar por causa do fôlego, Lynn me encara sem qualquer reação enquanto meu rosto está uma bagunça.
— Ambre — ela hesita um pouco — O que foi isso?
— A gente se beijou... — respondo, nervosa.
Lynn pousa uma mão em meu rosto, fazendo um carinho. Seus olhos parecem distantes.
— Eu não sei o que fazer agora — diz ela, com uma risada sem graça, retirando a mão.
— É, acho que foi — respondo, desanimada, sentando-me na cama e arrumando meus cabelos. — Bom... Eu já vou indo. Te vejo amanhã.
Na verdade, não me arrependi. Sentia um desejo crescente de estar perto de Lynn. Sair da casa dela foi como me sentir um nada.
Os dias seguintes foram de silêncio tenso entre nós. Evitávamos olhares prolongados e conversas profundas. Sentia um nó na garganta toda vez que lembrava daquele momento no calor daquele abraço. Lynn parecia distante, como se estivesse tentando processar tudo o que aconteceu.
Chegou o dia da corrida de orientação. Eu estava nos corredores conversando com Nathaniel.
— Nath, você não pode mesmo ir comigo? — insisti.
— Desculpa, Ambre. Este ano vou fazer parte da fiscalização. A diretora precisa de alguém para garantir que ninguém se perca como da última vez.
— Mas- — antes que pudesse rebater, Nathaniel segurou meus ombros e me virou contra ele.
— Sabe quem está sem dupla? A Lynn — apontou para a garota que conversava com um dos orientadores da corrida. — Soube que fez trabalho com ela. Vocês devem se dar bem agora que não brigam mais — sorriu, parecendo satisfeito consigo mesmo.
Olhei para ele incrédula.
— Uau, que irmão é esse que me joga para os outros? — Nathaniel não respondeu. — Tá tá, tô indo, seu chato.
Me distanciei dele e dei uma última olhada para trás, vendo seu sorriso maldoso reaparecer.
— E ainda se diz meu irmão...
— O que disse? — percebi que já estava perto de Lynn, que segurava uma prancheta.
— Nada... — olhei ao redor. — Lynn, você não está fazendo dupla com ninguém, certo?
— Ainda não. — Ela me olhou por alguns segundos. — Você quer fazer comigo, não é? — seus lábios se curvaram em um belo sorriso.
— S-Sim — respondi, tentando esconder meu nervosismo.
— Fico feliz. — Lynn falou baixo, quase murmurando. — Vou colocar nossos nomes então. — Ela começou a escrever na prancheta e se virou para mim. — Te vejo mais tarde então?
— Claro!
— Ok, até mais. — Ela se despediu, saindo do corredor.
Fiquei parada por alguns segundos, tentando processar o que acabara de acontecer. Lynn estava agindo como se nada tivesse acontecido, mas de alguma forma estava sendo mais doce comigo.
_______________
Mais tarde, eu e  Lynn estávamos vestindo o uniforme do passeio, que era um casaco, a tensão entre nós diminuiu gradualmente. Aos poucos, os olhares evitativos deram lugar a sorrisos tímidos e conversas que, embora superficiais, indicavam um esforço mútuo para superar o desconforto inicial.
— Meninas? — Nathaniel apareceu na porta da sala de aula — Ainda fico surpreso em ver vocês duas conversando normalmente — ele solta ar pelo nariz, sorrindo e olha para o relógio em seu pulso  — Bom, o professor pediu para irem até a entrada da escola, o ônibus está lá — avisa, saindo apressado ao ouvir alguém lhe chamando.
— Nossa, coitado, ele não tem paz — Lynn fala, fazendo uma expressão de pena
— Verdade, mas ele gosta de ser o representante — digo, dando um sorriso orgulhoso.
— Acho que nunca vou me acostumar em ver essas novas expressões faciais — Lynn da uma risada, enquanto olhava para o meu rosto atentamente.
— Nem é pra tanto — reviro os olhos, saindo da sala, e Lynn vem atrás.
Olho para o final do corredor, que dá visão para o pátio, uma multidão de alunos agitados nos aguarda.
____________________________
— Alunos, por favor, sentem-se em seus assentos — Professor Faraize pede. Ficando de costas logo em seguida para dar esporro na fileira da frente, que estavam tentando acertar salgadinhos na boca dos outros.
Ja que eu me sentei no meio, ao lado de Lynn, tenho uma visão boa dos dois lados, os alunos do fundo estão mexendo em alguns fios da caixa de som, que ainda não foi descoberta pelo professor.
— Não sei se sobrevivo 2 horas aqui dentro — franzi o cenho, observando o caos no ônibus
— Penso o mesmo — Alexy respondeu, sentando-se atrás de mim, com Armin vindo logo em seguida, distraído com um jogo em mãos, e sentando atrás de Lynn
— Alexy! — Lynn se vira — Não consegui te achar hoje mais cedo. Onde estava?
— O Armin enlouqueceu por que esqueceu o protetor solar em casa, esse idiota me fez ir com ele comprar. — ele bufa, encarando o irmão, que apenas o ignorou.
— Entendi...
— O ônibus irá partir, fiquem em seus lugares, por favor — Faraize deu um olhar mortal para todos que estavam no ônibus, sentando-se logo em seguida e colocando uma almofada em seu pescoço.
— Que medo... — Armin fala pela primeira vez.
— Aguentar a gente deve ser dureza — ouço Castiel rindo, e percebo que ele está ao nosso lado, sentado com Lysandre, que apenas concorda com ele.
Olho para ele de relance, e noto que sua atenção está direcionada para outro lugar. Sigo seu olhar, encontrando um loiro estressado em algumas cadeiras á frente.
— Castiel — chamo — Você brigou com meu irmão? — levanto uma sobrancelha.
— Hoje não — ele desvia o olhar — Por que?
— É que você tá olhando demais pra ele sabe — falo, com um sorriso malicioso.
— Da pra calar a boca?! — Castiel se exalta, fazendo com que vários alunos o olhassem.
— Se acalma princesinha — Rio, levando um tapa fraco de Lynn — Ai!
— Nem foi forte — ela zomba.
Castiel não percebeu que Lynn estava ao meu lado, ele tinha um ponto de interrogação enorme estampado na cara enquanto nos encarava.
— Qual foi? — Pergunto, levantando uma sobrancelha.
— Por que diabos vocês duas estão agindo como se fossem melhores amiga? O que eu perdi? — ele parece incrédulo
— Ah... — Lynn divaga — Acabamos que nos entendemos — Lynn me olha.
— Vocês duas estão tramando algo — ele cerra os olhos — Vou ficar de olho na duas... — desconfiado, ele pega um pacote de salgadinhos da mochila, oferecendo um pouco para Lysandre.
— Louco — Alexy fala, em um tom de julgamento.
— Aí tanto faz — Lynn se ajeita na poltrona, fechando os olhos — Me acorde quando chegarmos, apenas assenti.
Respiro fundo, colocando fones de ouvido e olho para a janela. Eventualmente, Lynn desliza a cabeça em minha direção, apoiando o rosto em meu ombro, murmurando algo. Fico desconcertada com a situação mas não me mexo, sinto seus braços se agarrarem aos meus, passando o resto da viagem assim.

Losing The Sun ~ AmbreOnde histórias criam vida. Descubra agora